Aumento do nível dos oceanos ameaça a vida de milhões em Mumbai


Nos últimos 15 anos, a costa retrocedeu mais de 20 metros em algumas praias de Mumbai (AFP)

Durante a monção, é frequente que as ondas cheguem até a cabana de Ganga Singh, junto ao Mar da Arábia, na megalópole indiana de Mumbai, a cada dia mais ameaçada pelo aumento do nível dos oceanos.

“Construímos pequenos muros, mas as ondas os destroem”, explica esta mulher de 47 anos que vive em sua pequena casa com 11 familiares.

Em Mumbai, cidade de 20 milhões de habitantes, as pessoas ocupam cada centímetro quadrado disponível.

Com o aumento do nível dos oceanos, provocado pelas mudanças climáticas, Ganga Singh e sua família estarão entre os primeiros a perder sua casa, se forem cumpridas as projeções dos cientistas. “Todos temos medo”, admite.

Segundo um estudo universitário, cerca de 25% da capital econômica indiana poderia ficar submersa se a água dos oceanos subir um metro no século XXI por causa do aquecimento global.

Até mesmo um aumento de 20 centímetros no nível do mar dobraria a frequência de inundações nas zonas tropicais como a de Mumbai, segundo um estudo americano de 2017.

Mumbai, que começou sendo um conjunto de sete pequenas ilhas na época da colonização britânica, é especialmente vulnerável às inundações porque toda uma parte da cidade fica sob a linha da preamar.

Nos últimos 15 anos, a costa retrocedeu mais de 20 metros em algumas de suas praias, segundo vários estudos da ONG Watchdog Foundation.

As inundações provocaram centenas de mortos e custaram bilhões de dólares nas duas últimas décadas.

Em 2005, inundações deixaram 500 mortos.

Diante desta ameaça, o governo do estado de Maharashtra, do qual Mumbai é a capital, vai construir 20 diques no mar ao longo de sua costa de 720 quilômetros, quatro deles em Mumbai.

No entanto, os especialistas duvidam de sua eficácia a longo prazo.

“Precisamos de uma visão de longo prazo”, afirma o climatologista Roxy Mathew Koll, do instituto indiano de meteorologia tropical.

As autoridades também estão realizando uma grande campanha para plantar manguezais, um tipo de floresta anfíbia característica de zonas úmidas tropicais que atua como uma esponja e representa a maior defesa natural contra inundações.

Nos arredores de Mumbai, na região de Airoli, o encarregado florestal D.R. Patil e 300 trabalhadores avançam pouco a pouco, às vezes com água nos joelhos, para plantar novas árvores e verificar o crescimento das que já estão plantadas.

“Os manguezais são a primeira linha de defesa contra as inundações e não temos outras opções”, explica Patil à AFP. “Até mesmo um dique não protege tanto quanto os manguezais”, assegura.

Segundo ele, o estado de Maharashtra tem atualmente 30.000 hectares de mangue. Entre 2015 e 2017, sua superfície no estado aumentou 82%.

As autoridades locais também aprovaram leis para proteger os manguezais e podem proibir a construção de moradias em áreas úmidas, assim como derrubar edificações ilegais ou construir muros.

Os defensores do meio ambiente acreditam que essa política não é totalmente eficaz.

Segundo o especialista Nandkumar Pawar, os mangues são importantes, mas também é crucial o problema do desaparecimento dos sistemas naturais de escoamento da água.

Segundo ele, algumas das leis para proteger o litoral não são totalmente cumpridas e permitem construções perto da costa, cobrindo rios e enseadas que normalmente atuam como uma via de saída da água em caso de inundações.

“Fazemos tudo o que podemos com nossas capacidades e nossos recursos”, afirma Jitendra Raisinghani, vice-diretor do Conselho Marítimo do Maharashtra, assegurando que a administração trabalha em um plano de gestão do litoral. Mas “nunca é suficiente e podemos fazer mais”.

Com falta de solo, Mumbai está construindo verticalmente, com edifícios cada vez mais altos. No entanto, Ganga Singh, que mora junto ao mar, acredita que “se o nível da água subir, nenhum lugar de Mumbai será seguro”.

AFP