Ativistas da rebelião da extinção estão nas ruas de Madri protestando, mas a marcha principal acontece na sexta-feira (AFP/Arquivos)
Milhares de ativistas de todo mundo vão marchar nesta sexta-feira (5), em Madri, para exigir uma ação urgente diante da crise climática dos líderes reunidos na COP25, a conferência anual da ONU sobre o clima.
À margem da cúpula, a manifestação em Madri será a principal, embora outra também esteja marcada em Santiago do Chile. O presidente Sebastián Piñera desistiu de sediar a reunião das Nações Unidas em razão da revolta social que abala o país.
Sob o lema “o mundo acordou para a emergência climática”, a marcha de Madri começará na estação de Atocha às 18h (14h de Brasília).
Símbolo da luta pelo meio ambiente desde que lançou, em agosto de 2018, sua “greve escolar” que impulsiona o movimento global “Sexta-feira pelo futuro”, Greta Thunberg estará presente. A jovem sueca dará uma conferência às 16h30 (12h30 de Brasília).
Sem viajar de avião, devido a seu impacto ambiental, Greta foi de veleiro participar de uma cúpula da ONU sobre o clima em Nova York e depois para a COP25 anunciada no Chile. Com a mudança de local, teve que pegar uma catamarã para fazer o caminho inverso.
Depois de três semanas no mar, a ativista de 16 anos chegou a Lisboa e, de lá, seguiu para Madri.
O ator espanhol Javier Bardem, ativista climático, também participará do protesto, que incluirá discursos e eventos musicais e culturais.
Conferência paralela
“Sabemos que será grande. Esperamos centenas de milhares pedindo ações urgentes”, disse um porta-voz da mobilização, Pablo Chamorro.
A marcha de sexta-feira quer ser um “grande momento global”, afirmou Estefanía González, porta-voz da Sociedade Civil para Ação Climática (SCAC), que representa mais de 150 grupos chilenos e internacionais.
“Venho do Chile, um país onde um abacateiro tem mais direito à água do que uma pessoa”, criticou.
Em função da desigualdade social e econômica, a crise no Chile está “diretamente relacionada à crise ambiental”, apontou González, referindo-se aos maiores protestos no país desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, há quase 30 anos.
“Hoje, a ação climática se traduz em equidade social. Não é possível ter equidade social sem a equidade ambiental”, afirmou o ativista.
A SCAC é um dos organizadores da Cúpula Social para o Clima, uma conferência paralela à COP25 que vai durar uma semana, a partir deste sábado, e incluirá centenas de eventos e workshops.
Grupos indígenas terão presença garantida, pois são “os primeiros afetados pelas mudanças climáticas”, nas palavras de Juan Antonio Correa, do coletivo Minga Indígena.
“As práticas tradicionais e históricas e o relacionamento que os povos indígenas têm com a Mãe Terra são uma alternativa e é a maneira pela qual toda a sociedade moderna pode lidar com essa crise climática”, completou.
No manifesto da marcha, os convocadores enviam uma mensagem clara aos representantes dos quase 200 signatários do Acordo de Paris reunidos até 13 de dezembro em Madri.
“Exigimos que os governos participantes da COP25 reconheçam que a atual inação climática e a ambição insuficiente que refletem os compromissos mais ambiciosos dos países nos levarão a um aquecimento global desastroso por toda vida”, disseram.
Incêndio no Pará (Brasil) em 27 de agosto de 2019 (AFP/Arquivos)
Um estimativa divulgada pela ONU em um relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM), alerta que a atual década (2010-2019) está destinada a ser a mais quente já registrada na história. O relatório constata a aceleração das consequências da mudança climática e que as temperaturas globais superaram nos primeiros 10 meses do ano em 1,1 graus a média da era pré-industrial (1850-1900).
No relatório apresentado por ocasião da Conferência sobre o Clima da ONU (COP25), a organização prevê ainda que 2019 será o “segundo ou terceiro ano mais quente” desde 1850, quando os registros sistemáticos começaram a ser feitos.
“2016, que começou com um episódio de El Niño de intensidade excepcionalmente forte, continua sendo o ano mais quente”, afirma o documento. Cada uma das últimas quatro décadas foi mais quente que a anterior.
Além disso, as emissões provocadas pelo homem devido, por exemplo, aos combustíveis fósseis, a construção de infraestruturas, o aumento dos cultivos e o transporte provavelmente contribuirão para um novo recorde de concentração de dióxido de carbono, o que aumentará o aquecimento, afirmou a OMM.
Os oceanos, que absorvem parte dos gases do efeito estufa, continuam registrando temperaturas recordes e uma acidificação maior, o que ameaça os ecossistemas marinhos dos quais bilhões de pessoas dependem para alimentação ou trabalho.
Em outubro, o nível do mar também alcançou um recorde, alimentado sobretudo pelas 329 bilhões de toneladas de gelo derretido na Groenlândia em um ano.
Até 22 milhões de deslocados
Milhões de pessoas já sofrem as consequências da mudança climática, o que evidencia que esta não é apenas uma ameaça para as futuras gerações.
No primeiro semestre de 2019 mais de 10 milhões de pessoas foram deslocadas dentro de seus países, segundo o Observatório de Situações de Deslocamento Interno.
Deste total, sete milhões o fizeram por causas relacionadas com fenômenos meteorológicos extremos como tempestades, inundações e secas, um número que pode alcançar 22 milhões para o conjunto do ano.
“Mais uma vez, em 2019, os riscos ligados ao tempo e ao clima afetaram duramente”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
“As ondas de calor e as inundações que antes aconteciam uma vez por século estão se tornando eventos regulares”, advertiu.
Em 2019 foram registradas secas na América Central e Austrália, ondas de calor na Europa e Japão, assim, como supertempestades no sudeste da África e incêndios devastadores no Brasil e na Califórnia (EUA).
Taalas destacou que a pluviometria mais irregular, somada ao crescimento demográfico, representará “desafios consideráveis em termos de segurança alimentar para os países mais vulneráveis”.
Em 2018, a tendência decrescente da fome no mundo foi revertida, com mais de 820 milhões de pessoas afetadas.
Ao ritmo atual, a temperatura poderia aumentar até 4 graus ou 5 graus no fim do século.
E inclusive se os países respeitarem seus compromissos atuais de redução das emissões, o aumento poderia superar 3 graus, enquanto o Acordo de Paris prevê limitar o aquecimento a menos de 2 graus e, de modo ideal, a 1,5 graus.
Na COP25 de Madri, que começou na segunda-feira com o objetivo de estimular a luta contra o aquecimento global, os Estados “não têm desculpas para bloquear os avanços nem recuar quando a ciência mostra que é urgente atuar”, reagiu Kat Kramer, da ONG Christian Aid.
Antes repleta de ativistas, a delegação do Brasil, lar da maior parte da vasta floresta amazônica, agora só tem autoridades do governo (Bruno Kelly/Reuters)
Madri – Os negociadores do Brasil já enfrentarão um trabalho duro nas conversas climáticas da ONU, dada a irritação com a postura do presidente Jair Bolsonaro a respeito da Amazônia, mas essa tarefa se torna duplamente difícil porque estão no escuro no que diz respeito aos objetivos do governo.
Bolsonaro se tornou alvo de ativistas ambientais desde que a destruição da floresta amazônica atingiu seu nível mais alto em 11 anos e incêndios terríveis assolaram a região em agosto, com políticas do presidente incentivando os desmatadores e intimidando agentes ambientalistas.
Como se isso não bastasse, os negociadores técnicos do Brasil presentes para as negociações da Organização das Nações Unidas na Espanha estão desconectados dos líderes políticos e desinformados sobre seus objetivos, disseram duas pessoas a par do assunto. Isso significa que os negociadores poderiam firmar um acordo que seria renegado por autoridades do governo. “Na verdade, o que o Brasil fará na conferência é uma incógnita”, disse uma das fontes.
Para aumentar a confusão, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente alinhado a Bolsonaro, apareceu em Madri uma semana mais cedo para participar de toda a conferência de duas semanas, ao invés de somente a segunda etapa com colegas ministros de outros países. “Só ele sabe o que está fazendo lá”, disse outra fonte.
Sendo o lar da maior parte da vasta floresta amazônica, que serve como uma proteção ao aquecimento global, o Brasil é um dos principais componentes das conversas climáticas, e atuou como mediador entre países desenvolvidos e em desenvolvimento muitas vezes.
Mas seu recuo amplamente noticiado nas proteções ambientais domésticas mudou isso, e a delegação oficial em Madri não conta mais com grupos de ambientalistas cujas credenciais o país normalmente endossa. Antes repleta de ativistas, a delegação brasileira agora só tem autoridades do governo, de acordo com dois ex-participantes brasileiros que acompanham o evento deste ano, mas com credenciais diferentes.
No nível técnico, a postura de negociação do Brasil não mudou, segundo três pessoas com conhecimento do assunto. O país continuará pressionando em especial por uma contabilidade mais precisa do comércio de carbono e quer que os créditos de emissões de um acordo climático anterior sejam honrados pelo pacto de Paris.
Existe incerteza no nível político, mas Salles indicou que pressionará para ver quanto o Brasil receberá dos U$ 100 bilhões (R$ 419.915.800.000) planejados para um financiamento ambiental anual que os países desenvolvidos prometeram fornecer aos países em desenvolvimento até 2020.
Guterres disse que promessas não são suficientes. (ONU/Jean-Marc Ferré)
O mundo precisa parar uma “guerra contra a natureza” e encontrar mais vontade política para combater as mudanças climáticas, disse o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, neste domingo (1º), às vésperas da cúpula mundial de duas semanas sobre o clima em Madri.
Em todo o mundo, condições climáticas extremas, causando de incêndios florestais a inundações, estão relacionadas com o aquecimento global causado pelo homem, o que exerce pressão sobre a cúpula para reforçar a aplicação do Acordo de Paris de 2015 sobre a limitação do aumento das temperaturas.
“Nossa guerra contra a natureza deve terminar, e sabemos que é possível”, disse Guterres antes da cúpula, que vai de 2 a 13 de dezembro.
“Nós apenas temos que parar de cavar e perfurar e aproveitar as enormes possibilidades oferecidas pelas energias renováveis e as soluções baseadas na natureza”.
Reduções nas emissões de gases estufa que foram acordadas até o momento no Acordo de Paris não são suficientes para limitar o aumento da temperatura em uma meta entre 1,5 e 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Muitos países nem cumprem esses compromissos, e falta vontade política, disse Guterres.
O presidente Donald Trump começou a retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, enquanto o desmatamento da bacia amazônica está acelerando, e a China se inclinou para o construção de mais usinas a carvão.
Setenta países se comprometeram a atingir uma meta de “neutralidade de carbono” ou “neutralidade climática” até 2050.
Isso significa que eles equilibrariam as emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, usando tecnologia de sequestro de carbono ou plantio de árvores.
Mas Guterres disse que essas promessas não são suficientes.
“Também vemos claramente que os maiores emissores do mundo, eles não estão fazendo sua parte”, disse ele.
Tráfego em estrada Nova Délhi sob uma nuvem de poluição em 6 de dezembro de 2018 (AFP/Arquivos)
A mensagem nunca foi tão alarmante: a ONU advertiu nesta terça-feira que o mundo não pode mais continuar adiando as ações radicais necessárias para reduzir as emissões de CO2 se deseja evitar uma catástrofe climática.
Para manter viva a esperança de limitar o aquecimento a +1,5 graus – o objetivo ideal do Acordo de Paris – seria necessário reduzir anualmente as emissões de gases do efeito estufa em 7,6%, entre 2020 e 2030, destaca o relatório anual do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA). Isto significa um corte 55% entre 2018 e 2030.
Qualquer adiamento além de 2020 deixaria rapidamente a meta de +1,5 graus “fora de alcance”. E inclusive para respeitar a meta mínima de +2 graus em comparação à era pré-industrial, o planeta precisaria reduzir as emissões em 2,7% por ano entre 2020 e 2030.
Mas estas emissões, geradas em particular pelas energias fósseis, aumentaram 1,5% em ritmo anual na última década e “não há nenhum sinal de que alcancem seu teto nos próximos anos”, afirma o PNUMA.
O ano de 2018 registrou um novo recorde, com a emissão de 55,3 gigatoneladas de CO2. A temperatura já aumentou 1 graus no planeta, o que provocou a multiplicação de catástrofes climáticas. Os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados.
E cada meio grau adicional agravará o impacto dos distúrbios climáticos. “Dez anos de procrastinação climática nos levaram a esta situação”, lamentou à AFP Inger Andersen, diretora do PNUMA.
O preço da inação
De acordo com a ONU, se as emissões continuarem ao ritmo atual, a temperatura do planeta pode aumentar de 3,4 a 3,9 graus até o fim do século. E mesmo que os Estados signatários do Acordo de Paris respeitem os compromissos de redução de emissões, o termômetro marcará 3,2 graus a mais.
O PNUMA afirma que, apesar da pressão, ainda é possível permanecer abaixo de +2 graus e inclusive +1,5 graus.
Por este motivo, os signatários do Acordo de Paris devem triplicar suas ambições em comparação ao objetivo inicial e multiplicar por cinco em relação à segunda meta. E estes compromissos devem ser acompanhados por ações imediatas.
A constatação “sombria” envia uma mensagem clara poucos dias antes da conferência sobre o clima da ONU (COP25) em Madri, que começará em 2 de dezembro. “O relatório é um aviso contundente”, reagiu a ministra espanhola para a Transição Ecológica, Teresa Ribera.
“Afirma que as emissões devem atingir o teto em 2020, ou seja depois de amanhã, e começar a diminuir de maneira acelerada a partir desta data. Portanto, a COP25 em Madri tem que ser um marco decisivo”, disse Ribera
Enquanto o Acordo de Paris prevê uma revisão das ambições dos Estados na COP26 de Glasgow, no fim de 2020, até o momento apenas 68 países se comprometeram com a medida, mas nenhum dos maiores emissores de CO2 dentro do G20, bloco que aglutina 78% das emissões do planeta.
China, UE e Índia – membros do G20 – estão a caminho de cumprir seus compromissos iniciais de redução de CO2, mas pelo menos sete integrantes do bloco, incluindo Japão e Estados Unidos – país que oficializou a saída do Acordo –, não os respeitarão.
A ONU também apresentou suas recomendações aos membros do G20: proibir novas centrais de carvão na China, forte desenvolvimento da rede de transporte público na Índia, novos carros com “zero emissões” apé 2030 nos Estados Unidos, entre outras.
As transformações radicais da economia não poderão acontecer sem uma evolução profunda “dos valores, das normas e da cultura do consumo”, afirma o documento.
A transição em grande escala enfrentará “obstáculos e desafios econômicos, políticos e técnicos”, que devem ser acompanhados por medidas sociais para “evitar a exclusão e a resistência à mudança”.
Grandes investimentos
Os esforços também devem passar por grandes investimentos. Com um cenário de +1,5 graus, o PNUMA calcula a necessidade de investimentos de entre 1,6 trilhão e 3,8 trilhões de dólares anuais entre 2020 e 2050 apenas para o setor energético.
Os custos financeiros e sociais da transição podem parecer faraônicos, mas adiá-los será pior: “cada ano de atraso a partir de 2020 exigirá reduções de emissões mais rápidas, portanto cada vez será mais caro, improvável e difícil”.
Se o mundo tivesse começado a atuar seriamente em 2010, agora seria necessário reduzir as emissões em 0,7% ao ano para a meta +2 graus e em 3,3% para +1,5 graus.
John Ferguson, analista da Economist Intelligence Unit, considera que já é muito tarde. A diferença entre as promessas e a ação concreta dos Estados “explica meu pessimismo de que não podemos limitar o aquecimento a +1,5 graus”.
Com as políticas atuais em vigor, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,5 °C neste século. Foto: PNUMA
A ONU Meio Ambiente divulgou no fim de setembro (22) uma retrospectiva de dez anos de seu Relatório de Emissões — uma publicação que compara os níveis de emissão de gases de efeito estufa para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.
O mundo parece ter passado a última década fazendo exatamente o oposto do que deveria. Apesar dos avisos nos relatórios anuais, as emissões de gases de efeito estufa cresceram a uma média de 1,6% ao ano entre 2008 e 2017. De fato, essas emissões são agora quase exatamente o que os primeiros relatórios projetavam para 2020 se o mundo não alterasse seus modelos de crescimento insustentáveis e poluentes.
Com as políticas atuais em vigor, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,5°C neste século, em comparação com os níveis pré-industriais. Isso está muito além dos objetivos do Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, ou pelo menos bem abaixo de 2°C.
Se este mundo mais quente se concretizar, todas as previsões de impactos climáticos catastróficos se tornarão realidade. Elevação do nível dos mares, eventos climáticos extremos e danos incalculáveis às pessoas, prosperidade e natureza.
“A última década não trouxe a queda nas emissões de gases de efeito estufa que queríamos, isso é verdade. Mas, de várias maneiras, estamos em um lugar melhor do que há dez anos”, afirmou a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen.
“Grandes avanços na conscientização, na tecnologia e na vontade de agir significa que agora estamos prontos para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa”, acrescentou.
Uma plataforma para ação
O resumo de dez anos apresenta uma série de desenvolvimentos encorajadores que ocorreram: o foco político na crise climática é o mais alto de todos os tempos, inclusive por meio do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, e os eleitores e manifestantes, principalmente os jovens, estão deixando cada vez mais claro que a crise climática é a prioridade número um.
Cidades, regiões e empresas não estão esperando imposições de governos centrais. Cerca de 7.000 cidades de 133 países, 245 regiões de 42 países e 6.000 empresas com receita de pelo menos 36 trilhões de dólares se comprometeram a reduzir suas emissões.
Além disso, a tecnologia para reduzir de forma rápida e econômica as emissões melhorou significativamente. A energia renovável é um exemplo. Crescimento explosivo significa que a energia limpa evitou a emissão de aproximadamente 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono em 2017, pois forneceu cerca de 12% do suprimento global de eletricidade. A instalação de tecnologias agora está mais barata do que nunca.
Tudo isso é um progresso fantástico, mas não chega perto do suficiente. De acordo com o resumo dos dez anos, as nações devem pelo menos triplicar o nível de ambição refletido em suas promessas climáticas sob o Acordo de Paris — conhecidas como contribuições nacionalmente determinadas ou NDCs — para alcançar a meta de um mundo abaixo de 2°C. Devem aumentar a ambição pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5°C.
Será crucial uma ação forte dos membros do G20, que juntos representam 80% de todas as emissões de gases de efeito estufa. Essa ação ainda não foi vista, de acordo com um capítulo preliminar do Emission Gap Report, que foca nas maneiras pelas quais o G20 pode aumentar a ambição climática.
Opções para cortes rápidos nas emissões são abundantes
No entanto, como revelam o resumo e o capítulo preliminar, o G20 e outras nações têm dezenas de opções para cumprir as metas de Paris. Ao usar apenas tecnologias comprovadas, o mundo poderia cortar 33 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente por ano até 2030. Isso é mais da metade das emissões globais anuais de gases de efeito estufa atuais. É mais do que suficiente para permanecer no caminho para o objetivo de 1,5 °C.
Cerca de dois terços desse potencial estão disponíveis em áreas onde um rápido progresso é possível: energia solar e eólica, aparelhos eficientes, automóveis de passageiros eficientes, reflorestamento e interrupção do desmatamento. Apenas uma fração desse potencial é capturada em compromissos nacionais sob o Acordo de Paris.
E ainda há muitas outras oportunidades.
O fim dos subsídios aos combustíveis fósseis reduziria as emissões globais de carbono em até 10% até 2030. A redução de poluentes climáticos de curta duração — como fuligem e metano — pode reduzir as temperaturas rapidamente, pois estes não permanecem na atmosfera da mesma maneira que o dióxido de carbono.
Além dessas iniciativas, a Emenda Kigali ao Protocolo de Montreal é um compromisso internacional de reduzir o uso de gases com alto potencial de causar aquecimento, conhecidos como HFCs, na indústria de refrigeração. Esta alteração pode resultar em até 0,4 °C de redução no aquecimento. Se a indústria melhorar a eficiência energética ao mesmo tempo, poderá dobrar os benefícios climáticos.
Mais uma década sem cortes significaria desastre
Em novembro, a ONU Meio Ambiente publicará a décima edição do Emission Gap Report. Ele detalhará o tamanho dos cortes anuais de emissões necessários para permanecer no caminho certo para cumprir as metas do Acordo de Paris. Isso informará os negociadores dos países que se reunirão para a próxima rodada de negociações climáticas sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC).
Já sabemos que esses cortes terão de ser significativos. Todo ano de ação atrasada significa que os cortes se tornam maiores, mais caros e mais impraticáveis. Se chegarmos a 20 anos de Emission Gap Report e as emissões ainda não tiverem caído, o mundo enfrentará um desastre. Simplesmente não podemos dispor de mais uma década perdida.
Na Cúpula de Ação Climática, nas negociações climáticas de dezembro em Santiago do Chile, em todos os escritórios do governo, salas de diretoria, empresas e residências todos os dias, precisamos fazer muito mais a respeito da questão climática para garantir a segurança de gerações futuras, alertou a ONU Meio Ambiente.
A agência das Nações Unidas divulgou o resumo de dez anos na Cúpula de Ação Climática da ONU como parte de um pacote que analisa os avanços na ciência climática. O capítulo preliminar do G20 foi lançado de forma independente como mais uma contribuição para a Cúpula.
Declaração na COP21 apresenta mudança de discurso dos EUA.
Mudança pode destravar impasse crucial na negociação de tratado.
O presidente dos EUA, Barack Obama (Foto: AP)
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mencionou pela primeira vez nesta terça-feira (1º) que deseja ver um acordo "legalmente vinculante" – com força de implementação obrigatória – para redução de gases de efeito estufa. A declaração, que sinaliza uma mudança de discurso de seu país, ocorreu logo antes de o presidente americano deixar a conferência do clima, a COP21, que acontece em Paris.
Após participar de um encontro com com representantes de países mais ameçados pela mudança climática, Obama afirmou que espera um acordo que inclua uma "meta mais ambiciosa" na busca de uma economia global de baixo carbono ao longo do século.
"Isso significa que os países terão apresentado metas especificas", afirmou. "Apesar de essas metas serem autodeterminadas, deve existir um mecanismo em que elas sejam apresentadas para o mundo com a confirmação de que todos estjam trabalhando nessas metas, atingindo essas metas, de modo que haja um unico mecanismo transparente que os países adotem, e que seja legalmente vinculante, para que haja revisões periódicas."
Obama não deixou claro se o vínculo legal, que exigiria de cada país transformar o acordo do clima em lei interna, vale para todas as partes do acordo ou apenas para pontos específicos, como as metas voluntárias ou o mecanismo de verificação de cumprimento delas. A promessa dos EUA é cortar até 28% de suas emissões até 2025, com relação ao que o país emitia em 2005.
De um jeito ou de outro, é a primeira vez que o presidente pronuncia a expressão "legalmente vinculante", considerada um tabu no jargão diplimático. No caso dos EUA, ela implica que o governo tentará aprovar regras de emissões de gases do efeito estufa no Congresso, onde a maioria Republicana no Senado tenderia a barrá-la.
Se Obama mantiver a posição de levar o plano adiante, isso pode destravar um impasse importante na negociação do plano climático, já que a Europa pressiona por um acordo de força legal, enquanto EUA e China ainda resistiam.
O presidente americano voltou a defender na entrevista, também, que as promessas de desaceleração das emissões feitas por todos os países sejam revistas de 5 em 5 anos, para que cresça ambição no corte de gases do efeito estufa.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) afirma que as promessas dos países não somam ainda metade do esforço necessário para impedir um acréscimo de 2°C na temperatura do planeta, considerado "perigoso".
Anulação de leis A Câmara de Representantes dos EUA, dominada pelos republicanos, aprovou nesta terça a anulação das novas leis contra emissões de carbono adotadas pelo governo Obama, informou a AFP. A decisão simbólica será vetada pelo presidente dos EUA.
A votação foi planejada para coincidir com a conferência do clima em Paris. Os representantes derrubaram, por 242 votos contra 180, o "Projeto de Energias limpas" do democrata Obama, que prevê limites para as emissões de dióxido de carbono das usinas térmicas dos Estados Unidos.
Entre no clima de mobilização e participe de um dia dedicado ao nosso planeta
Às vesperas da COP 21, pessoas de diversas cidades estão organizando marchas, oficinas, eventos e até shows. Tudo para pressionar os governantes a assumir compromissos contra o aquecimento global
As atividades humanas estão tornando o planeta mais quente devido a emissão de gases que agravam o efeito estufa, como o gás carbônico. Por isso, em dezembro, representantes de 196 países estarão reunidos em Paris para a 21a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, conhecida como COP 21.
As expectativas sobre a conferência estão movimentando a sociedade civil e organizações. Espera-se que os governantes assumam compromissos para reduzir drasticamente as emissões desses gases. E que, assim, evitem a intensificação de mudanças climáticas que podem por a vida na terra em xeque.
É nesse contexto que grupos ao redor do mundo estão organizando a Mobilização Mundial pelo Clima, que acontecerá no dia 29/11, na véspera do início da COP 21. Mais de 1.700 atividades em diferentes países estão programadas para o dia. Entre elas estão marchas, shows e oficinas. O objetivo é trazer para as ruas pessoas de diversas cidades que pressionem os governos a assumir acordos mais ambiciosos, que representem a real solução para a crise climática.
Para a Mobilização no Brasil, há dezenas de organizações envolvidas, como Greenpeace, Engajamundo, Avaaz e Here Now. Juntos, vamos levar para ruas – além das pessoas – temas cruciais para o controle das mudanças climáticas: Florestas, Energia Renovável, Mobilidade, Resíduos, Agricultura Urbana e Água.
Sobre florestas, vamos defender o mote do “Desmatamento Zero”. Apesar do Brasil ter em seu território boa parcela da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, a destruição sistemática dessas áreas é uma das principais causas das emissões nacionais. E o Brasil é, hoje, um dos dez países que mais colaboram com o aquecimento global.
Em outubro, o Greenpeace entregou ao governo o projeto de lei pelo Desmatamento Zero, com o apoio de mais e 1,4 milhão de pessoas. A COP 21 é, então, uma boa oportunidade para o governo se comprometer com o fim da destruição das florestas nacionais.
FAO alerta para estiagem e queda da produção de alimentos na América Central provocadas por El Niño
Fenômeno climático aquece as águas do Pacífico e agrava a aridez da região. Mais de 150 mil famílias estão sendo afetadas por quedas nas safras. Em El Salvador, perdas somam 28 milhões de dólares.
Seca ameaça segurança alimentar na Guatemala, em El Salvador, em Honduras e no Nicarágua. PMA/Phil Behan
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) alertou, na segunda-feira (14), para a situação preocupante da América Central, cujos países enfrentam perdas nas safras de cereais devido aos efeitos do El Niño. El Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua devem apresentar queda de até 60% na produção de milho e até 80% na de feijão, segundo projeções da FAO. Mais de 150 mil famílias serão afetadas pelas baixas nas colheitas.
As nações mencionadas fazem parte do “corredor seco” da América Central, região caracterizada por estiagens recorrentes. Em 2015, a situação da área foi agravada por conta do El Niño, fenômeno climático que provoca aquecimento da superfície das águas do Oceano Pacífico, gerando massas de ar muito secas. A aridez reduz as áreas de plantio e tem impactos diretos nas safras. Em El Salvador, por exemplo, as perdas estimadas somam cerca de 28 milhões de dólares.
A FAO tem estabelecido parcerias com os governos locais a fim de combater os efeitos do El Niño, oferecendo treinamento para a população rural e desenvolvendo estratégias e sistemas de monitoramento da produção. As autoridades de El Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua já começaram a distribuir, entre os agricultores, pacotes de ajuda que incluem sementes, fertilizantes e bombas de irrigação.
De modo a evitar a elevação dos preços de alimentos de primeira necessidade, países da região aumentaram suas importações, comprando alimentos de outras nações da América Latina. Apesar dos esforços, o valor de cereais, como o milho, já está bem acima do registrado no ano passado. Este é o segundo ano seguido em que os territórios do “corredor seco” enfrentam as consequências do El Niño.
Com encontro marcado para esse final de semana (7 e 8 de junho) na Alemanha, os sete maiores países industrializados do oeste, o conhecido G7, está longe de tomar medidas efetivas para a expansão de energias renováveis, a fim de reduzir significativamente as emissões de CO2. A fatia dessa fonte de energia (excluindo força hídrica) nos países do G7 cresceu meros 8% em 2013, enquanto a taxa de emissão de gases de efeito estufa caiu apenas 1,3% quando comparamos os números de 2012 com os do ano de 1990. No entanto, o tema a ser debatido pelo seleto grupo será justamente “Proteção Climática”.
Coordenador internacional de políticas climáticas do Greenpeace, Martin Kaiser disse que o G7 deveria ser referência na transição para energias renováveis: “é uma responsabilidade moral e social desses países”. Kaiser cita também a líder alemã Angela Merkel. “Se ela quiser, pode ser ‘Chanceler do Clima da Alemanha’, incentivando os outros líderes a se comprometerem com energia 100% renovável”.
Os países do G7 representam apenas 10% da população global, mas são responsáveis pela emissão de mais de 26% dos gases de efeito estufa do planeta. Sem contar que a essas nações cabe a responsabilidade de liderar o processo de proteção climática. O Greenpeace analisou o ritmo de expansão de energia renovável de casa país do grupo: enquanto Alemanha, Itália e Reino Unido progridem velozmente, a expansão da fonte nos Estados Unidos, Japão, França e Canadá é de longe menos ambiciosa.
“Os recursos e a alta capacidade tecnológica dos países do G7 seriam totalmente desperdiçados caso não se chegue a um acordo”, pontuou Kaiser, destacando que as ações nacionais de Merkel pelo clima teriam de ser um reflexo de seus compromissos internacionais. “Enquanto a Chanceler enfatiza uma redução a longo prazo de CO2 até zero em nível internacional, ela não toma medidas concretas dentro de sua própria casa”, critica Kaiser. Recentemente, uma proposta de sobretaxar as usinas térmicas à carvão da Alemanha não recebeu aval de Merkel.
A frente do encontro, o governo alemão pressiona os membros do G7 por uma ambiciosa proteção climática a longo prazo. No entanto, aparentemente o Canadá e o Japão recusaram as metas, e os Estados Unidos ainda não se manifestaram.