ARTIGO: Pirlimpimpim?


Rio Tietê, em São Paulo
Foto: .Rovena Rosa/Aga Brasil/Fotos Públicas

Por André Vilhena*

A evolução de nossa sociedade em direção à sustentabilidade é visível. Retroceder parece impossível, mas precisamos estar sempre alertas visando potencializar os benefícios e ao mesmo tempo escapar das armadilhas. Algumas estão sendo reapresentadas disfarçadas de “soluções disruptivas inovadoras”, no embalo da indústria de conceitos. Com a devida vênia do Mestre Monteiro Lobato, vamos tratar aqui dos aditivos “mágicos” que prometem afastar eventuais impactos causados por materiais plásticos quando dispostos de forma inadequada na natureza.

Conforme parecer técnico elaborado pelo Cetea/Ital, é equivocado pensar que a decomposição de materiais no meio ambiente seja uma solução para a destinação de embalagens em geral. Não é possível considerar normal que resíduos sejam jogados diretamente no meio ambiente, supondo que este teria condições para processar/decompor tais materiais no curto prazo. A responsabilidade da sociedade sobre a gestão de seus resíduos deve ser assumida, de forma compartilhada.

Devemos lembrar que o consumidor tem direito à informação correta e não pode ser confundido com termos não sinônimos como “biodegradável” e “biopolímero”

Produtos como detergentes, amaciantes, shampoos, condicionadores etc. devem ser biodegradáveis, pois são necessariamente descartados no esgoto e a característica de biodegradabilidade é muito útil no tratamento de esgoto, que normalmente utiliza processos biológicos. Por outro lado, não é uma proposta viável enviar para o esgoto o resíduo sólido domiciliar (embalagens, sacolas plásticas, resíduos de alimentos, óleo de cozinha…). Ou seja, propostas para tratamento de efluentes são diferentes daquelas adequadas à gestão e valorização dos resíduos sólidos.

O quadro pode ser ainda pior quando a ação de degradação é induzida/acelerada por aditivos que prometem solucionar o problema como num passe de mágica, mas que na verdade ajudam a agravar a contaminação do ambiente, a partir da fragmentação de macromoléculas (polímeros). Os tais aditivos “oxi-degradáveis” ou “oxi-biodegradáveis” para embalagens plásticas, atrapalham a reciclagem e agravam a contaminação de lençóis freáticos, rios, mares, oceanos, etc, além de inviabilizar a reciclagem de diversos produtos. O tal pó de pirlimpimpim para plásticos não “transporta” o material para outro lugar, as moléculas continuam lá só que agora fragmentadas, contaminando o meio ambiente e inviabilizando a reciclagem.

Por fim, devemos lembrar que o consumidor tem direito à informação correta e não pode ser confundido com termos não sinônimos como “biodegradável” e “biopolímero”. Biopolímeros são plásticos fabricados a partir de fontes renováveis (milho, cana-de-açúcar etc.) e têm importância estratégica para o futuro, principalmente quando utilizam energia renovável em todo seu ciclo de vida (produção agrícola, processos industriais, transporte etc.). Biopolímeros não precisam ser biodegradáveis/biodegradados, podem ser recicláveis.

Algumas empresas de grande porte no Brasil e em outros países já caíram nesse embuste num passado recente. No Brasil até Projetos de Lei e Decretos obrigando a sua utilização tivemos. Será que vamos ver esse ciclo se repetir?

*André Vilhena é diretor executivo do Cempre, uma associação sem fins lucrativos que trabalha para conscientizar a sociedade sobre a importância de reduzir, reutilizar e reciclar os resíduos sólidos.

EcoD