Fitorremediação, uma alternativa limpa para a agricultura


O país é rico em biodiversidade e tem potencial para fazer desta prerrogativa um negócio sustentável. (Freepik)

Gisele Albuquerque Morais*

As últimas notícias de liberação do uso de vários agrotóxicos vêm esquentando a opinião do público brasileiro. Em 2019, já foram 325 tipos deste produto aceitos para utilização na agricultura, e ainda há mais de 2 mil na fila para avaliação.

A maioria deles já estava em uso no Brasil, mas as novas análises são relativas às suas fórmulas genéricas. Os demais são inéditos e, dentre eles, alguns proibidos em países europeus e nos Estados Unidos.

Este movimento de liberação de agrotóxicos nos últimos meses resulta, segundo o atual governo, de um trabalho mais eficaz e célere em comparação às gestões passadas. O governo ainda justifica que um maior número de agrotóxicos no mercado fomenta a concorrência, reduzindo os seus valores e evitando o uso de produtos falsificados.

Em meio a essas novas autorizações, a ANVISA divulgou Resolução da Diretoria Colegiada – RDC 294, em 29 de julho de 2019. Tal Resolução contém flexibilização nas classificações das respectivas toxicidades, acompanhando o modelo adotado por mais de cinquenta países do mundo, inclusive europeus. Anteriormente, os produtos tinham quatro classificações. Com a RDC 294, são adotados mais dois critérios de classificação de toxicidade.

Por outro lado, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, no último 15 de agosto, emitiu a Recomendação nº 15, em que pede mais cautela nos processos avaliativos de classificação da toxicidade e de liberação dos agrotóxicos.

Toda essa movimentação em relação às normas que regulamentam os produtos é derivada da preocupação com o meio ambiente e a saúde humana.

Pode-se dizer que os agrotóxicos são agrupamentos de vários produtos utilizados na agricultura para o seu fomento, tais como herbicidas, pesticidas e fungicidas. Muitas vezes, os produtos conseguem “sair da natureza” através de atividades biodegradativas naturais. Entretanto, as áreas que ficam mais poluídas necessitam de estimulantes para que a toxicidade emanada dos agrotóxicos seja eliminada.

Uma alternativa que vem ganhando força no mundo, embora não seja tão recente, é a biorremediação, em especial a fitorremediação, que é a remediação de solos contaminados por meio de vegetais.

Trata-se de tecnologias biológicas para estimular a degradação dos poluentes ou, até mesmo, absorvê-los. Suas maiores vantagens são a maneira menos ofensiva que se relacionam com o meio ambiente e o baixo custo para sua aplicação.

A legislação superior brasileira ainda não trata tais biotecnologias como uma solução limpa e, por isso, também não lhe concedem a importância devida no desempenho das atividades de degradação de poluentes. Há, no entanto, a Resolução CONAMA 463, que dispôs sobre o controle ambiental de produtos destinados à remediação.

A China, por outro lado, tem realizado grandes investimentos na pesquisa de fitorremediadores, objetivando a busca por alternativas para seus solos contaminados em decorrência das intensas atividades industriais.

O Brasil não pode ficar para trás em relação a essa técnica promissora, limpa e eficaz, na recuperação dos solos, principalmente ante as recentes liberações de agrotóxicos. O país é rico em biodiversidade e tem potencial para fazer desta prerrogativa um negócio sustentável.

*Mestranda em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável na Escola Superior Dom Helder Câmara; Advogada.

O perigo dos agrotóxicos, artigo de Fernando Carneiro


              agrotóxicos

 

O agronegócio brasileiro vem pressionando a Presidência da República e o Congresso para diminuir o papel do setor de saúde na liberação dos agrotóxicos. O Brasil é o maior consumidor desses venenos no planeta e a cada dia se torna mais dependente deles.

Qual o impacto que essas medidas terão na saúde da população brasileira?

No Brasil, a cada ano, cerca de 500 mil pessoas são contaminadas, segundo o Sistema Único de Saúde (SUS) e estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os brasileiros estão consumindo alimentos com resíduos de agrotóxicos acima do limite permitido e ingerindo substâncias tóxicas não autorizadas.

Em outubro, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que 36% das amostras analisadas de frutas, verduras, legumes e cereais estavam impróprias para o consumo humano ou traziam substâncias proibidas no Brasil, tendência crescente nos últimos anos.

Os agrotóxicos afetam a saúde dos consumidores, moradores do entorno de áreas de produção agrícola ou de agrotóxicos, comunidades atingidas por resíduos de pulverização aérea e trabalhadores expostos. Mesmo frente a esse quadro, mais dramática é a ofensiva do agronegócio e sua bancada ruralista para aprofundar a desregulamentação do processo de registro no país.

Qualquer agrotóxico, para ser registrado, precisa ser analisado por equipes técnicas dos ministérios da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente. Inspirados na CTNBIO, instância criada para avaliar os transgênicos, que até hoje autorizou 100% dos pedidos de liberação a ela submetidos, os ruralistas querem a criação da CTNAGRO, na qual o olhar da saúde e meio ambiente deixaria de ser determinantes para a decisão.

Quem ganha e quem perde com essa medida? Não há dúvida que entre os beneficiários diretos está o grande agronegócio, que tem na sua essência a monocultura para exportação. Esse tipo de produção não pode viver sem o veneno porque se baseia no domínio de uma só espécie vegetal, como a soja. Por isso, a cada dia, surgem novas superpragas, que, associadas aos transgênicos, têm exigido a liberação de agrotóxicos até então não autorizados para o Brasil. O mais recente caso foi a autorização emergencial do benzoato de amamectina usado para combater a lagarta Helicoverpa, que está dizimando as lavouras de soja de norte a sul do país. A lei que garantiu a liberação desse veneno tramitou e foi aprovada em um mês pelo Congresso e pela Presidência da República.

A pergunta que não quer calar é: no momento em que a população brasileira espera um Estado que garanta o direito constitucional à saúde e ao ambiente, por que estamos vendo o contrário? Na maioria dos estados brasileiros os agrotóxicos não pagam impostos.

O Estado brasileiro tem sido forte para liberalizar o uso de agrotóxicos, mas fraco para monitorar e controlar seus danos à saúde e ao ambiente. Enquanto isso, todos nós estamos pagando para ser contaminados…

Fernando Carneiro é Professor da UnB e coordenador de Saúde e Meio Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Publicado em O Globo, em 24/1/2014 e socializado pelo Radis na rede.

EcoDebate, 27/01/2014

Portaria libera uso de agrotóxico proibido no Brasil


            

O oeste da Bahia foi declarado oficialmente em estado de emergência fitossanitária em relação à lagarta Helicoverpa armigera. O anúncio foi feito no dia 4 de novembro pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para combater a lagarta, no dia 7 de novembro, o Mapa publicou a portaria 1109, na qual permite a importação da substância benzoato de emamectina, agrotóxico até agora proibido no Brasil.

Matéria publicada no jornal Valor Econômico, dia 31 de outubro, mostrava que o governo e a iniciativa privada estão em discussão de uma reformulação completa do rito de análise, autorização e uso de agrotóxicos no país. O Valor informa ainda que a Casa Civil entrou nas discussões que envolvem questões como a pulverização aérea e a importação de defensivos não aprovados no Brasil. Procurada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), a Casa Civil não quis se pronunciar.

Esta liberação só foi permita por conta da Lei nº 12.873/13, de 24 de outubro deste ano, e do Decreto nº 8.133, de 28 de outubro. Ambos prevêem a liberação de agrotóxicos ainda não aprovados no Brasil e o uso dessas substâncias para outra finalidade daquela aprovada anteriormente, em casos de emergência fitossanitária ou zoossanitária, como o caso apontado acima, que aconteceu uma semana depois.

Preocupação

Estas iniciativas foram motivos de preocupação de diversas entidades, entre elas, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia e Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa).

A lei 12873/13, que levou apenas um mês para tramitar na Câmara dos Deputados, no Senado e ter sanção presidencial, traz 64 artigos que tratam de assuntos diversos. Destes, três legislam sobre a autorização do poder do Executivo em declarar estado de emergência fi tossanitária ou zoossanitária e do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), do Ministério da Agricultura, em anuir com a importação e conceder autorização emergencial temporária de produção, distribuição, comercialização e uso, quando declarado este estado.

O Decreto nº 8.133/13, que regulamenta o artigo 53 da lei, por sua vez, determina que a declaração de estado de emergência fitossanitária ou zoossanitária pode ser feita pelo Ministério da Agricultura, quando, segundo o texto, ‘for constatada situação epidemiológica que indique risco iminente de introdução de doença exótica ou praga quarentenária ausente no país, ou haja risco de surto ou epidemia de doença ou praga agropecuária já existente.

“O que mais chama a atenção nestes artigos e depois no decreto é que eles atribuem certos poderes ao Ministério da Agricultura em situação de emergência, mas não explicam quais situações são estas”, destaca Cleber Folgado, diretor executivo da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que completa: “Não é a primeira vez que eles passam ou tentam passar projeto com a mesma estratégia, misturando esse tema num bolo de assuntos que não tem nada a ver”.

O líder da Frente Parlamentar da Agropecuária e deputado federal, Valdir Colatto (PMDB/SC), explica que a intenção com a aprovação desta lei e decreto é evitar prejuízos como os contabilizados no ano passado, que, segundo ele, somam R$ 10 bilhões.

“Esse ano estamos com plantio de novo e sofremos o risco de multiplicar esse prejuízo. A não ser importando um produto aprovado lá fora e que se possa aplicar com alguma segurança possível para que a gente possa controlar as pragas em situação de emergência, que é a finalidade do decreto 8133/13”, explica o deputado. Flávia Londres, uma das coordenadoras da AS-PTA, contesta a situação de relevância, uma vez que a plantação será para assegurar a exportação.

“Estamos falando de colocar em perigo a saúde humana e ambiental em benefício de um grupo de empresas que plantam soja, milho e algodão com a intenção de exportação.Não estamos falando de riscos de falta de suprimento para alimentar o país”, lembrou Flávia. Atualmente, 70% dos alimentos consumidos no país são produzidos pela agricultura familiar. De acordo com o Censo agropecuário do IBGE, apenas 20% das pequenas propriedades usam agrotóxico.

Emergência?

O chefe da divisão da Inspeção e Fiscalização de Insumos Agrícolas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luis Rangel, alega que estas iniciativas foram acordadas junto à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

“Todo esse tema e a regulamentação foi amplamente discutida com os Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente e só agiremos desta forma em caso de emergência. O Mapa vai fazer uma avaliação criteriosa dos casos, não talvez com profundidade de uma avaliação completa de registro – nem se esperaria isso, já que estamos falando de uma medida emergencial – mas baseados em parâmetros internacionais e em países com os quais o Brasil tem uma equivalência em termos de legislação”, explica.

Os agrotóxicos importados nesta ocasião deverão ser aprovados em países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que adotem, nos respectivos âmbitos, o International Code of Conduct on the Distribution and Use of Pesticides da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

De acordo com Rangel, o oeste da Bahia já tinha um mapeamento da situação desde o começo do ano, quando a lagarta helicoverpa se mostrou muito agressiva e acabou expandindo para outras culturas. Ele aponta ainda que estados como o Mato Grosso, Piauí e Goiás estão preparando suas declarações para que o Governo Federal reconheça o estado de emergência.

A avaliação da ASPTA é de que o decreto estabelece poucos critérios e nenhum parâmetro objetivo para a determinação, pelo Mapa, de uma situação de emergência. O texto apresenta ainda que o estado de emergência terá duração de um ano, mas poderá ser prorrogado, por igual período, quando for necessário.

“O temporário pode facilmente se tornar permanente”, avalia Flávia Londres, da ASPTA. Para Luis Rangel, a falta de clareza é uma estratégia que leva em consideração diferentes cenários que podem simbolizar o caráter de emergência. “Deixar critérios claros em situação de emergência e com legislações tão complexas como lei e decreto não é uma estratégia muito inteligente. Para evitar o anseio dos movimentos sociais de que o Mapa utilize isso de maneira indevida, estamos equilibrando nossas ações quando trabalhamos em parceria com a Embrapa, que tratou das questões técnicas e científicas que embasaram todos os critérios para a determinação da emergência”, explica,acrescentando: “Os agrotóxicos não são o fim dessas estratégias, eles são uma ferramenta para um grande plano de emergência”, explica.

Fonte: Brasil de fato

Laísa Mangelli

Horta Caseira – Um novo despertar para a saúde e a natureza.


A industrialização do setor alimentício trouxe a tona novos hábitos alimentares que vem impactando de forma desastrosa na saúde publica mundial. Em poucas palavras, a obesidade, a desnutrição e a falta de conscientização nutricional tomou conta das sociedades, causando preocupações até mesmo para a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nesse ínterim, uma das práticas mais louváveis têm sido as hortas caseiras, uma técnica simples e que vem lentamente crescendo. Abrindo os nossos olhos para o grande monopólio que se tornou a alimentação mundial. Tudo que comemos e bebemos são designados por poucas, mas gigantescas corporações que se baseiam no lucro e produtividade e não na saúde e muito menos no meio ambiente.

 

            

Em um mundo onde não se tem mais tempo para muita coisa, a alimentação industrializada surgiu como uma forma de simplificar a rotina familiar, trazendo praticidade e conforto para o dia a dia das pessoas. Mas apesar de termos diminuído o tempo que gastamos na cozinha, parece que esse movimento fast food acabou por tomar o lugar da boa culinária, trazendo inúmeras conseqüências desastrosas. Passamos a comer enlatados e pré-cozidos com venenos, remédios, anabolizantes (!) e outras infinidades de suplementos utilizados pela agricultura moderna onde o valor estético está acima do valor nutricional.

Por tal, a educação alimentar é um dos pontos que mais vem preocupando os governos, que cada vez mais tem discutido o tema na tentativa de ensinar as pessoas que a importância de uma boa alimentação é fundamental. Isso inclui uma alimentação balanceada, o que alia, principalmente, legumes, verduras e frutas. Em contra partida, é o próprio governo que autoriza e financia tais indústrias alimentícias. Acredito que a solução não está no sistema que nos rege, mas sim em cada um despertar para este grande problema mundial e fazer a sua parte na hora de colocar para dentro do corpo o que realmente ele precisa, comida de qualidade, nutrientes potentes, e não venenos e muito lixo alimentar que vendem nas prateleiras dos supermercados envoltos em marketing de alta qualidade e embalagens que fazem nos olhos brilharem.

As hortas domésticas ou comunitárias, então, se mostram como a melhor solução. A produção caseira de alimentos propicia uma alimentação mais saudável, economia doméstica, e uma mudança na mentalidade familiar. No mais, o contato com a terra traz não só um melhor conhecimento sobre a origem do que se está consumindo, mas uma profunda sensação de bem estar. Mas para resultados realmente recompensadores, o ideal é que o plantio de sementes e mudas esteja de acordo com a necessidade pessoal e a disponibilidade de cuidar realmente daquele espaço, pois requer o mínimo de trabalho e cuidado.

               

É possível o cultivo de temperos, legumes, verduras e frutas em várias dimensões de espaços e de diversas maneiras. Cada vegetal tem suas particularidades que devem ser pesquisadas, como o espaço ideal para o plantio e a quantidade de regas necessárias na semana. Desde que a horta seja bem tratada, a natureza se encarrega de fazer a parte mais complexa. O melhor é que com um investimento pequeno é possível ter alimentos crescendo livres de conservantes e agrotóxicos.

Além do mais, essa é uma função quase que terapêutica também, e por tal tem sido adotada por muitas pessoas que moram nas grandes cidades – uma válvula de escape para acalmar-se depois de um dia de compromissos e afazeres. Em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo já existe um vasto número de hortas comunitárias, onde a quantidade de pessoas cada vez maior se reúne para plantar e trocar experiências a respeito do cultivo da terra. Uma nova conscientização começa a aparecer.

             

Como se observa, o plantio caseiro aparece como a solução mais barata e inteligente para a questão. Qualquer pedacinho de quintal ou até mesmo vasos são espaços que já podem ser utilizados para se começar a buscar direções mais saudáveis. No mais, o planeta agradece também, uma vez que a produção e o consumo de subsistência livram o produto de ter que ser conservado e transportado até a venda final, reduzindo as emissões de gases poluentes e a utilização de recursos naturais que geralmente são utilizados nas embalagens e nos processos de logística e transporte. Enfim, transformar a alimentação em saudável e sustentável é possível.

Ao ser questionada sobre os altos preços dos orgânicos nos mercados, sempre respondo que o valor investido em saúde nunca é demais. Além do que, o sabor é realmente diferente, sem contar que de fato quando consumimos orgânicos, estamos consumindo nutrientes em alto potencial e não um legume ou verdura oco como diz no vídeo abaixo o Engenheiro Agrônomo Edson Hiroshi da Ecovila Clareando, que possuem beleza e tamanho, mas em contra partida são pobres em nutrientes.

E ter a consciência de que se está consumindo algo verdadeiro, que não foi modificado e não agrediu o meio ambiente de forma tão danosa é compensador, pois a mudança que queremos para o mundo começa dentro de casa, mudando a nós mesmos.

Fonte: Naturalmente orgânicos

Laísa Mangelli

 

O nebuloso cenário dos agrotóxicos no Brasil


Entrevista especial com Robson Barizon

 

“Ainda há muita informação a ser gerada para que consigamos ter uma posição mais assertiva sobre a condição do meio ambiente em relação à contaminação por agrotóxicos no Brasil”, adverte o engenheiro agrônomo.

 Foto: www.ambietica.com.br

Apesar de o Brasil ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2008, é preciso “gerar muito mais informação para entender como está o cenário de uso de agrotóxicos no país”, diz Robson Barizon, um dos autores do estudo“Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011”, realizado pela Embrapa neste ano. Segundo ele, ainda são produzidas poucas pesquisas em relação às implicações do uso de fertilizantes na agricultura.

“A restrição orçamentária talvez seja o principal ponto a ser desenvolvido, porque ainda não temos programas de monitoramento, como seria o ideal. Todos os estados deveriam ter um programa de monitoramento, considerando suas culturas e as moléculas mais utilizadas na região, e a partir das conclusões dos monitoramentos regionais/estaduais, deveriam ser tomadas as medidas para mitigar os impactos levantados por esses monitoramentos”, pontua, em entrevista por telefone à IHU On-Line.

Entre as preocupações envolvendo o uso de agrotóxicos no país, Barizon chama a atenção para a contaminação da água, “já que a falta de saneamento de esgoto é um problema sério no Brasil. Esse esgoto tem níveis altos de nitrato, além de outros problemas microbiológicos, e níveis altos de nitrogênio. Em pontos próximos às áreas urbanas, é possível observar níveis maiores de nitrogênio, mas em bacias hidrográficas, onde a influência maior é só da área agrícola, os níveis de nitrogênio ainda são considerados baixos. Tendo a agricultura como fonte de contaminação, ainda não constatamos um problema que leve a ações maiores”. Entre as culturas que contaminam a água, está a produção de arroz irrigado. “Pelo fato de o arroz irrigado ser produzido com lâmina d’água, a qual retorna aos corpos d’água, existe, sim, um risco maior de contaminação nessa cultura do que em outras. Isso foi constatado em alguns estudos que nós levantamos. Então, nesse sentido, há, sim, uma preocupação com a cultura do arroz e deve ser dada mais atenção ao manejo desse produto”, adverte.

 Foto: www.ambietica.com.br

Robson Barizon é graduado em Engenharia Agrônoma pelaUniversidade Federal do Paraná – UFPR e doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é pesquisador da Embrapa Meio Ambiente de São Paulo.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Quais são as principais conclusões do estudo sobre contaminação por agrotóxicos no Brasil, intitulado “Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011”? É possível dar um parecer sobre o uso de agrotóxico nas regiões analisadas? Os níveis de uso de agrotóxicos são aceitáveis ou ultrapassam o limite permitido?

Robson Barizon – A principal conclusão a que chegamos com esse trabalho foi a de que ainda há muita informação a ser gerada para que consigamos ter uma posição mais assertiva sobre a condição do meio ambiente em relação àcontaminação por agrotóxicos no Brasil.

Pelos trabalhos que conseguimos levantar [1], os níveis de resíduos ainda são considerados aceitáveis e estão de acordo com os padrões internacionais estabelecidos. De todo modo, não foi possível uma conclusão assertiva sobre o panorama do uso de agrotóxicos no país, considerando a quantidade restrita de trabalhos encontrados sobre o tema.

IHU On-Line – Quais são os avanços em relação à análise da toxicologia dos agrotóxicos?

Robson Barizon – A ciência e os métodos estão avançando, inclusive a sensibilidade analítica dos equipamentos está evoluindo com o tempo. Então, moléculas que antes não eram detectadas passam a ser detectadas com métodos mais modernos e com equipamentos mais sensíveis.

 

"No Brasil ainda não há indicativo de que qualquer aquífero esteja contaminado"

IHU On-Line – Um dos objetivos do estudo foi identificar e avaliar o cenário de uso e presença de agrotóxicos e fertilizantes nitrogenados no Brasil. Quais são as principais constatações acerca desse ponto? Quais as ocorrências de agrotóxicos e de nitrato nas cinco regiões brasileiras analisadas e em quais culturas esse fertilizante é utilizado?

 

Robson Barizon – Hoje a produção agrícola brasileira é quase que completamente pautada pelo uso desse insumo. Nesse trabalho não foi abordada a intensidade de uso de cada uma das culturas produzidas no Brasil, mas de forma geral podemos dizer que os grãos utilizam agrotóxicos em uma intensidade menor, e culturas com valor agregado maior, como hortaliças e espécies frutíferas, usam agrotóxicos com uma intensidade maior.

Com relação ao nitrato, os níveis encontrados em áreas agrícolas foram baixos e não eram preocupantes. Talvez a preocupação maior seja realmente com a fonte urbana de contaminação, que é o esgoto não tratado. Então, no que se refere ao nitrato, há tensão com a fonte urbana de contaminação, já que a falta de saneamento de esgoto é um problema sério no Brasil.

IHU On-Line – Então o problema não está na quantidade de nitrato utilizado nas culturas agrícolas, mas na falta de tratamento da água?

Robson Barizon – Sim, porque como os esgotos no Brasil têm um percentual de tratamento muito baixo, uma parte do esgoto gerado é lançada diretamente nos rios. Esse esgoto tem níveis altos de nitrato, além de outros problemas microbiológicos, e níveis altos de nitrogênio. Em pontos próximos às áreas urbanas, é possível observar níveis maiores de nitrogênio, mas em bacias hidrográficas, onde a influência maior é da área agrícola, os níveis de nitrogênio ainda são considerados baixos. Tendo a agricultura como fonte de contaminação, ainda não constatamos um problema que leve a ações maiores.

IHU On-Line – Quais são as principais observações a serem feitas em relação ao uso de agrotóxicos na cultura de arroz, por exemplo, no RS? Há risco de contaminação dos corpos d’água que recebem a água da lavoura?

Robson Barizon – Pelo fato de o arroz irrigado ser produzido com lâmina d’água, a qual retorna aos corpos d’água, existe, sim, um risco maior de contaminação nessa cultura do que em outras. Isso foi constatado em alguns estudos que nós levantamos. Então, nesse sentido, há, sim, uma preocupação com a cultura do arroz e deve ser dada mais atenção ao manejo desse produto.

IHU On-Line – É alto o índice de uso de agrotóxicos na produção de arroz?

Robson Barizon – É alto, sim, o índice de uso de agrotóxico nessa cultura. Mas nós só incluímos na pesquisa os trabalhos que encontramos, os quais já mostram que existe um potencial de contaminação. Existem algumas iniciativas do Estado do Rio Grande do Sul para acompanhar a situação, porque realmente é necessário, uma vez que existe um uso intensivo de agrotóxicos na produção de arroz e a água utilizada para a irrigação retorna aos rios, aos corpos d’água.

IHU On-Line – O estudo aponta que na região Nordeste o uso de agrotóxicos é intenso por conta da produção de frutas para exportação. Quais são as frutas cultivadas a base de agrotóxicos? Nesse caso há um controle do uso de agrotóxico por conta da fiscalização do mercado externo?

Robson Barizon – A produção de frutas lá é praticamente feita de forma irrigada e basicamente é feita no Vale do Rio São Francisco. As principais culturas ali cultivadas são mamão, uva de mesa e melão. Só que nesse caso os níveis de agrotóxico são bastante controlados porque os países importadores têm normas rígidas de controle. Então, pelo menos nessas áreas existe um cuidado com o uso de agrotóxicos para que não ultrapassem os limites aceitáveis no fruto, porque os países que importam, geralmente países da Europa e do Hemisfério Norte, também fazem o controle.

"O Brasil recolhe acima de 80, 90% das embalagens e é o líder mundial nesse quesito, ou seja, é o país que consegue recolher o maior índice de embalagens de agrotóxicos"

IHU On-Line – Alguns aquíferos já apresentam indícios de contaminação por conta do uso de agrotóxicos? A pesquisa menciona uma preocupação com os aquíferos de Serra Grande e Poti-Piauí, no Piauí?

Robson Barizon – Nesse caso nós levantamos a informação e o cuidado preventivo que deve existir com esses aquíferos. Muitos aquíferos estão protegidos por uma camada de rocha impermeável, que funciona como uma barreira, mas os de Serra Grande e Poti-Piauí são aquíferos livres, ou seja, eles chegam até a superfície do solo, então o potencial de contaminação deles é alto. Porém, isso não quer dizer que eles já estejam contaminados. Nas áreas desses aquíferos existe o uso de agrotóxicos, mas apenas o uso não indica que haja contaminação, porque se podem selecionar moléculas — essa é uma das formas de se evitar a contaminação — que tenham menor solubilidade em água.

Existe uma variedade muito grande de moléculas, de propriedades físico-químicas de moléculas. Se, nessas situações, forem selecionadas moléculas que não sejam muito solúveis em água, que não vão ser transportadas junto com a água, que vão ficar retidas na superfície do solo, onde se precisa fazer o controle do fungo, da planta daninha, do inseto, então o risco de contaminação é bastante reduzido. Portanto, trata-se mais de um alerta para que sejam tomadas medidas de prevenção em relação aos aquíferos. No Brasil ainda não há indicativo de que qualquer aquífero esteja contaminado.

IHU On-Line – Na região Centro-Oeste, chama a atenção na pesquisa a redução entre 40 e 50% dos teores de matéria orgânica dos solos cultivados em relação aos solos virgens. Quais as implicações do uso de agrotóxico para o solo?

Robson Barizon – Principalmente onde a vegetação natural era mata, com grande porte de biomassa, quando foi feita a retirada dessa mata e foi introduzida a atividade agrícola, os níveis de material orgânico diminuíram. Isso aconteceu no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, quando se reduziu a Mata Atlântica para a expansão da agricultura, ou seja, os níveis de carbono foram reduzidos. Como um dos mecanismos de retenção dos agrotóxicos do solo é a retenção pela matéria orgânica, se o nível de matéria orgânica é reduzido, a retenção é menor.

O plantio direto, que foi adotado a partir da década de 1990 e se expandiu no Brasil, vai no caminho contrário; ele aumenta novamente os níveis de carbono. Então, medidas como essa, utilizadas na agricultura onde houve decréscimo dos níveis de matéria orgânica de carbono, possibilitam que se atinjam novamente os níveis iniciais de matéria orgânica ou, pelo menos, que se elevem esses níveis.

IHU On-Line – Como tem se dado o processo de recolhimento das embalagens de agrotóxicos? Qual a situação do Brasil em relação à logística reversa?

Robson Barizon – Esse é um motivo de orgulho para o Brasil, porque o país é referência mundial em logística reversa. Foi criado o Instituto para o Desenvolvimento Social e Ecológico – Idese, o órgão responsável pela organização e execução dessa atividade. O Brasil recolhe acima de 80, 90% das embalagens e é o líder mundial nesse quesito, ou seja, é o país que consegue recolher o maior índice de embalagens de agrotóxicos que, se ficarem na propriedade, no campo, têm um potencial alto de contaminação tanto para o trabalhador quanto para o meio ambiente.

IHU On-Line – Na pesquisa vocês mencionam que apesar de o uso de agrotóxico ter crescido consideravelmente no país, ainda há pouca pesquisa sobre o assunto. Quais as razões? E que tipo de estudo e monitoramento deveria ser feito para se ter um panorama do uso de agrotóxicos no país?

Robson Barizon – Esse é um processo lento e gradual. A legislação que trata da regulamentação do uso de agrotóxicos no Brasil tem avançado, inclusive nos últimos 20 anos. Mas o acompanhamento acerca do uso de agrotóxicos exige investimento, porque são análises caras. Então, a restrição orçamentária talvez seja o principal ponto a ser desenvolvido, porque ainda não temos programas de monitoramento, como seria o ideal.

Todos os estados deveriam ter um programa de monitoramento, considerando suas culturas e as moléculas mais utilizadas na região, e a partir das conclusões dos monitoramentos regionais/estaduais, deveriam ser tomadas as medidas para mitigar os impactos levantados por esses monitoramentos.

IHU On-Line – Qual é a alternativa aos agrotóxicos? É possível pensar no desenvolvimento agrícola sem o uso desses produtos?

Robson Barizon – Uma agricultura sem o uso de agrotóxicos não é possível; seria uma perspectiva utópica. Mas podemos avançar muito mais para reduzir o uso desses produtos. Nesse sentido, deve-se trabalhar em duas frentes: constatado o fato de que é preciso fazer uso dessa substância, então temos de controlá-la e monitorá-la; além disso, podemos fazer o uso racional dessas substâncias, utilizando-as somente quando for necessário.

Temos muito a avançar, por exemplo, no controle biológico, no uso de agentes biológicos para controlar outras pragas, quer dizer, se usa um inseto para controlar outro inseto, se usa um microrganismo para controlar outro inseto. Esse tipo de prática deveria ser mais estudado e desenvolvido no Brasil. Em relação à tecnologia de aplicação, é importante usar equipamentos com a regulagem correta para aquela condição de uso, para que se evitem perdas para a atmosfera, para que se evite a contaminação de áreas que não aquelas onde a lavoura está instalada. Então, há uma série de práticas que podem reduzir a quantidade de agrotóxico utilizada.

Hoje, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, tomando o posto que antes era ocupado pelosEstados Unidos, e a tendência é de alta. Então, todas essas medidas poderiam reverter essa tendência de aumento de consumo e trazer a agricultura brasileira para níveis mais sustentáveis.

NOTA

[1] O estudo “Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011” foi realizado com base na análise de pesquisas acadêmicas sobre o uso de agrotóxicos no período de 1992 a 2011.

Estudo sobre contaminação por agrotóxicos no Brasil está disponível para download


O panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil, entre 1992 a 2011, foi analisado pelos pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) Marco Gomes e Robson Barizon e disponibilizado para download.

A reportagem é de Cristina Tordin, publicado pela Embrapa, 26-06-2014.

 

             

Conforme os autores, “o objetivo foi obter um diagnóstico mais próximo da realidade sobre a presença e contaminação do solo e da água para que sirva de alerta, e principalmente, de apoio às iniciativas direcionadas ao controle e uso racional dessas substâncias. A publicação também apresenta relatos de várias ocorrências nas cinco regiões brasileiras, com ênfase para as áreas rurais, em um cenário que, se ainda não é alarmante, remete à necessidade de reflexão e de tomada de atitude no sentido de evitar que se torne crítico”.

Região Sudeste

Os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os que mais apresentam casos de ocorrência de organoclorados, embora proibidos há alguns anos no Brasil. No caso do estado de São Paulo, estudos em sedimentos de 11 córregos da região central identificaram a presença de 16 organoclorados.

Em relação ao estado de Minas Gerais, um estudo na cidade de Viçosa revelou a presença dos organoclorados BHCDDT em sedimentos do Ribeirão São Bartolomeu, além da presença de Heptacloro epóxido, Endrin e DDT.

Estudo realizado no Parque Estadual Terras Alto Ribeira (Petar) localizado no Vale do Ribeira, analisou amostras de água, sedimento e peixe no período das chuvas em janeiro de 2000 e seus resultados indicaram que a fauna doPetar está exposta a diferentes agrotóxicos que se encontram dissolvidos na água ou presentes no sedimento, sendo que dos 20 detectados, sete foram considerados altamente tóxicos para peixes e outros organismos aquáticos.

No estado do Rio de Janeiro as atividades agrícolas estão concentradas na região serrana, com a presença constante de situações de risco de contaminação ambiental por agrotóxicos. Outro estudo detectou concentrações de agrotóxicos anticolinesterásicos em valores até oito vezes acima do limite permitido pela legislação brasileira em dois pontos de um importante curso hídrico regional.

Quando se trata de aquíferos menos profundos, a exemplo do Bauru, que é do tipo livre, onde a recarga é direta, os riscos de contaminação são elevados.

Região Sul

No estado do Rio Grande do Sul, estudos mostram a presença de glifosato em lavouras de arroz irrigado com água da Lagoa Mirim em concentrações acima do valor máximo permitido pela Agência de Proteção Ambiental Americana (USEPA). Outras regiões orizícolas também apresentam resíduos de agrotóxicos em seus mananciais e em todas verifica-se a presença de ao menos um agrotóxico ocorrente em águas subterrâneas. Nas regiões da Planície Costeira Interna à Laguna dos Patos e Santa Catarina pode-se averiguar que a totalidade das amostras monitoradas continha a presença de ao menos um agrotóxico; as regiões da Fronteira Oeste, Depressão Central e Planície Costeira Externa à Laguna dos Patos apresentaram 89% das amostras contaminadas e as regiões da Campanha e Sul do Rio Grande do Sul apresentaram 78 e 63%, respectivamente, das amostras contaminadas com, ao menos, um agrotóxico.

Regiões Norte e Nordeste

Na região amazônica, o comprometimento da qualidade da água, de uma forma global, está diretamente relacionado à possibilidade do avanço da agricultura com uso mais intensivo de agroquímicos, principalmente na cultura da soja.

Na região norte os riscos de contaminação da água subterrânea concentram-se, principalmente, na porção nordeste do Pará, onde a monocultura de soja avança sobre todos os tipos de solos. Este cenário coloca o Aquífero Itapecuru(livre), em situação de alerta, uma vez que as condições atuais de ocupação e manejo do solo indicam possíveis interferências. Ainda no estado do Pará, existe um cenário preocupante na região de Igarapé-Açu, especificamente naBacia Hidrográfica do Igarapé Cumaru, onde se utiliza uma carga expressiva de agrotóxicos sem controle, vários deles com alto potencial de lixiviação e de transformação em compostos mais tóxicos do que as moléculas originais. Trabalhos na região de Igarapé-Açu, por exemplo, indicaram que o inseticida/acaricida dimetoato pode chegar ao lençol freático e comprometer a qualidade de água do aquífero freático do Grupo Barreiras.

Na região nordeste o cenário torna-se ainda mais crítico, principalmente devido aos sistemas de produção de frutas para exportação que engloba toda a região do Vale do Submédio Rio São Francisco. Outra região que merece atenção é a de ocorrência dos aquíferos Serra Grande (predominantemente confinado) e Poti-Piauí (livre). Na Bahia, o cenário mais crítico está relacionado ao Aquífero Urucuia, região oeste do Estado.

Região Centro-Oeste

Com relação às águas subterrâneas foram consideradas três áreas. A primeira delas refere-se às porções de recarga do Aquífero Guarani nas Nascentes do Araguaia. A segunda, localizada no estado do Mato Grosso, apresentou uma redução entre 40 e 50% dos teores de matéria orgânica dos solos cultivados em relação aos solos virgens, devido ao uso e manejo do solo ao longo de 12 anos nas nascentes do rio Paraguai (Alto Pantanal). Ao mesmo tempo, tais áreas foram submetidas a cultivos intensivos com exigências, tanto de adubos e fertilizantes, quanto de agrotóxicos. Além disso, esta região também apresenta risco às águas superficiais. Diferentes ingredientes ativos têm sido detectados em amostras da região nordeste da bacia.

A terceira região localiza-se na porção leste do estado de Mato Grosso, onde verificou-se o potencial de contaminação de águas superficiais e subterrâneas em uma área agrícola em Primavera do Leste. Estudos desenvolvidos em áreas sob cultivo intensivo de algodão, milho e soja indicaram a presença de alguns herbicidas na água subterrânea, normalmente usada para consumo humano.

“Assim, explicam os autores, verifica-se que resíduos de agrotóxicos e de nitratos são frequentemente detectados nesses escassos monitoramentos. Na maior parte dos casos relatados, as concentrações encontradas, seja no solo, água ou em organismos, normalmente estiveram abaixo dos valores críticos estabelecidos por agências ambientais da Europa e Estados Unidos. Entretanto, os resultados devem ser analisados com cautela, pois como já enfatizado, as informações disponíveis não permitem estabelecer um panorama assertivo a respeito da contaminação do solo e da água por agroquímicos.

Avanços

Avanços importantes no cenário regulatório ocorreram nesses 20 anos pós Rio+, com destaque para a publicação daLei 9.974, de 2000, que estabeleceu diretrizes para o recolhimento das embalagens vazias de agrotóxicos e a promulgação do Decreto 4.074, de 2002, que regulamenta a Lei 7.802/89, importante documento jurídico que abordou temas relevantes relacionados à saúde humana e à proteção ambiental, com destaque para a criação do Sistema de Informação sobre Agrotóxicos (SIA), introdução dos produtos equivalentes, proibição de produtos sem antídotos, criação do Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos (CTA), além do estabelecimento da exigência legal visando a implementação da avaliação de risco destes compostos, tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente.

A avaliação do risco ambiental, utilizando modelos matemáticos, é de extrema importância, pois permite a avaliação de um conjunto de cenários que não seria possível por meio exclusivamente de monitoramentos.

 

Fonte: IHU – Unisinos

Agrotóxicos na natureza e na saúde humana


Agrotóxicos na natureza e na saúde humana, artigo de Roberto Naime

agratóxico, pulverização aérea

pulverização aérea de agrotóxicos

 

[EcoDebate] A utilização de agrotóxicos levanta uma série de preocupações ambientais. Mais de 98% dos insecticidas pulverizados e 95% de herbicidas chegam a espécies/vítimas diferentes daquelas às quais inicialmente se destinam e pretendem, incluindo espécies não-alvo, como a água, o ar e o solo.

A dispersão de agrotóxicos ocorre quando em suspensão no ar como partículas, são levadas pelo vento para outras áreas, podendo gerar contaminação.
Além disso, o uso de agrotóxicos reduz a biodiversidade e a fixação de nitrogênio e contribui para o declínio dos polinizadores e destrói o “habitat” e recursos alimentares contribuindo para o declínio de espécies ameaçadas de extinção.

As pragas podem desenvolver uma resistência aos agrotóxicos, necessitando de novos produtos. Por vezes e em alternativa utiliza-se uma maior dose das moléculas para neutralizar a resistência, embora isso irá causar um agravamento de toda a cadeia de consequências no problema da poluição ambiental.

Por fim a exploração em monocultura, resulta em profundos desequilíbrios ecossistêmicos e maior incidência de pragas, que levam a utilização de mais moléculas.

Todos os profissionais que apreendem e incorporam princípios básicos do evolucionismo em suas áreas de trabalho, sabem que, quando determinados antídotos sintetizados, de natureza química, são ministrados para populações visando sua eliminação, tendem a sobreviver apenas indivíduos resistentes a este antídoto e com melhor aptidão para sobrevivência.

Até que sejam eliminados por novas versões de antídotos químicos, pesquisados, sintetizados e desenvolvidos especialmente para esta finalidade. Numa espiral que se conhece o começo, mas não tem fim. Qualquer médico sabe que quando determinado vírus ou bactéria se torna resistente a um antibiótico, é preciso lançar mão de uma a geração mais moderna de antídotos químicos, numa espiral sem fim.

Toda a alimentação, que não está classificada e assumida como biológica ou ecológica, provem de explorações agrícolas onde estes produtos são geralmente usados, o que equivale a dizer que toda a alimentação que se consome está contaminada, em maior ou menor escala. Incluindo os alimentos transformados, pois estes provêm de matérias primas agrícolas que sofrem dos efeitos de uso dessas práticas.

Em termos industriais, acresce ainda o fato que os produtos alimentares industriais resultam da adição de inúmeros ingredientes químicos e de síntese, que por vezes chegam a ser bastante mais perigosos que os próprios agrotóxicos.

Os agrotóxicos podem causar efeitos agudos na saúde naqueles que a eles estão expostos. Essa exposição pode causar uma variedade de efeitos adversos à saúde e que podem variar desde uma simples irritação da pele e olhos, até aos problemas mais graves como aqueles que afetam o sistema nervoso, mimetizando os hormônios, e que causam problemas reprodutivos, e inclusive provocam o câncer.

A Associação Médica Americana “recomenda limitar a exposição a pesticidas e a adoção e utilização de alternativas mais seguras: Muitas incertezas particulares existem a respeito dos efeitos a longo prazo na já referida exposição e consumo que deve ser ao máximo, mantida em baixa dose e vigilância permanente. Os atuais dados e sistemas são insuficientes para caracterizar o risco potencial de problemas relacionados ao uso de agrotóxicos e na relação das doenças que podem ser causadas.

Considerando estas lacunas de dados, é prudente tomar medidas e informar para limitar a exposição, usando o mínimo de produtos químicos tóxicos assim como aditivos alimentares.
Um outro estudo descobriu que os agrotóxicos usados como recurso para o auto-envenenamento, foi o método eleito num terço dos suicídios realizados no mundo, e recomendou, entre outras coisas, mais restrições sobre os tipos de pesticidas e sua venda livre, relativamente aos que são mais prejudiciais para os seres humanos.

O desastre em Bhopal na Índia, ocorreu quando uma fábrica de agrotóxicos lançou 40 toneladas de metil-isocianato (MIC) de gás, um produto químico intermediário na síntese de alguns insecticidas. O desastre matou quase imediatamente 2.259 pessoas e causou posteriormente pelo menos 15.000 mortes. Claro que nestas estatísticas só estão contabilizados humanos, pois se alargarmos o espectro de análise para seres vivos, provavelmente se estará registrando centenas de milhares de milhões.

Isto se alastra a análise dos efeitos ambientais dos agrotóxicos, não unicamente para a sua utilização na agricultura, mas também e de modo nenhum menos grave ou com menos impacto, para o processo de produção.

Alternativas aos agrotóxicos estão disponíveis e incluem métodos de cultivo naturais ou ecológicos e uso de controles biológicos de pragas, além de engenharia genética e métodos de interferir com a reprodução dos insetos.

As práticas de cultivo incluem as policulturas, rotação de culturas, o plantio de culturas em áreas onde as pragas que danificam as culturas sejam em número reduzido, de acordo com a época de plantio, quando as pragas sejam menos problemáticas, e uso de culturas armadilhas ou iscas, que atraem as pragas para longe a cultura real.

O lançamento de outros organismos que combatem a praga é outro exemplo de uma alternativa à utilização de pesticidas.

Na Índia, os métodos tradicionais de controle de pragas incluem o uso do “Panchakavya”, que é um produto tradicional, que é uma “mistura de cinco substâncias”. O método recentemente experimentou um ressurgimento na popularidade devido em parte ao uso pela agricultura orgânica comunitária em várias regiões.

Um crescente corpo de dados epidemiológicos estão ligados a exposição a agrotóxicos que são absorvidos no período pré-natal, em que as substâncias atravessam a placenta durante o desenvolvimento fetal, bem como a exposição nos primeiros anos de vida de uma criança.

Um estudo realizado pelos Centros de Controle de Doenças e Prevenção nos Estados Unidos, conclui que o cidadão médio americano, retinha mais de uma dezena de diferentes moléculas no seu organismo.

Referências:

http://cultivarbiodiversidade.blogspot.com.br/2011/03/agraotoxicos-na-natureza-e-na-saude.html

* No EcoDebate, a tag Agrotóxicos

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, 17/02/2016

Transgênicos, veneno no prato


               

 

            Com a consciência coletiva agora abraçando um estilo de vida sustentável, não tinha como o ser humano dessa geração também não querer ter uma atitude sustentável em relação ao próprio corpo. Tantas foram as eras que passamos, evoluindo, especialmente com o  auge do  modernismo, capitalismo, mais foi produzido no planeta o que chamamos de “Inutilidade Tóxica”, que mais tarde veio a ser o “lixo tóxico”.

               A sociedade foi estimulada ao consumismo no mesmo ritmo imperativo do aumento da produção. O problema maior ocorreu quando a febre pelo consumo atingiu o ápice da alienação, criando assim as personagens super aproveitadoras do “progresso”.  Com outras palavras, mais as companhias de produção procuraram atingir um maior êxito no seu numero de produção, pouco se preocuparam com a qualidade do que colocavam no mercado.  E assim, passamos, gerações e gerações, comprando, consumindo produtos transgênicos, de todo tipo,  confiando completamente no caráter pouco digno de tais companhias. Esse sistema quase invisível transformou pequenas empresas em grandes companhias milionárias e de monopólio.

          Mas o quê, afinal, são esses Transgênicos?

            Os Transgênicos ou organismos geneticamente modificados são produtos de cruzamentos que jamais aconteceriam na natureza, como, por exemplo, arroz com bactéria. Um organismo, planta e animal, por exemplo, se torna transgênico quando através da engenharia genética, recebe genes de outra espécie e sofre alterações em seu código genético. Este processo é feito em laboratórios. O gene inserido confere novas características a esse ser. Por exemplo, o salmão transgênico recebeu um gene de porco para engordar mais rápido.

             Alguns cientistas, como o farmacêutico bioquímico Flávio Finadi, professor da Universidade de São Paulo (USP), descrevem os transgênicos como apenas uma das aplicações da biotecnologia.  Os genes contêm as informações que definem as características naturais dos organismos, como a cor dos olhos de uma pessoa ou o perfume de uma flor. Ao receber um ou mais genes de outro organismo, um vegetal supostamente poderia se tornar resistente a pragas ou mais nutritivo, por exemplo. A meta dessa ciência seria a melhora da qualidade de vida em diversos aspectos. Supostamente indicada para o homem no desenvolvimento de alimentos mais seguros, saudáveis e nutritivos. Mas, espera um momento! Nossos alimentos naturais não são seguros, saudáveis e nutritivos?  

                   A realidade é bem diferente. As empresas de biotecnologia estão tentando obter o monopólio da produção de sementes. Isto ameaça seriamente a produção alimentar, que é a garantia de que um povo tenha ao seu alcance alimentos em quantidade suficiente, de boa qualidade e a preços acessíveis. Por meio de um ramo de pesquisa relativamente novo (a engenharia genética), fabricantes de agroquímicos criam sementes resistentes a seus próprios agrotóxicos, ou mesmo sementes que produzem plantas inseticidas. As empresas ganham com isso, mas nós pagamos um preço muito alto: riscos à nossa saúde e ao ambiente onde vivemos.

              A introdução de transgênicos na natureza expõe nossa biodiversidade a sérios riscos, como a perda ou alteração do patrimônio genético de nossas plantas e sementes e o aumento dramático no uso de agrotóxicos. De acordo com o Greenpeace, diante da crise climática em que vivemos, a preservação da biodiversidade funciona como um seguro, uma garantia de que teremos opções viáveis de produção de alimentos no futuro e estaremos prontos para os efeitos das mudanças climáticas sobre a agricultura. Porém, o modelo agrícola baseado na utilização de sementes transgênicas é a trilha de um caminho insustentável.

                O aumento dramático no uso de agroquímicos decorrentes do plantio de transgênicos é exemplo de prática que coloca em cheque o futuro dos nossos solos e de nossa biodiversidade agrícola. A utilização de transgênicos na agricultura tem causado o aparecimento de plantas daninhas e pragas resistentes, o que tem como conseqüência o aumento do uso de agrotóxicos e da dependência do agricultor para com as indústrias, como a Monsanto. Não por acaso o Brasil se tornou o maior consumidor mundial de agrotóxicos em 2008 – depois de cerca de dez anos de plantio de transgênicos – sendo mais da metade deles destinados à soja, primeira lavoura transgênica a ser inserida no País.

               Outro detalhe é que esse sistema torna a agricultura e os agricultores reféns de poucas empresas que detêm a tecnologia, e põe em risco a saúde de agricultores e consumidores.   O professor Rubens Onofre Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina, diz que as conseqüências a longo prazo do consumo dos transgênicos são incertas. Assim, como o seu efeito na natureza. "A diferença de uma vaca louca para uma sadia é apenas uma mudança na estrutura de uma mesma proteína", aponta o cientista. "Quando se mistura um gene em uma célula não há certeza de como será sua replicação daí para frente", alerta o professor. Michael Hansen, PhD. em biotecnologia e integrante da Consumers Union, é outra voz que aponta a necessidade de estudos científicos mais aprofundados e de longo prazo sobre organismos geneticamente modificados (OGMs) e desaprova sua utilização em escala comercial. “Já se observou na prática que milho, batata, algodão, cebola e outras plantas geneticamente modificadas para portar o Bacillus thuringiensis (Bt, que resiste ao pesticida Round Up) destroem outros fungos benéficos ao solo", alerta o professor catarinense.

              Além disso, a produção de transgênicos agrícolas é o paradigma de concentração corporativa mais extrema da história da agricultura. Somente seis empresas controlam todo o mercado mundial e uma só, a Monsanto, retém 88% do mercado mundial. As três maiores empresas de transgênicos – Monsanto, Syngenta, Dupont – são também as que têm a maior porcentagem do mercado de sementes comerciais em geral (não só transgênicas): juntas, controlam quase a metade (47%) do mercado mundial de sementes sob propriedade intelectual.  “Goste você ou não, é provável que a Monsanto tenha contaminado a comida que você comeu hoje com agrotóxicos e transgênicos. A Monsanto controla a maior parte do suprimento global de alimentos à custa da democracia alimentar ao redor do mundo", diz o  movimento  Occupy Monsanto.

FONTE: Greenpeace; Occupay Monsato; http://cib.org.br; Instituto Ethos.

Laísa Mangelli

O modelo de produção agrícola em discussão: o 2,4-D e a toxidade dos agrotóxicos.


Entrevista especial com Karen Friedrich

"O modelo de produção agrícola baseado na 'tecnologia' química e de transgênicos tem que ser revisto", afirma a toxicóloga.

Foto: Envolverde

Com a resistência gradual das pragas e plantas daninhas aos agrotóxicos tradicionais, a indústria dos transgênicos precisou buscar alternativas mais eficientes para a manutenção de seus resultados. Uma das apostas do mercado é liberar a comercialização de sementes resistentes ao herbicida 2,4-D. A substância já tem o seu uso regulado no País, mas, ainda assim, dúvidas quanto à sua segurança toxicológica levaram uma série de especialistas a apontar a exigência da revisão de sua licença. Neste contexto, a toxicóloga Karen Friedrich alerta: “A liberação da semente legitimaria uma forma de aumentar a aplicação de uma substância tóxica, cujo uso deveria ser diminuído, não incentivado”.

Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, Friedrich alerta para os perigos da substância, que é conhecida como um dos componentes do Agente Laranja. O composto foi utilizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã como desfolhante, e sua toxidade gerou milhares de relatos sobre má-formação congênita, câncer e problemas neurológicos. Ainda assim, desde 1945 a substância teve sua patente requerida e utilizada para a agricultura. A toxicóloga da Fundação Oswaldo Cruz ressalta que o uso conjunto do 2,4-D com o 2,4,5-T é que forma o Agente Laranja, mas isoladas as substâncias também geram graves problemas.

“Há vários estudos mostrando que o 2,4-D está associado a alguns tipos de câncer, como aos relacionados a alguns órgãos sexuais e linfomas”, relata ela. “Há estudos indicando alterações de hormônios sexuais e das funções da tireoide”, sem mencionar a produção de dioxina como subproduto – uma substância extremamente tóxica. Para a toxicóloga, as empresas de agrotóxicos apresentam-se como a “solução de todos os problemas” do trabalhador rural e da produção de alimentos no mundo, mas este discurso é enviesado devido aos interesses comerciais envolvidos. “Temos que fazer essa discussão com base científica. Tirar essa discussão ideológica da produção e do desenvolvimento e ver o que é bom para o meio ambiente, para a saúde, e que ao mesmo tempo sustente economicamente o país.”

Karen Friedrich. Foto: Abrasco

Karen Friedrich possui graduação em Biomedicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Mestrado e Doutorado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente é servidora pública do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz e professora assistente da Universidade Federal do Estado do Rio.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Muito se comenta sobre o alto nível de toxidade do herbicida 2,4-D. O que pode dizer sobre este composto? Qual a situação do 2,4-D no Brasil?

Karen Friedrich – O 2,4-D é um herbicida, como você falou, e tem seu uso liberado no Brasil. No entanto, segundo os critérios da legislação brasileira, ele já poderia ter um indicativo de proibição. Ele é usado em outros países também, mas a legislação desses países é diferente da nossa. O único problema é que fazer a revisão de um agrotóxico no país é um processo complicado, no sentido que a ANVISA ou o Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, propõem essa revisão de acordo com os efeitos que as substâncias podem causar sobre a saúde humana ou sobre o meio ambiente. Mais do que isso, quando as entidades tentam iniciar o processo, incorre a oposição de uma série de processos e mandados oficiais tentando impedir essas revisões de registros. A revisão de registro não é imediata, não é um processo muito simples, mas os estudos científicos publicados sobre a toxidade do 2,4-D indicam que ele apresenta vários efeitos sobre a saúde. Teria, por exemplo, efeito sobre o sistema reprodutivo, sobre o sistema hormonal…

IHU On-Line – O 2,4-D é parte do Agente Laranja usado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, mas é a combinação de elementos que torna o agente perigoso. Quais riscos ele sozinho pode trazer?

Karen Friedrich Depende do tipo de estudo conduzido. Há pesquisas indicando alterações de hormônios sexuais e das funções da tireoide – glândula importante para uma série de funções do nosso corpo. Além disso, geralmente há vários estudos mostrando que o 2,4-D está associado a alguns tipos de câncer, como aos relacionados aos órgãos sexuais e linfomas. Esses estudos de cânceres já foram evidenciados não só em animais de laboratórios, como também em seres humanos expostos ao 2,4-D. No caso do Agente Laranja, ele é um dos componentes junto ao 2,4,5-T. Os dois juntos aumentavam muito mais a chance dessas contaminações toxicológicas, tanto que o seu uso gerou um desastre muito grande, com milhares de pessoas atingidas. Claro que ele está presente nos alimentos em concentrações muito menores, mas há outra característica que eu também destaco: o 2,4-D causa mutação no DNA.

IHU On-Line – Ela pode ser transmitida para gerações?

Karen Friedrich A mutação tanto pode ser em uma célula somática, que é a que leva ao câncer, ou em células germinativas, que é a que vai se juntar com a célula do sexo oposto para gerar um embrião. Caso a mutação ocorra nessa última, pode levar a má-formação fetal, abortos expontâneos… Outro detalhe é que a produção do 2,4-D gera um contaminante e isso é inevitável para a própria indústria química. Ela pode até diminuir esse subproduto por alguns processos, mas não consegue evitar a presença desse contaminante (dioxina) no produto (herbicida).

IHU On-Line – Quais problemas são causados pela dioxina?

Karen Friedrich Ela é extremamente tóxica. Causa imunossupressão, ou seja, diminui a resposta do sistema de defesa do organismo. Esse sistema de defesa é responsável não só pela defesa contra patógenos, mas para a própria vigilância do câncer, causa também efeitos de intoxicações agudas graves e pode causar também câncer, alterações reprodutivas e alterações hormonais. Uma das substâncias mais tóxicas sintetizadas pelo homem é a dioxina. Então o que acontece é que mesmo saindo da fábrica com aquele resíduo de dioxina que está dentro de um limite legal, a partir do momento em que sai da fábrica ele pode gerar espontaneamente dioxina no próprio produto. Temos uma escassez de laboratórios oficiais que monitorem dioxina não só no produto, mas depois, nos alimentos. Então, por esse lado, pela própria característica dela, do 2,4-D, e pela característica do seu principal contaminante, é que a dioxina é um produto que a gente deveria banir do país.

Esses efeitos seriam um indicativo de proibição no país segundo a Lei 7.802 de 1989, pois a dúvida sobre sua segurança levaria ao que conhecemos como Princípio da Precaução. Muitas pessoas criticam a legislação, declarando que em outros países o 2,4-D é liberado e que por isso também deveria ser permitido aqui dentro. Isso não é verdade, já que outros países têm outras legislações que não inserem esses efeitos no seu critério de proibição. Nós inserimos e temos que obedecer à legislação brasileira.

IHU On-Line – Então podemos dizer que a lei brasileira é mais rígida nesse sentido?

Karen Friedrich Ela é mais rígida no sentido em que propõe que caso alguma substância cause determinados efeitos, seu uso deve ser proibido. É o caso de alterações no sistema reprodutivo, alterações hormonais, mutação, carcinogênese (formação de câncer) e má-formação fetal – efeito ao qual o 2,4-D também tem sido associado. O que foi objeto da discussão da audiência pública foi a liberação de uma semente transgênica resistente ao 2,4-D. Então quer dizer, o que isso significa? Significa que por conta dessa semente existe a expectativa de se aumentar muito o consumo do 2,4-D. Nesse sentido, a liberação da semente legitimaria uma forma de aumentar a aplicação de uma substância tóxica, cujo uso deveria ser diminuído, não incentivado.

Nós sabemos que o modelo de produção agrícola tem que ser revisto. Óbvio que nós somos um dos grandes produtores de soja do mundo e de outras grandes commodities, mas temos que rever e pesar o que é importante. O que nós queremos? Manter a produtividade a todo custo? Ou queremos preservar a saúde do trabalhador e do meio ambiente?

IHU On-Line – Se temos tantos estudos que mostram as complicações dele, o que falta então para ser proibido?

Karen Friedrich Acredito que falta um pouco de iniciativa da Anvisa de se disponibilizar a fazer essa reavaliação, de forma que várias instituições de pesquisa possam auxiliá-la nisso. Sabemos que diversos órgãos sofrem com falhas estruturais, escassez de recursos humanos e de recursos financeiros. Eu não digo nem que seja culpa da Anvisa não querer fazer isso, mas que o próprio governo deveria repensar o fomento para a produção agrícola e as áreas de desenvolvimento, ao mesmo tempo investindo nos órgãos que vão dar suporte e segurança à população a partir do que é produzido. Se pensarmos em todos os produtos que ela avalia que não é só agrotóxico, como medicamentos, alimentos e mesmo as regiões de fronteira, veremos que é uma grande diversidade de produtos que se deve dar conta.

Então o que falta? Acho que falta um pouco desse investimento e a Anvisa talvez procurar buscar parceiros como ela já fez em outros momentos, para auxiliá-la na revisão desse registro. Isso é um ponto fundamental.

IHU On-Line – O uso da semente com 2,4-D teria sido testado apenas em dois municípios brasileiros, Indianápolis (MG) e Mogi Mirim (SP). É suficiente para uma avaliação adequada dos riscos envolvidos? Qual seria um procedimento adequado?

Karen Friedrich O ideal é que você tenha essa testagem nos solos e nas diferentes características ambientais do país. Se o poder econômico e político tiver mais força e ela vier a ser liberada, isso vai ser um grande problema. E, além disso, se ela vier a ser liberada, é evidente que será usada no país inteiro. Então dois Estados ainda são muito limitados para a gente dizer a eficácia dessa semente. E o que a gente tem visto também com outras sementes transgênicas é que, ao longo do tempo, assim que ela é lançada, em geral só tem um pico de produção, mas depois essa produção vai diminuindo. Porque os próprios insetos se tornam resistentes a ela, você tem que usar cada vez mais agrotóxicos e esses agrotóxicos diminuem os predadores naturais e os predadores naturais daquelas pragas, então você tem que usar cada vez mais agrotóxicos. Isso na verdade é um ciclo que cada vez mais incentiva a produção da toxina.

Outra coisa que temos que observar é que quem está trazendo essa informação para o agricultor é a indústria. Então esse agricultor às vezes acredita que o transgênico e o agrotóxico são a melhor solução para ele, mas ele está ouvindo uma indústria que tem conflito de interesse no tema. Ela quer promover o seu produto. Muitos questionam essa briga da agricultura com a saúde, mas temos que fazer essa discussão com base científica. Tirar essa discussão ideológica da produção e do desenvolvimento e ver o que é bom para o meio ambiente, para a saúde, e que ao mesmo tempo sustente economicamente o país.

IHU On-Line – A introdução de sementes resistentes ao 2,4-D está sendo proposta devido à resistência das pragas ao herbicida Glifosato. Esta não seria uma medida paliativa que levará novamente à criação de superpragas? Qual seria uma solução possível?

Karen Friedrich A semente transgênica do 2,4-D não substitui, ele é usado para outro tipo de folha. Na verdade os agricultores vão usar o glifosato, o 2,4-D e as suas respectivas sementes transgênicas, o que é muito pior. Você está associando dois agrotóxicos com efeito sobre a saúde e, quando estão em conjunto, o seu efeito pode ser muito maior. Na verdade eu penso que é uma discussão mais ampla que tem a ver com o modelo de produção. Nós temos propriedades que produzem milhares de hectares com uma única cultura aplicando um monte de substâncias químicas, então você não tem um ambiente equilibrado que pudesse ter predadores naturais para aquelas pragas. Não estou dizendo que as monoculturas devem acabar, não é isso, mas existem sistemas que podem ser intercalados, como a produção de florestas para produzir um sistema minimamente equilibrado, que possa ter predadores naturais para aquelas pragas, fazendo o uso de agrotóxicos ser, com o tempo, diminuído.

IHU On-Line – Sabemos que nem todo produtor rural tem o perfil para a produção orgânica, que exige uma dedicação muito maior do que a da produção convencional. A aplicação de agrotóxicos na lavoura é fundamental para a produção de alimentos?

Karen Friedrich Não, não é. Existem vários estudos, locais e produtores mostrando que é possível produzir alimento sem agrotóxico. É preciso diferenciar o que é alimento e o que é commodity. Soja, algodão, cana e milho, da maneira como estamos produzindo, não são alimentos, são commodities. São alimentos pontuais que em geral servem para a produção de ração de animais, mas não vivemos apenas dessa fonte proteica, a nossa alimentação tem que ser equilibrada com outros alimentos, com outros nutrientes. As grandes monoculturas produzem para exportar, não para gerar alimento para a sociedade. A despeito dessa grande produção agrícola, estamos onerando a saúde humana, a saúde do trabalhador, a saúde do meio ambiente, e é essa a grande questão.

O que temos visto também é que o uso de agrotóxicos causa uma toxidade nos próprios animais de criação e de corte, como algumas aves, o porco e o boi. Essa toxidade leva à diminuição da reprodução desses animais, o que leva o produtor a inocular hormônios nos seus animais para garantir a produção deles. Mas ele não pensa que a consequência disso pode ser do próprio agrotóxico que foi utilizado no pasto, ou numa propriedade vizinha, ou passou por avião, ou que está contaminando o lençol freático de uma região um pouco mais distante, mas que é consumido pelo gado. Na verdade, o agrotóxico está levando a uma insustentabilidade da produção local e é isso que não está sendo colocado.

Nós não devemos escutar a indústria de agrotóxicos, pois ela quer vender o seu produto. Algumas instituições de pesquisas sérias têm produzido estudos de modo a dar sustentabilidade para a produção orgânica, mas o próprio governo também precisa agir. Nós vemos números estratosféricos de investimento na grande monocultura. Caso parte desses recursos fossem voltados para a produção orgânica e agroecológica, com certeza a produtividade desses setores iria se inverter. É como você falou, é difícil, não é de hoje para amanhã que a pessoa vai produzir de maneira agroecológica, e é preciso também um investimento financeiro, porque de pronto muitos produtores orgânicos estão ameaçados pela contaminação que vem de uma grande propriedade vizinha em que passa o avião, e vem pelo vento, pelo ar, pela água. O governo e a sociedade têm que começar a questionar, a dar apoio e exigir esse investimento maior nesse tipo de produção. A situação já foi pior, hoje temos certo investimento, mas ainda está muito aquém do que é investido nas grandes monoculturas.

IHU On-Line – Como você encara a relação entre a produção de organismos geneticamente modificados e os agrotóxicos?

Karen Friedrich – Não é uma coincidência que as grandes empresas produtoras das sementes transgênicas são as principais produtoras daquele agrotóxico ao qual a semente é resistente. A indústria vende dois produtos como sendo a solução dos problemas do agricultor, sendo que ele tem interesse na sua comercialização. É algo a se perguntar e nos leva a questionar todo o modelo de produção e pensar em alternativas para esse modelo. É claro que isso não vai interessar à indústria, mas temos que pensar também em quem o governo quer proteger. É uma questão até de soberania nacional.

Por outro lado, do ponto de vista da saúde, alguns estudos já demonstram que o uso combinado do agrotóxico com a semente pode aumentar a toxidade do produto. Isso por si só já demandaria mais investimento em estudo e pesquisa, de pesquisadores independentes da indústria, sem conflito de interesses. É importante que mais estudos fortaleçam essas hipóteses, mas na nossa Lei Ambiental temos o chamado princípio da precaução: uma vez existindo incerteza sobre a segurança de um produto, ele deve ser suspenso até que se comprove a sua segurança. Logo, mesmo que poucos estudos mostrem esse efeito combinado, por si só isso já deveria levar à suspenção do registro de agrotóxico.

Uso conjunto de agrotóxicos

Outra coisa que temos que pensar é que em determinada cultura são usados vários agrotóxicos. Para algodão, soja, são centenas de agrotóxicos permitidos para essas culturas. Claro que não se espera que o agricultor use todos os que são permitidos, mas se ele usar algumas dezenas, uma dezena, quatro, cinco variedades, o uso combinado pode prejudicar a saúde muito mais do que foi no laboratório.

Esta é uma deficiência da legislação não só no Brasil como em alguns outros países. Quando a indústria pleiteia o registro de um produto, ela apresenta vários estudos dos efeitos tóxicos daquela substância, só que conduzidos apenas tendo em vista a substância que está sendo pleiteada. Não se administra, no animal de laboratório, aquela substância mais outra que já está registrada para aquela cultura. Dito isso, nós não temos ideia do que resultaria do uso combinado dos agrotóxicos.

Do ponto de vista toxicológico do que se tem de alguns estudos científicos, já é demonstrado que algumas combinações são extremamente tóxicas. Um exemplo clássico é o dos organofosforados, uma classe química de agrotóxicos que causam a inibição de uma enzima chamada acetilcolinesterase. Então esse tipo de agrotóxico usado unicamente inibe uma quantidade X que poderia manter o indivíduo nas suas condições normais. Só que se ele usa dois, três, quatro organofosforados, esses efeitos vão ser somados. A inibição que era X passa a ser 3X, 4X, e acaba ultrapassando aquele limite em que se consideraria o efeito tolerável, chegando num ponto incompatível com a qualidade de vida da pessoa. Existem outros exemplos de agrotóxicos que podem causar alterações hormonais em quantidade muito maior do que a substância isolada.

É como no caso dos medicamentos; sabemos que há medicamentos que podemos usar em conjunto, e outros que são incompatíveis porque alteram o efeito esperado. Ou diminuem a própria eficácia ou aumentam e muito a sua toxidade. Do ponto de vista toxicológico, nós vemos que os efeitos do agrotóxico são realmente muito agressivos, e gradativamente devemos substituir esse modelo de produção baseado nessa “tecnologia” química e de transgênicos por modelos alternativos de base agroecológica.

Por Andriolli Costa
Fonte IHU Unisinos

Atuação das grandes corporações de agrotóxicos


Atuação das grandes corporações de agrotóxicos, artigo de Roberto Naime

 

Imagem: ENSP

 

[EcoDebate] Reportagem de Jorge Américo revela que para manter o nível de consumo, os fabricantes e fornecedores de agrotóxicos estão financiando a produção agrícola. Este incentivo consiste em fornecer, aos produtores insumos, as sementes, adubos, fertilizantes e pesticidas, além de assistência técnica. O pagamento é efetuado após a colheita, que recebe parte da produção.

Com isto, os produtores ficam reféns destas empresas. Um exemplo está na região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, conhecida pela forte presença da indústria fumageira. A integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Rosiele Cristiane, denuncia a exploração dos produtores de fumo, que por meio de contratos, tiram o controle do agricultor sobre a sua produção.

“Antes de iniciar a safra, o orientador agrícola da empresa que presta a assistência técnica, que vai à casa das pessoas, faz o contrato com as famílias. Vê quantos pés de fumo eles querem plantar. Os agricultores assinam esse contrato sem ler, há várias promissórias, em branco também. E este contrato está dizendo que o agricultor não é dono do produto. Ele é o fiel depositário”.

Ela prossegue “isto dá à empresa o direito de buscar o fumo, se o agricultor não entregar. Nos últimos anos, os agricultores estão esperando o melhor preço. Então, no início da comercialização, eles não estão entregando o fumo. Eles esperam até maio, junho, que é a melhor época para vender. Quando o fumo não é entregue para a empresa, e existem contratos a honrar no exterior, se usa dessas artimanhas para buscar o fumo em casa”

A partir deste modelo de financiamento, a venda de defensivos agrícolas, no Brasil, pode crescer de US$ 6,6 bilhões para US$ 8,5 bilhões em cinco anos. Segundo o engenheiro agrônomo Horácio Martins, as plantas deixaram de ser espécies vegetais para se tornarem unidades de produção de moléculas.

“A maior parte das moléculas, que são desenvolvidas, não está na natureza. Elas são criadas em laboratórios, e o custo de uma nova molécula, hoje, gira em torno de US$ 250 milhões. Aquele novo germoplasma, o material genético da semente, traz características e propriedades que outras sementes não têm. Ele é inovador e permite então ser patenteado.”

A biotecnologia está nas mãos de empresas que controlam quatro áreas, sementes, agroquímicos, farmacêutica e veterinária. Existem cerca de mil princípios ativos de agrotóxicos, que combinados criam mais de dez mil formulações. Cada uma dessas formulações gera lucro para as empresas. Horácio Martins explica que as empresas exercem forte pressão sobre o poder público para viabilizar suas atuações na cadeia produtiva.

“Eles têm a patente dos seus produtos, dos princípios ativos que depois são combinados para gerar substâncias comerciais. A partir daí, pressionam os governos para que façam legislação, normas internas e um marco regulatório que vai controlar o uso daquela patente, daquele princípio ativo que ela mesma fabricou. Enfim, fabrica o produto e cria regulamentação para controlar o seu uso.”

“Num contexto em que estas substâncias provocam danos ao meio ambiente, danos à saúde da população, o Estado barateia o custo destes produtos, incentivando o uso de modo que os custos sociais são “externados” pelo sistema público de saúde e pelo sistema público da previdência. Por exemplo, quando o Estado aplica uma política de taxação do cigarro e do álcool, para inibir o uso destas substâncias, porque são consideradas agressivas e para poder adquirir recursos para financiar o sistema público, uma vez que vai cuidar dos danos, esta lógica não se aplica para os agrotóxicos”.

As populações do entorno destes empreendimentos acabam ficando muito vulneráveis, porque elas encontram um Estado que não tem capacidade de fiscalizar. A partir disto, a gente percebe que o embate não é só com as empresas. Existe também um embate que precisa ser feito com estas políticas públicas que beneficiam este tipo de modelo de desenvolvimento.

O impacto na saúde e no meio ambiente é instantâneo. Existe uma portaria do Ministério da Saúde, que estabelece valores máximos permitidos de venenos em águas consideradas próprias para consumo humano. Então, a água que as pessoas bebem pode ter veneno. O próprio Estado estabelece isto.

Referência:

O papel das grandes empresas no mercado dos agrotóxicos

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Celebração da vida [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, 20/01/2016