Moradores criticam atuação da Vale em Itabira e temem rompimento de barragem


Comissão de Direitos Humanos debate os impactos decorrentes das atividades minerárias em Itabira e região (Flavia Bernardo/divulgação ALMG)

A atuação de representantes da Vale em Itabira, região Central de Minas Gerais, é criticada por moradores da cidade e ambientalistas. O assunto foi tema de audiência na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na noite dessa segunda-feira (8).

Integrante da Coordenação Estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens, Camila Brito afirmou acreditar que outro rompimento é só uma questão de tempo já que a empresa nega o direito básico da informação em todos os municípios que atua.

“Se uma reunião não tem participação dos atingidos, é um erro. Direitos humanos violados estão sendo a regra. Sofremos perdas antes mesmo das barragens romperem, com a desvalorização imobiliária, a queda do comércio. Merecemos ser ouvidos. Barragens não passam por nenhum controle social. E os atingidos de Bento Rodrigues (distrito de Mariana, na Região Central) não têm nenhuma de suas casas construídas até hoje”, lembrou Camila.

O pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em João Monlevade (Central), padre Marco José de Almeida, falou do sofrimento da população. De acordo com ele, o número de pessoas diagnosticadas com depressão tem aumentado.

“Enterramos pedaços de várias pessoas. Visitamos Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte), vimos uma família que passou por três velórios. O que isso significa para as pessoas? As empresas estão numa corrida desenfreada por lucros fartos enquanto a nossa perspectiva é de viver num planeta contaminado, com a água comprometida. Nossos jovens não veem perspectiva de vida”.

O vereador da Câmara Municipal de Itabira e presidente do Sindicato Metabase de Itabira, André Viana Madeira, enfatizou que a Vale já anunciou que deixará a cidade em 2028, com o fim da extração mineral no município. A Câmara abriu, então, uma CPI para verificar quais condicionantes do contrato da empresa estão sendo cumpridas com o município.

“O que vai sobrar depois que a Vale for embora? Ficaremos somente com as consequências, os problemas no meio ambiente, a economia abandonada, as pessoas com problemas respiratórios e falta de água. Precisamos do envolvimento dos agentes políticos estaduais e federais e a responsabilização dos culpados. São mais de 530 milhões de metros cúbicos espalhados em 15 barragens no município. São 5,7 mil casas na zona de risco, que precisam ser reassentadas”, considerou.

Pressão

Membro do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região, Maria José Araújo reforçou que quando a mineração chegou ao município, em 1945, as pessoas já estavam lá e elas não foram consultadas em momento algum sobre a construção das barragens.

“Não tem sido fácil. Acho impossível que nunca rompam, todos os especialistas dizem que um dia rompe. E a população tem medo de ir contra a Vale e perder empregos. Até o processo de descomissionamento é um risco para nós. A gente se sente sozinho, abandonado”, disse.

Também membro do mesmo comitê, Ana Gabriela Chaves Ferreira relatou que “laranjas da Vale” foram até a sua casa em nome da Defesa Civil, para atualizar o Plano de Emergência da cidade, o que é mentira.

“A Vale está construindo esse plano agora. Nossa ação e pauta são silenciadas e a empresa está se apropriando da nossa demanda, por causa das nossas cobranças. O assassinato do Rio Doce e do Rio Paraopeba não podem ser banalizados. Enfrentamos escassez de águas há duas décadas, já que a Vale secou nossos lençóis freáticos”, revoltou-se.

Ela também lembrou que, em 1979, a barragem de Conceição de Itabira se rompeu, por excesso de chuvas. “Eu acho inacreditável dizerem que as pessoas estão em zona de autossalvamento. Isso é passar para as pessoas a responsabilidade que é da Vale”, completou.

ALMG/Redação