Montanha de lixo em Nova Délhi tem altura quase superior a do Taj Mahal


Vista da montanha de lixo mais alta da Índia, em um subúrbio de Nova Délhi, em 13 de novembro de 2018 (AFP/Arquivos)

Em um subúrbio de Nova Délhi, a montanha de lixo mais alta da Índia (ao menos 60 metros) pode ultrapassar em altura o Taj Mahal, no ano que vem, tornando-se um símbolo fétido do que a ONU considera a capital mais poluída do mundo.

As aves de rapina sobrevoam o lixão de Ghazipur, cuja silhueta se distingue a vários quilômetros de distância. As vacas e cachorros errantes e os ratos pululam neste lugar que acumula parte dos resíduos desta cidade de 20 milhões de habitantes.

Com frequência o gás metano que é liberado dos resíduos provoca incêndios e leva-se dias para apagá-los. Pela colina corre o chorume, um líquido tóxico negro, que desemboca em um canal.

“Este odor fétido transformou nossas vidas em um inferno. As pessoas ficam doentes o tempo todo”, conta Puneet Sharma, um morador de 45 anos.

Outro residente, Pradeep Kumar, tomou uma decisão: “Vou embora deste bairro pelos meus filhos. Tenho dois, um de oito anos e outro de quatro. E eles ficam doentes com frequência por causa da poluição”.

Segundo o engenheiro-chefe para East Delhi, Arun Kumar, a montanha já mede mais de 65 metros e a cada ano cresce cerca de 10. As autoridades preveem que ultrapassará a altura do Taj Mahal (73 metros) em 2020.

No ano passado, ante a incapacidade das autoridades para resolver o problema do tratamento dos resíduos, o Tribunal Supremo da Índia comentou que em breve será necessário colocar sinais vermelhos no lixão para alertar os aviões.

O lixão abriu em 1984 e foi fechado em 2002 por saturação. Mas a cada dia centenas de caminhões continuam transportando resíduos, e agora os resíduos ocupam uma superfície equivalente a mais de 40 campos de futebol.

“Diariamente são descarregadas cerca de 2.000 toneladas de lixo em Ghazipur”, afirmou um responsável do município de Nova Délhi que pediu anonimato.

– Desmoronamento –

Em 2018, as chuvas intensas causaram el desmoronamento de parte da montanha. Duas pessoas morreram e como consequência disso foram proibidas as descargas de lixo no local. A aplicação da medida durou apenas alguns dias, porque as autoridades não encontraram outro lugar para os resíduos.

O crescimento do lixão de Ghazipur está vinculado ao desenvolvimento da Índia e de sua sociedade de consumo, explica Chitra Mukherjee, diretora da ONG Chintan.

“Quando você ganha mais, quando sua economia cresce, você compra mais coisas. Não é necessário ser físico nuclear para perceber que quanto mais você compra, mais joga fora”, acrescenta.

Segundo Shambhavi Shukla, pesquisadora do Centro para a Ciência e o Meio Ambiente de Nova Délhi, o metano que emana do lixo é ainda mais nocivo quando se mistura na atmosfera. Uma fábrica de incineração de resíduos adjacente emite também uma fumaça que deteriora ainda mais o ar que os moradores respiram.

Em seu consultório, a médica Kumud Gupta atende cerca de 70 pessoas por dia, incluindo bebês, com problemas respiratórios e gástricos devido à poluição do ar.

“O fato de respirar gases tóxicos pode causar doenças mortais, a longo prazo podem sofrer de câncer”, afirma.

Segundo um estudo recente, o lixão de Ghazipur representa um risco de saúde para as pessoas que residem em um raio de até cinco quilômetros de distância.

A Índia gera por ano 62 milhões de toneladas de lixo e, segundo dados do governo, antes de 2030 esta cifra poderia chegar a 165 milhões de toneladas por ano.

AFP