Reunião em Bruxelas do COMECE, REPAM e UE. A Europa diante da Amazônia


Vista de um trecho do Rio Negro em Manaus, na Amazônia – AFP

“A situação em que está a Amazônia é um problema global, que exige uma resposta global. E a Europa, sendo parte do problema, pode e deve ser parte da solução” é o que afirmou o arcebispo Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo e presidente da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE), durante um debate realizado há alguns dias, em Bruxelas, patrocinado pela COMECE, juntamente com a REPAMAdveniatMisereor e CIDSE, com a participação da UE, sobre o tema: “Os povos indígenas da Amazônia. Como pode a União Europeia promover os seus direitos?”. “As feridas infligidas sobre o ambiente e os cuidados necessários com a criação, com um olhar mais atento para a Amazônia – declarou o prelado à agência SIR – não só representam um grave problema ambiental, social e político, mas chamam diretamente em causa a Igreja porque está envolvida a defesa da vida humana”.

A reportagem é publicada por L’Osservatore Romano, 02 a 03-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Presidente da COMECE reflete a partir da exploração do patrimônio amazônico, dos interesses das multinacionais, da poluição produzida pela mineração e pelos muitos negócios que giram em torno desse gigantesco “pulmão” que produz um quarto do oxigênio na Terra. “Mas não se trata apenas de macro-questões. Somos chamados a refletir sobre nossos estilos de vida, como usamos os bens que a natureza nos oferece. Vivemos – observou ele – em um mundo interconectado e cada um é responsável perante os outros por suas ações, incluindo o que diz respeito à proteção do planeta”.

Recordando a encíclica Laudato si’ do Papa Francisco, monsenhor Hollerichressaltou que “temos que imergir na realidade, porque é na realidade que encontramos Deus. E hoje isso nos pede para cuidar da criação, que exige uma verdadeira revolução dos costumes, da mentalidade e da economia”.

Da mesma opinião é o cardeal dom Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e presidente do REPAM (rede eclesial da Pan-amazônia), que tem focado a sua atenção “sobre o sofrimento dos povos indígenas”, ameaçados pela exploração da floresta amazônica, dos rios, das matérias-primas e da natureza. Ele reiterou que “a questão ecológica, como lembra o Papa Francisco, nos chama em causa diretamente, porque diz respeito a própria vida humana”.

De suas palavras emerge a complexidade da situação na América Latina, e a exploração da Amazônia coloca-se em um contexto de direitos violados, de opressão das populações que desde sempre habitam esses territórios, de milionários negócios que passar por cima de territórios, aldeias e comunidades locais. Assim, uma ampla referência ao Sínodo pan-amazônico, a ser realizado no segundo semestre de 2019 sobre “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”: “O ecossistema global está ameaçada – explicou o cardeal – e a Igreja só pode ficar atenta, presente e ao lado dos direitos dos mais fracos”.

Finalmente, o Cardeal Pedro Barreto Jimeno, vice-presidente de REPAM e Arcebispo de Huancayo (Peru), citou o testamento espiritual do cardeal Carlo Maria Martini (“A Igreja ficou duzentos anos para trás”) para indicar a urgência de uma maior atenção e coragem para enfrentar os temas da ”ecologia integral” do Papa Francisco e da proteção dos direitos das populações mais vulneráveis na Amazônia. “Com o Sínodo do próximo ano – disse ele – pela primeira vez, a Igreja vai dar a palavra aos povos da floresta amazônica, vai ouvi-los para poder voltar a se envolver em várias frentes: pobreza, direitos, simplicidade, ecologia, educação, globalidade”.

IHU