Quase 25% da população mundial enfrenta estresse hídrico extremo


Moradora da região indiana de Chennai enche balde com água em um complexo residencial. (AFP)

Um relatório divulgado pelo World Resources Institute (Instituto de Recursos Mundiais, WRI)) faz um alerta sobre a escassez de água no mundo e afirma que um quarto da população mundial vive em 17 países que enfrentam situação de estresse hídrico extremo e se aproximam do que se chama de “Dia Zero”, quando as torneiras secam. De acordo com o levantamento, esses países consomem anualmente 80% da água disponível. De acordo com o instituto, a situação é agravada pelas secas mais frequentes provocadas pelas mudanças climáticas.

Feita em parceria com universidades e institutos da Holanda e da Suíça, a pesquisa considera dados de 1960 a 2014. O WRI classificou o estresse hídrico, o risco de seca e o risco de inundação fluvial utilizando uma metodologia revisada por especialistas.

O instituto alerta que a agricultura, a indústria e as cidades podem entrar em colapso com a “falência” da água. “Estamos enfrentando uma crise global de água”, disse, em nota, a diretora do programa global de água do instituto, Betsy Otto.

De acordo com o WRI, sediado em Washington, a oferta de água no mundo está ameaçada por vários fatores, entre eles as mudanças climáticas, o desperdício e a poluição. “É provável que vejamos mais ‘dias zeros’ no futuro”, afirmou a diretora do WRI.

Uma preocupação adicional, afirma o porta-voz Paul Reig, é a alta dependência do abastecimento pela água subterrânea, que é difícil de medir e gerenciar por estar em uma área profunda. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, um terço da água doce do mundo se encontra em lençóis freáticos. “Como não os entendemos e vemos (lençóis freáticos), nos os administramos muito mal”, disse Reig.

Catar, Israel, Líbano, Irã, Jordânia, Líbia, Kuwait, Arábia Saudita, Eritreia, Emirados Árabes Unidos, San Marino, Bahrein, Índia, Paquistão, Turcomenistão, Omã e Botsuana formam o grupo dos 17. “O estresse hídrico é a maior crise sobre a qual ninguém fala. As consequências são visíveis na forma de insegurança alimentar, conflito, migração e instabilidade financeira”, disse Andrew Steer, presidente executivo do WRI.

O Catar é o país de maior risco de escassez, seguido por Israel e Líbano. Os dados mostram que a maior parte das nações em alerta “extremamente elevado” está no Oriente Médio e no Norte da África. Outros 27 países integram a lista de “alto estresse hídrico de referência”. O Brasil ocupa apenas a 112ª posição entre os 164 países analisados, no grupo que apresenta o menor perigo (“nível baixo de estresse hídrico”).

A Índia, que aparece na 13ª posição, tem uma população três vezes maior que os outros 16 países. Nas últimas semanas, a sexta maior cidade da Índia, Chennai, foi a mais recente metrópole do mundo a alertar que suas torneiras podem secar, à medida que os níveis dos reservatórios despencam. “A recente crise da água na região de Chennai chamou a atenção mundial, mas diversas áreas da Índia sofrem um estresse hídrico crônico”, afirmou Shashi Shekhar, ex-secretária para a Água da Índia. Ela disse que o relatório pode ajudar as autoridades a identificar e priorizar os riscos.

O estudo lembra que situações semelhantes viveram a Cidade do Cabo, na África do Sul, que temia o “Dia Zero”, sem água, no ano passado; e São Paulo, no Brasil, que viveu uma prolongada crise hídrica, em 2015. Até os países com reduzido estresse hídrico médio podem ter pontos críticos.

AFP/Reuters/Dom Total