Óleo no Nordeste: voluntários retiram grandes resíduos, mas poluição persistirá por anos


Grupo de Trabalho participa de ações para retirada de óleo na Costa dos Corais em Alagoas (Felipe Brasil/Fotos Públicas)

Enquanto as manchas de óleo avançam pelas praias do Nordeste, grupos de voluntários se organizam para ajudar na remoção do poluente, que fica impregnado na areia e nos corais. Nos mutirões, os grupos conseguem recolher grandes porções do material, mas pedaços menores podem ficar vários anos depositados no ecossistema.

Para a bióloga Yana Costa, foi “uma das experiências mais tristes da vida” ir até a Praia de Muro Alto, em Ipojuca, um dos cartões-postais de Pernambuco, para ajudar na força-tarefa. “Havia diversos fragmentos de óleo na praia e na areia. Nos corais, não dava para tirar porque estava impregnado”, conta. No Estado, o poluente também chegou nesta segunda-feira, 21, ao Cabo de Santo Agostinho e a outros destinos turísticos bastante procurados, como Carneiros.

Os grupos de voluntários trabalham em turnos, geralmente com início pela manhã. A maior parte sai do Recife até o litoral sul pernambucano. A comunicação é feita, principalmente, pela internet, em grupos de mensagens instantâneas. “Durante a experiência, você sente dois sentimentos opostos. Fica triste por ver aquilo acontecendo com as praias que frequenta. Mas também é bom ver que as pessoas estão se engajando por um bem comum, que é limpar e tentar deixar o mínimo de estrago possível”, diz o estudante Yan Lopes, outro voluntário.

Os grupos têm recebido orientação da organização Xô Plástico de se protegerem totalmente com luvas e botas e evitar ao máximo entrar em contato com o óleo. Além da Xô Plástico, organizações como PE Lixo, Recife sem Lixo e Salve Maracaípe recrutam voluntários.

A recomendação dos órgãos públicos é para uso de luva e bota de borracha, além de máscara e calça comprida. Apesar disso, muitos trabalham sem a segurança necessária. “Tem gente que se melou toda de óleo”, conta a estudante de Educação Física Louise Foster, que faz limpeza voluntária na Praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho. Já o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti, afirma que o tamanho do desastre dificulta a distribuição de kits de proteção a todos. “A gente conseguiu material de doação de empresas e a Defesa Civil fez distribuição.”

Riscos

Especialistas afirmam que o óleo pode desencadear doenças respiratórias e da pele, mas seria necessária exposição prolongada para levar a problemas mais graves. “Petróleos que possuem mais benzeno em sua composição podem, em casos mais graves, provocar alterações neurológicas e até leucemia”, diz o médico toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade de São Paulo (USP).

A inalação dos gases liberados com a vaporização do petróleo pode levar a doenças respiratórias, como bronquite e asma. É recomendável que banhistas se mantenham longe do mar e, em caso de contato, lavem imediatamente com água e sabão.

Protesto no Nordeste

Os clubes do Nordeste seguem fazendo bonito fora dos gramados com questões sociais. CSA, CRB, Ceará, Fortaleza, Sport e Vitória deixaram a rivalidade de lado e se uniram para se manifestar lamentando os episódios de aparecimento de manchas de óleo de petróleo em praias nordestinas.

Todos os seis clubes postaram em suas contas oficiais do Twitter a mensagem de que o Nordeste está unido e repudia o ocorrido.

“O Nordeste está ainda mais unido pelo óleo que invade nossas praias. Manchamos nossas mãos, lamentamos pela beleza da nossa costa, vimos o avanço com tristeza mas não medimos esforços para salvar a natureza da nossa Região. Essa é uma luta de todos”, diz a mensagem, ilustrada com uma mão suja de petróleo.

Sport Club do Recife

@sportrecife

O Nordeste está ainda mais unido pelo óleo que invade nossas praias. Manchamos nossas mãos, lamentamos pela beleza da nossa costa, vimos o avanço com tristeza mas não medimos esforços para salvar a natureza da nossa Região. Essa é uma luta de todos. #SOSNordeste

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Bahia e CSA entraram em campo nesta segunda-feira, pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro, com as camisas “manchadas”, em protesto.

(Foto: Israel Simonton/ Ceará)

Segundo informações da Marinha, cerca de 525 toneladas de resíduos de óleo já foram coletados no mar. O motivo do vazamento ainda não foi descoberto.

Agência Estado