Desastre em Mariana ameaça quase 400 espécies de animais


Um mês após o rompimento das barragens da Samarco, laudo técnico do Ibama classificou o caso como "maior desastre ambiental do Brasil"Bombeiros buscam sobreviventes após rompimento de barragens da Samarco em Mariana, Minas Gerais (Foto: Felipe Dana/AP)

Um mês após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, os danos causados pelo desastre ainda não estão totalmente contabilizados. Porém, o Ibama publicou nessa semana o seu primeiro laudo técnico preliminar, que traça um panorâma inicial dos danos causados pela barragem da Samarco – uma empresa controlada pelas mineradoras Vale e a australiana BHP. Mesmo preliminar, o laudo técnico já classifica o rompimento como o "maior desastre ambiental do Brasil".

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Segundo o Ibama, a análise de toda a área atingida pelos rejeitos de minério da barragem mostra que pode chegar a 400 o número de espécies impactadas.

Espécies da bacia do Rio Doce possivelmente impactadas:

3 espécies de plantas ameaçadas
De 64 a 80 espécies de peixes
28 espécies de anfíbios
4 espécies de répteis
De 112 a 248 espécies de aves
35 espécies de mamíferos

Total: Entre 246 e 398 espécies

A situação mais extrema é a das espécies de peixes. Segundo o laudo, o Rio Doce tinha onze espécies ameaçadas de extinção, incluindo quatro definidas como "Criticamente em Perigo". Dessas, duas são endêmicas, só existem no Rio Doce, e portanto podem desaparecer. Ao todo, havia 12 espécies endêmicas na área afetada. Esses peixes são os que mais estão em perigo.

O texto também chama a atenção para três espécies de plantas ameaçadas da região que foi soterrada pela lama: o jacarandá-cabiúna, a braúna e o palmito. Segundo o Ibama, a lama causou adestruição de 1.469 hectares de mata nativa, incluindo áreas de preservação permanente (APP).

No caso de espécies de aves ou mamiferos, o relatório acredita que os animais terão maior chance de sobrevivência, por terem facilidade de mobilidade. Porém, ainda assim o dano foi grande. "Provavelmente as populações de animais de porte reduzido foram dizimadas naqueles locais onde as margens foram tomadas pela onda de lama", diz o texto.

Água do Rio Doce é ou não tóxica?

O laudo técnico traz os números oficiais sobre a quantidade de rejeito jogada no ambiente. A barragem de Fundão tinha 50 milhões de metros cúbicos de rejeito. 34 milhões foram lançados no meio ambiente. Destes, 16 milhões de metros cúbicos caíram em três rios – Gualaxo do Norte, Carmo e Doce. A lama percorreu 663 quilômetros de corpos hídricos, a maior parte do Rio Doce, até chegar no oceano.

Os testes de qualidade de água identificaram 14 metais pesados fora dos parâmetros nos rios. Os metais mas presentes são ferro e manganês. O laudo indica que o mercúrio, que havia sido detectado em testes em Governador Valadares (MG), provavelmente não veio da lama e já estava presente nos rios antes do acidente, já que a região tem um histórico de garimpo de ouro. Porém, o Ibama considera a Samarco responsável por esse mercúrio mesmo assim. "O revolvimento [causado pelo desastre] provavelmente tornou tais substâncias biodisponíveis na coluna d'água ou na lama ao longo do trajeto alcançado, sendo a empresa Samarco responsável pelo ocorrido e pela consequente recuperação da área".

Ou seja, o mercúrio não estava na barragem, mas veio à tona quando a lama revolveu as águas e a empresa é responsável por isso.

Danos sociais

O Ibama também levantou dados dos danos econômicos e sociais. Segundo o laudo, 82% de Bento Rodrigues foi destruído pela lama. O desastre impactou atividas econômicas como produção de milho, café, côco e cana-de-açúcar. Na pecuária, as atividades envolvendo bovinos e aves foram impactadas. O maior problema, evidentemente, está na pesca. O Ibama identificou 1.249 pescadores que dependem dos rios atingidos e, portanto, perderam seus meios de vida.

Para piorar, o desastre ainda não acabou. Ainda há lama vazando da barragem de Fundão. E nem todos as vítimas foram encontradas. O último número mostra que há 12 mortes confirmadas e 7 desaparecidos.

O laudo técnico pode ser encontrado, na íntegra, no site do Ibama.

Fonte: Época