De acordo com as projeções mais pessimistas do Painel Mundial sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), poderá ocorrer, nos próximos 110 anos, um aumento na temperatura global de até 4°C, podendo ocasionar o desaparecimento de 85% das águas alagáveis do planeta, incluindo o Pantanal. Sensibilizar a população sobre os perigos do aquecimento global é uma tarefa árdua e depende de ações.
O Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP), desde 2002, vem realizando ações voltadas para a conservação ambiental, desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis, proteção da biodiversidade e educação ambiental da população. Com o aquecimento, cientistas alertam que entre 38% a 45% das plantas do cerrado correm o risco de extinção.
Nos últimos anos, é possível constatar a elevação do nível do mar, derretimento de geleiras, intensificação de tempestades, dos períodos chuvosos e de secas, entre outros fenômenos, que já vêm afetando a vida de milhares de pessoas no mundo. Em novembro do ano passado, a UFMT sediou o Fórum “Áreas Úmidas e Escassez Hídrica”, promovido pelo CPP, onde reuniram-se especialistas, tomadores de decisão, representantes de ONGs e da sociedade civil para debater o assunto. Em seguida, o mesmo tema foi intensamente discutido pelos líderes de países mundiais, durante reunião da COP21 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), realizada em Paris.
O professor da UFMT, Dr Paulo Teixeira de Sousa Jr, ressalta que as áreas úmidas, dentro as quais se encontram o Pantanal, o Guaporé, o Araguaia e as veredas, além de outras, ocupam aproximadamente 20% do território nacional e estão fortemente ameaçadas pelas mudanças climáticas. Em alguns municípios, os pantaneiros já estão percebendo que a seca está mais longa e mais severa. Os cientistas alertam que nesse cenário de crise hídrica, o número de ninhos de jacarés sofrerá redução, assim como os das aves. Ainda é possível prever a extinção de peixes, isso poderá acarretar reações em cadeia, já que são a base de alimentação de muitas espécies de animais do Pantanal.
Nesse sentido, o CPP tem muito a contribuir para evitar esse colapso ambiental na maior planície alagável do Mundo. Os cientistas que integram a organização vem, há 14 anos, desenvolvendo estudos aprofundados sobre áreas úmidas, cuja preservação contribui para a estocagem de carbono, além da purificação e regulação do ciclo das águas. “As áreas úmidas estão em todos os lugares e sua dinâmica ajuda a garantir o acesso a água limpa, que serve tanto para consumo quanto para a produção de alimentos. Elas tem valor inestimável também para a produção de medicamentos e a manutenção da biodiversidade”, explica a pesquisadora da UFMT-CPP, Dra Cátia Nunes. Ela integra o grupo de cientistas do INAU/CPP, e foi uma das responsáveis pela produção do livro que sintetiza o conhecimento existe sobre a classificação e o delineamento de áreas úmidas.
A publicação oferece aos gestores públicos base científica para uma nova política de proteção e manejo sustentável. Os estudos já resultaram inclusive em Audiência Pública no Congresso Nacional, em Brasília. Na oportunidade, os parlamentares pediram propostas para melhorar a legislação ambiental. A mesma pesquisa tem sido inspiração para elaboração de políticas públicas em países da América do Sul, como por exemplo, Colômbia, Venezuela e Argentina. Já aqui em Mato Grosso, esses pesquisadores estão dando suporte à Secretaria de Estado de Meio Ambiente na discussão da Lei do Pantanal. Ou seja, Mato Grosso vem sendo protagonista nacional e até mesmo internacional, de ações que possam ajudar no atual cenário de aquecimento global.