‘Você não quer respirar veneno, quer respirar outro tipo de ar, mas não tem nenhum’


Aratiri, 9 anos, vive exposto a veneno em comunidade indígena no Mato Grosso do Sul (Marizilda Cruppe/ Human Rights Watch)

Ao longo dos últimos meses, entidades e organizações travam uma luta árdua dentro do Congresso Nacional contra o desmonte da Lei de Agrotóxicos (Lei 7.802/1989), chamado de Pacote do Veneno (PL 6.299/2002). Se aprovado, resultará invariavelmente em mais agrotóxicos no Brasil.

Desde que lançou a campanha de Agricultura & Alimentação, o Greenpeace Brasil  batalha pela democratização da alimentação saudável e sem veneno, junto a uma rede de organizações comprometidas com essa causa. “Viemos construindo e disponibilizando desde então uma base sólida de informações para que todos possam formar suas opiniões e pressionar, junto às suas comunidades, os governantes que têm a obrigação de elaborar políticas públicas voltadas para o bem-estar e saúde da população. Afinal, alimentação adequada e saudável é um direito de todos, não um privilégio de poucos”, diz a organização.

Os impactos negativos dos agrotóxicos vão muito além do nosso prato. Eles começam no campo. Relatório que a Human Rights Watch acaba de lançar mostra, de maneira assustadora, problemas decorrentes da exposição aos agrotóxicos em sete diferentes regiões do Brasil. A organização entrevistou mais de 100 pessoas, entre afetados por aplicações de veneno e especialistas da área.

A pesquisa da Human Rights Watch, intitulada “Você não quer mais respirar veneno”, deixa claro que, além das graves questões de saúde relacionadas às intoxicações, os agrotóxicos violam gravemente os direitos humanos e são responsáveis por parte da violência no campo. Em 2017, por exemplo, um padre que tentava banir a pulverização de agrotóxicos no município de Boa Esperança, no Espírito Santo, recebeu mensagens ameaçadoras de produtores rurais, dizendo que ele “não duraria até dezembro”.

Sem saída

Nesse contexto de opressão no campo, parece impossível para as pessoas que vivem próximas às plantações, como comunidades rurais, indígenas e quilombolas, encontrarem uma saída. “Você sente um amargor na garganta. Você não quer respirar mais veneno, você quer respirar outro tipo de ar, mas não tem nenhum”, relata Jakaira, 40 anos, uma das vítimas de intoxicação por pulverização terrestre de agrotóxicos, em entrevista para a pesquisa.

Além de mostrar casos de intoxicação aguda, o relatório da Human Rights Watch apresenta preocupações com a exposição crônica aos agrotóxicos – aquela que é repetida a doses baixas por um período prolongado. Esse tipo de exposição é comumente associado a problemas como infertilidade, malformação fetal e câncer.

O estudo recém-publicado traz recomendações importantes, que devem ser levadas a sério pelos nossos governantes. A principal delas é que o Brasil precisa urgentemente adotar medidas para limitar a exposição não somente dos consumidores, como também das pessoas que moram, estudam ou trabalham perto de áreas que recebem aplicação dessas substâncias.

Apesar de os dados do pesquisa reforçarem a ideia de que a exposição e intoxicação por agrotóxicos ainda é um tema à margem na agenda de formuladores de políticas públicas, lentamente essa situação vai mudando! Nossa luta contra o Pacote do Veneno veio para mostrar que nós queremos uma agricultura mais justa pra quem planta e para quem come, e comida saudável acessível para brasileiras e brasileiros. A Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA) indica às autoridades públicas um caminho nessa direção. Nossos governantes precisam trabalhar em favor da sociedade!

Greenpeace Brasil