Fungo é assassino silencioso das florestas britânicas


Simon Ellis está consternado: 50 mil árvores já foram destruídas em sua sementeira, e outros milhares serão afetados. O responsável é um fungo mortal, denominado "Chalara fraxinea", procedente do continente, que ameaça os 126 milhões de freixos das ilhas britânicas.

 

O primeiro alerta foi emitido no começo de 2012, quando o fungo foi detectado em plantas importadas. Mas sua descoberta na natureza no outono boreal provocou comoção em todo o país. Em alguns meses, foi detectado em 352 locais.

 

Este fungo se desenvolve nas folhas mortas caídas no chão. Em seguida, suas esporas são transportadas pelo vento e depositadas na folhagem do freixo e em alguns anos suas folhas murcham e a necrose invade seus galhos. Quanto mais jovem a árvore, mais rápido ela morre.

 

No inverno, a doença denominada chalaropse é latente. Mas com tempo bom, "vamos encontrá-la em todas as partes", explicou Simon Ellis, diretor-geral das sementeiras Crowders, no leste da Inglaterra, acusando as autoridades de ter reagido tarde demais. "A situação está totalmente fora de controle", disse.

 

O fungo é "capaz de devastar as paisagens britânicas", alertou a Woodland Trust, uma associação de luta pela proteção das florestas, que teme um "desastre ecológico".

 

O governo convocou no último outono boreal uma reunião "Cobra", reservada a situações de crise. As importações de freixos foram proibidas, assim como a circulação de sementes ou plantas pelo país. Cem mil árvores foram derrubadas.

 

A única esperança é, por enquanto, conter a doença e encontrar freixos resistentes "para reestruturar as florestas". Ninguém sabe como erradicar a doença, que surgiu pela primeira vez em 1992 na Polônia e afeta hoje 22 países onde os freixos são frequentes. Na Dinamarca já afetou 90% deste tipo de árvores.

 

Os ecologistas se preocupam também com os efeitos colaterais, pois estas árvores abrigam uma importante biodiversidade. Seu desaparecimento das florestas "teria repercussões no conjunto do ecossistema", confirmou um relatório governamental.

 

Mas como a "Chalara fraxinea" cruzou o Canal da Mancha? Cientistas acreditam que suas esporas tenham sido transportadas pelo vento ou por pássaros. Mas o fungo pode ter viajado mais do que se pensa: há especialistas que acreditam que ele possa vir do Japão ou da Coreia: um efeito da globalização.

 

"Um indivíduo ou uma comunidade podem perfeitamente procurar em uma sementeira europeia uma planta de freixo procedente da Ásia, aparentemente saudável, na qual o fungo está presente em estado latente", explicou Arnaud Dowdiw, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Agrônoma (INRA), na França.

 

"O problema é que as plantas ornamentais não estão submetidas à mesma regulamentação que as plantas florestais no que diz respeito à rastreabilidade e à origem geográfica", acrescentou.

 

Para ele, a luta contra a doença requer uma "verdadeira estratégia em escala europeia" e uma "concertação de todos", evitando soluções apressadas e "curar o mal com outro mal", como clonar as variedades resistentes, mas sem respeitar a diversidade genética.

Fonte: AFP