Brasil adere à Plataforma Internacional de Biodiversidade


A partir de agora, o Brasil faz parte, como associado, da Plataforma Internacional de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, na sigla em inglês), uma iniciativa global multilateral dedicada ao compartilhamento e disponibilização de dados sobre biodiversidade. Com isso, os arquivos brasileiros passam a integrar os dados de uma rede global que soma mais de 388 milhões de registros de espécies em mais de dez mil bancos de dados provenientes de 422 instituições.

A rede é composta por 58 países e 46 organizações que reúnem informações sobre a existência de espécies vegetais, animais e microrganismos registrados em herbários, museus, coleções zoológicas e microbianas, além de sistemas com dados de observação. Trata-se da maior iniciativa multilateral de acesso virtual a esse tipo de informação. A rede foi fundada em 2001 e tem sede em Copenhague, na Dinamarca.

Na América Latina, países como Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Nicarágua, Peru e Uruguai já integram o GBIF. A adesão do Brasil garante ao país a participação plena na publicação de dados e de projetos de capacitação. No entanto, ainda não contribui financeiramente e não possui direito de voto no Conselho de Administração do GBIF. O país se comprometeu a realizar os passos necessários para ter participação votante em cinco anos.

Coleções históricas

 

O secretário de Biodiversidade e Florestas (SBF) do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Cavalcanti, destaca que o GBIF está muito ligado ao conhecimento da nossa biodiversidade. “Essa adesão mostra a evolução do Brasil no cenário internacional, por ser um participante integral de uma das redes globais mais importantes de compartilhamento de informatizações sobre biodiversidade, que é uma via de mão dupla”, explica.

De acordo com o secretário, grande parte das coleções históricas sobre a diversidade biológica brasileira se encontra em museus e coleções internacionais, que refletem as grandes expedições científicas que vieram ao Brasil nos últimos 250 anos. “O próprio naturalista Charles Robert Darwin foi um dos cientistas eminentes que esteve no Brasil e fez coleções aqui. O GBIF nos dá acesso a informações oriundas dessas coleções e isso é fundamental para o planejamento da conservação”, exemplifica.

Tempo real

 

A organização dos dados, no Brasil, ocorre por meio do Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBr), uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O país abriga 15% da biodiversidade do planeta. Existem mais de 5 milhões de registros de amostras coletadas ou observadas no país, dos quais 2,3 milhões estão georreferenciados (têm suas coordenadas conhecidas em sistema de referência, disponíveis em tempo real). Eles estão prontos para integrar o banco de dados da Plataforma GBIF, que atua de acordo com os princípios da Convenção da Diversidade Biológica (CDB).

A analista ambiental Keila Macfadem Juarez, do Ministério do Meio Ambiente, explica que a grande vantagem para o país com a adesão ao GBIF é “garantir o acesso à infraestrutura e à tecnologia desenvolvidas para a interoperabilidade de dados em biodiversidade”. A interoperabilidade é a capacidade de um sistema, informatizado ou não, se comunicar de forma transparente com outro sistema.

O MMA tem-se empenhado, por meio de parcerias de âmbito global, no desenvolvimento de protocolos e padrões em biodiversidade, de forma a garantir a integridade científica e a interoperabilidade dos dados. Destaca-se o investimento já realizado, nos primeiros dez anos desta plataforma, de cerca de 300 milhões de euros. E algumas iniciativas já realizadas pelo MMA, como a de “Áreas Prioritárias para a Biodiversidade”, ganharão agilidade com a existência de uma plataforma que integre os dados de diversos pesquisadores.

Acervos abertos

 

Os dados do MMA farão parte dessa plataforma brasileira. Além disso, o GBIF desenvolveu ferramentas de análises dos dados que possibilitam, por exemplo, avaliar o impacto ambiental para espécies em determinada região, ou determinar a distribuição potencial de espécies ameaçadas. Essas e outras análises são essenciais na gestão da biodiversidade.

Carlos Alfredo Joly, coordenador do Programa Biota-Fapesp, esclarece que o acesso a essas ferramentas é de fundamental importância para a ciência brasileira, pois “permitirá, por exemplo, trabalhar com cenários de mudanças climáticas e as consequências disso na distribuição de espécies”. Além disso, a adesão traz um novo status para o Brasil e maior visibilidade aos acervos de museus, herbários e coleções brasileiras. “Essas informações ficam disponíveis para qualquer pessoa interessada em fazer pesquisa nessa área e não apenas a quem vai visitar as instituições”, explica Joly.

Ele lembra que o Brasil participou ativamente das discussões para a criação do GBIF, no fim dos anos 1990, e para a definição do modelo de informatização e gerenciamento da rede de dados. “O Biota-Fapesp foi criado na mesma época e todo o sistema de informação do Programa foi desenvolvido de forma a ser totalmente compatível e fácil de ser integrado ao GBIF”, finaliza Carlos Joly.

Fonte: MMA