Na contramão do governo, projeto Morro Verde investe no plantio natural


Projeto Morro Verde, desenvolvido no aglomerado Morro das Pedras, Região Oeste de Belo Horizonte. (Reprodução Instagram Morro Verde)

Por Cássia Maia
Repórter Dom Total

O Ministério da Agricultura ampliou o número de agrotóxicos liberados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Foram autorizados, somente em junho, a utilização de 42 novos pesticidas, totalizando 239 liberados no governo Bolsonaro, crescimento de 24% em relação a 2018. Na contramão do governo, comunidades desenvolvem o próprio cultivo de horta urbana, sem uso de veneno. Um exemplo é o projeto Morro Verde, desenvolvido no aglomerado Morro das Pedras, Região Oeste de Belo Horizonte.

A prática da agricultura urbana é hoje uma atividade incentivada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (ONU/FAO) como estratégia de aumento da resiliência das cidades e adaptação às mudanças climáticas, além de ser um importante elemento na segurança alimentar da população.

Segundo o estudo Estado do Mundo – Inovações que Nutrem o Planeta, da Worldwatch Institute (WWI), as hortas urbanas são responsáveis por entre 15% e 20% de todo o alimento produzido no mundo. O levantamento ainda aponta que pelo menos 800 milhões de pessoas dependem da agricultura urbana para a maior parte de suas necessidades alimentares.

Em abril de 2017, o grupo História em Construção iniciou um processo de transformação de uma área abandonada da Vila Antena, no Morro das Pedras. Nascia a horta batizada de Morro Verde.

Horacius de Jesus, um dos integrantes do projeto, explica que o Morro Verde é um espaço concebido e mantido pelos moradores da região, com foco no cultivo de ervas e hortaliças. “Todo o nosso plantio é natural, baseado no recolhimento da matéria orgânica dos próprios moradores. Nós mesmos fazemos nossos húmus, trabalhando com minhoca ou sem minhoca. Nossas sementes são de uma família que tem um projeto chamado Fábrica de Hortas do George e da sua família. Procuramos sempre trabalhar em rede, com processo natural e cada vez mais se aprofundando no conhecimento com outros coletivos”, disse.

Horacius faz um alerta: “A nossa própria alimentação vem nos matando hoje. A gente precisa falar mais sobre isso, a gente precisa entender o processo de uma cadeia alimentar como um todo. Quando você entende isso, você discute uma série de coisas”.

O grupo, além da horta, oferece atividades culturais para os moradores locais, abrindo o espaço para interessados em oferecer oficinas, apresentações ou exposições.

Com o trabalho de arquitetos, engenheiros, designers e paisagistas voluntários, Horacius conta que o projeto tem o princípio agroecológico. “A agroecologia é movimento social, é comportamento. A gente discute questões sociais, políticas, culturais, ambientais. Ela não precisa mudar só ao redor onde ocupa a horta, ela precisa também mobilizar o seu entorno”, disse.

Horacius ressalta a importância da união de todos para fortalecer o movimento. “O processo é todo educacional, de que reconhecimento e conhecimento. Para agregar as pessoas elas tem que entender o que uma horta comunitária faz no meio de uma favela. Por isso, aqui na comunidade, eu fico sempre incentivando as pessoas acompanharem e estarem junto nos projetos e processos”, conclui.

Agrotóxicos

Sobre o aumento de agrotóxicos no atual governo, o Ministério da Agricultura afirma que o objetivo da liberação de produtos genéricos é baratear o preço dos agrotóxicos, o que faria cair o custo de produção e, por consequência, os preços dos alimentos para o consumidor. A autorização do uso de novos compostos serviria para “disponibilizar novas alternativas de controle mais eficientes e com menor impacto ao meio ambiente e à saúde humana”, alega o Ministério.