Modelos atuais de sustentabilidade e sua crítica


A pressão mundial sobre os governos e as empresas em razão da crescente degradação da natureza do clamor mundial acerca dos riscos que pesam sobre a vida humana fizeram com que todos encetassem esforços para conferir sustentabilidade ao desenvolvimento. A primeira tarefa foi começar a reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, organizar a produção de baixo carbono, tomar a sério os famosos três erres (r) enunciados na Carta da Terra: reduzir, reutilizar e reciclar os materiais usados: aos poucos foram acrescentados outros erres, como redistribuir os benefícios, rejeitar o consumismo, respeitar todos os seres e reflorestar o mais possível etc.

Muitas empresas e até redes delas como o Instituto Ethos de Responsabilidade Social (no Brasil reúne algumas centenas de empresas) se comprometeram com a responsabilidade social; a produção não deve apenas beneficiar os acionistas, mas toda a sociedade, especialmente aqueles estratos socialmente mais penalizados. Mas não basta a responsabilidade social, pois a sociedade não pode ser pensada sem a sua interface com a natureza, da qual é um subsistema e de cujos recursos as empresas vivem. Daí se introduziu a responsabilidade socioambiental, com programas que têm por objetivo diminuir a pressão que a atividade produtiva e industrialista faz sobre a natureza e sobre a Terra como um todo. As inovações tecnológicas mais suaves e ecoamigáveis ajudaram neste propósito, mas sem, entretanto, mudar o rumo do crescimento e do desenvolvimento que implica a dominação da natureza.

             

Não é possível um impacto ambiental zero, pois toda geração de energia cobra algum custo ambiental. De mais a mais, é irrealizável, em termos absolutos, dada a finitude da realidade e os efeitos da entropia, que significa o lento e irrefreável desgaste de energia. Mas pelo menos o esforço deve orientar-se no sentido de proteger a natureza, de agir em sinergia com seus ritmos e não apenas não fazer-lhe mal; importante é restaurar sua vitalidade, dar-lhe descanso e devolver mais do que dela temos tirado para que as reações futuras possam ver garantidas as reservas naturais e culturais para o seu bem-viver.

Vamos submeter a uma análise crítica os vários modelos atuais que buscam a sustentabilidade. Na maioria dos casos a sustentabilidade apresentada é mais aparente que real. Mas, de todas as formas, há uma busca por sustentabilidade pelo fato de que a maioria dos países e das empresas, por maiores que sejam, não se sente segura face aos rumos que está tomando a humanidade. Dão-se conta, crescentemente, de que não se poderá fazer economia de mudanças. Se queremos ter futuro, devemos aceitar transformações substanciais. A grande questão é como implementá-las, dado o fato de envolverem grandes interesses de potências centrais, das corporações multilaterais e mundiais que travam a vontade de definir novos rumos.

O cientista político franco brasileiro Michael Lӧwy o disse acertadamente: “Todos os faróis estão no vermelho: é evidente que a corrida louca atrás do lucro, a lógica produtivista e mercantil da civilização capitalista/industrial nos leva a um desastre ecológico de proporções incalculáveis; a dinâmica do crescimento infinito, induzido pela expansão capitalista, ameaça destruir os fundamentos naturais da vida humana no planeta.”

Várias propostas vêm sendo formuladas, a maioria tentando salvar o tipo imperante de desenvolvimento, mas imprimindo-lhe um cariz sustentável, mesmo que aparente.

Por Leonardo Boff no livro Sustentabilidade – O que é – O que não é (Editora Vozes / 2012)]

Foto: ALM

Laísa Mangelli