Área remota da Austrália respira o ‘ar mais puro do mundo’


Sam Cleland, diretor da estação de análise da qualidade do ar de Cabo Grim, em 25 de fevereiro de 2019 (AFP)

Uma zona isolada e com vistas espetaculares na ilha australiana da Tasmânia, Cabo Grim, serve de referência internacional para o ar mais puro.

“Nosso trabalho é encontrar o ar mais puro do mundo e medir sua taxa de contaminação”, explica à AFP Sam Cleland, diretor da estação de análise da qualidade do ar de Cabo Grim.

O isolamento do centro o transforma em um local perfeito para recolher o que muitos consideram o ar mais puro da Terra, protegido dos canos de descarga e da fumaça das indústrias.

Quando o vento chega a partir do sudoeste, já sobrevoou o mar por dias, ou semanas, procedente da Antártida.

É exatamente neste momento que Sam Cleland e sua equipe tomam mostras de nitrogênio, oxigênio e outros componentes do ar.

Eles utilizam um sistema de tubos polidos com laser e uma série de instrumentos de medida extremamente sensíveis.

O material é tão preciso que os trajetos dos veículos das transportadoras procedentes da cidade mais próxima, a uma hora de distância, são registrados para evitar uma falsificação dos dados compilados.

Com o entorno quase impoluto, os moradores da península de Cabo Grim tentam atrair os visitantes. Para vender a carne local, por exemplo, promovem os estudos científicos sobre a qualidade do ar.

O número crescente de parques eólicos e de turistas que visitam o local para respirar melhor parecem comprovar que a reputação está se consolidando.

Mike Buckby, “fazendeiro da chuva” na Cape Grim Water Company, recolhe e comercializa a água que cai dos “céus mais puros da Terra”.

“A maioria das águas do mundo procede de nascentes”, explica, diante de um sistema de lonas, depósitos e reservatórios instalado em uma superfície equivalente à metade de um campo de futebol.

Ele afirma que sua água doce contém apenas H2O e vestígios de sal do mar.

“Tem um pouco de sódio, mas é muito neutro, muito reduzido”, afirma. “Na água de nascente normal, você tem normalmente níveis elevados de magnésio, alguns nitratos fósforo e potássio naturais”.

Apesar de tudo, o Cabo não escapa totalmente dos níveis crescentes de contaminação. Quando o vento procede do norte, de Melbourne ou Sydney, é possível detectar os registros químicos das diferentes fábricas em operação no dia, explica Cleland.

A estação mediu o aumento dos gases que reduzem a camada de ozônio procedentes de locais tão afastados como como a China.

“Constatamos que durante os últimos 2.000 anos, os níveis de CO2 em particular permaneceram em níveis estáveis por muito tempo”, disse o diretor da estação.

Registros no gelo ártico mostram que os níveis de CO2 na atmosfera ficaram ao redor a 275 partes por milhão (ppm) durante grande parte do último um milhão de anos.

“Quando começamos a medir o CO2 aqui em 1976, já estávamos a 330 e hoje estamos a 405”, constata.

O limite de 400 ppm foi superado no início da década de 2010, o que demonstra que as políticas de proteção ambiental no mundo eram insuficientes.

Os níveis de dióxido de carbono detectados no Cabo Grim são agora similares aos de algumas cidades no início da revolução industrial, assegura Cleland.

“O que vemos hoje em dia na atmosfera não tem provavelmente precedente, ao menos no último milhão de anos”.

AFP