Leonardo Boff abre Congresso Internacional de Direito Ambiental


‘A terra entrou em cheque especial é nós temos que cuidar dela’. O alerta foi dado pelo teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, ao abrir, nesta quarta-feira (12), o Congresso Internacional de Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, que está sendo realizado na Escola Superior Dom Helder Câmara. O encontro vai até sexta-feira (14) e reúne na capital mineira especialistas de vários países. O evento faz parte das comemorações do aniversário de 10 anos da Escola Superior Dom Helder Câmara, celebrado nesta quarta, dia 12 de setembro.

Em entrevista exclusiva ao portal Dom Total, Leonardo Boff falou sobre a Rio+20, o novo Código Florestal, sobre os ensinamentos de Dom Helder Câmara, de quem foi amigo próximo, e também da importância da educação no processo de mudança do paradigma atual.

“A escola tem sempre uma função enorme de passar adiante o saber que temos do passado, criar um novo saber e, hoje, ela tem que incorporar um elemento novo, que é a ecologia. Isto é, entender que nós temos uma única casa, que é o planeta terra. Casa essa que está em chamas. Todos os sinais entraram em vermelho. A própria terra entrou em cheque especial e nós temos que cuidar dela. Então os estudantes têm que incorporar esse valor de cuidar da água, do lixo, da planta, dos animais. Isso tem que ser um elemento de cultura”, ressaltou Boff.

Para o teólogo, que tem mais de 60 livros publicados, o principal desafio é manter um equilíbrio entre terra, humanidade e a civilização. Se isso não ocorrer, ‘o planeta pode entrar em degeneração’, colocando em risco a espécie humana. “Primeiro é preciso garantir a terra, depois a humanidade e a civilização da humanidade. Esse é o grande desafio em termos políticos, econômicos, em termos de um novo paradigma de civilização, que resolva essa equação, pois ela está totalmente desestruturada”.

Em seu pronunciamento, o reitor da Escola Superior Dom Helder Câmara, Paulo Umberto Stumpf, destacou o trabalho árduo em busca de excelência desenvolvido durante os dez anos de existência da instituição, única escola especializada em Direito e com mestrado em Direito Ambiental de Belo Horizonte. Paulo Umberto revelou que o processo para a criação do doutorado na área ambiental já está em andamento. “Uma instituição comunitária só pode ser obra de muitas mentes e corações e de trabalho e estudo de muitos homens e mulheres”, disse o reitor.

Rio+ 20 e código florestal

Sobre a Rio+ 20, Leonardo Boff lamentou o fato de os chefes de estado terem se preocupado só com as questões econômicas, deixando de lado o ‘principal’. “Protelaram para 2015 sabendo que podemos enfrentar grandes catástrofes ecológicas e sociais, especialmente ligada à degeneração da biodiversidade, à carência de água potável e à destruição fantástica de safras, o que poderá produzir grande fome no mundo”, alertou.

Leonardo Boff foi duro também com os termos previstos no texto do Novo Código Florestal (o texto ainda precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado até o dia 8 de outubro).

“O novo código florestal é uma das coisas que mais nos envergonham no mundo inteiro, porque ele é pensado do ponto de vista materialista, produtivista. Não vê a importância que uma floresta tem para o equilíbrio do clima, para a biodiversidade e para o regime de chuvas. Grande parte do equilíbrio da terra passa pelo Brasil”, ressaltou.

“Não podemos pensar em um código que apenas pergunta quanto podemos desflorestar para colocar gado, para colocar soja, quando a pergunta deveria ser como podemos colaborar para preservar o planeta, seus climas e a biodiversidade”.

Ensinamentos de Dom Helder

Leonardo Boff falou de Dom Helder Câmara com muito carinho. O teólogo foi amigo próximo do patrono da Escola. “Considero Dom Helder Câmara o profeta maior do terceiro mundo, um santo de verdade e um grande pastor, que cuidava dos mais pobres e dos invisíveis. Enfim, era um poeta que fazia o deserto florir”, disse.

Várias autoridades participaram da abertura do congresso. Entre elas, o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais Adriano Magalhães Chaves. Ele ressaltou a importância do direito nas questões ambientais e parabenizou a Escola Superior Dom Helder Câmara por proporcionar o debate com ‘visão de sustentabilidade’. “Para ter segurança nos nossos atos e para definirmos os caminhos a serem seguidos nós precisamos do Direito”, disse.

O Congresso prossegue nesta quinta-feira (13), com programação pela manhã, tarde e noite. Clique e confira o que será debatido.

Fonte: Da Redação