Guterres alerta para riscos de nova corrida por armas nucleares


Câmara da Conferência sobre Desarmamento em Genebra, na Suíça. Foto: ONU/Antoine Tardy

Em pronunciamento na Conferência sobre Desarmamento, em Genebra, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou na segunda-feira (25) para os riscos de uma nova corrida global por armas nucelares. Segundo o chefe das Nações Unidas, o mundo está testemunhando o colapso de medidas internacionais para controlar instrumentos de destruição em massa.

Guterres elencou uma série de outras ameaças à segurança mundial, como as armas químicas, os mísseis hipersônicos e armamentos autônomos letais.

“O uso continuado de armas químicas, com impunidade, está impulsionando uma nova proliferação (deles). Milhares de vidas de civis continuam a ser perdidas por causa de pequenas armas ilícitas e por causa do uso, em áreas urbanas, de explosivos projetados para campos de batalha abertos”, ressaltou o secretário-geral na câmara da Conferência, que abrigava o antigo Conselho da Liga das Nações.

Além disso, novas tecnologias armamentistas estão agravando riscos “de maneiras que ainda nem compreendemos nem podemos imaginar”, completou o secretário-geral.

O dirigente máximo da ONU lembrou que, nos últimos 70 anos, iniciativas pró-desarmamento global tiveram sucesso, principalmente as que foram lideradas pelas grandes potências. Atualmente, porém, essas conquistas estão cada vez mais em risco, como consequência de uma corrida armamentista vista como “particularmente perigosa” por Guterres, devido a uma nova incerteza sobre as armas nucleares.

O chefe das Nações Unidas destacou os perigos em permitir a expiração do Tratado de Forças Nucelares de Alcance Intermediário, que entrou em vigo em 1988 entre Rússia e EUA. O acordo prevê a eliminação e a descontinuação de programas de mísseis nucleares com alcance de 500 a 5,5 mil km. Guterres alertou que os Estados europeus estariam entre os primeiros onde qualquer insegurança seria “agudamente sentida”, caso o documento fosse abandonado.

Ainda de acordo com o secretário-geral, também são necessários esforços para estender o novo tratado estratégico de redução de armamentos (conhecido pela sigla em inglês New START), também entre Rússia e Estados Unidos. O marco é o “único instrumento internacional legal que limita o tamanho dos dois maiores arsenais nucleares do mundo”, lembrou Guterres. O acordo expira em 2021.

As provisões de inspeção do New START representam mecanismos importantes para a relação entre os países, acrescentou o dirigente, explicando que “na falta de confiança, governos buscaram as mais estritas medidas de verificação”. O esforço conjunto da Rússia e dos EUA levou a uma diminuição no número de armas nucleares, que equivalem hoje a um sexto da quantidade estimada para 1985.

Guterres alertou que esse legado corre “grave perigo” e que a comunidade internacional precisa levar em conta desafios nucleares regionais. Também é necessária atenção a novos desdobramentos tecnológicos nas áreas de cibersegurança, inteligência artificial e armamentos hipersônicos, que poderiam ser usados para lançar ataques em velocidade inédita.

O secretário-geral reconheceu que a maioria dos Estados-membros busca a eliminação de armas de destruição em massa, mas ressaltou que a Conferência sobre Desarmamento — o único fórum multilateral de negociação sobre o tema — não realiza nenhuma negociação de desarmamento em duas décadas. Como resultado, discussões sobre o problema acabaram acontecendo em outras instâncias, como a Assembleia Geral da ONU, ou fora das Nações Unidas.

“A história dessa sala tem muito a nos ensinar”, enfatizou Guterres. “O fracasso do Conselho da Liga das Nações em lidar com os desafios de segurança mais urgentes do seu tempo foi um importante fator para a sua queda na irrelevância.”

No ano passado, o secretário-geral lançou a sua Agenda de Desarmamento Assegurando nosso futuro comum, com 40 compromissos específicos para apoiar o desarmamento.

ONU News