Ghillean Prance: empresas devem ser motor de desenvolvimento da Amazônia


O botânico inglês Ghillean Prance visita a região da floresta amazônica quase todo ano desde a década de 60. Prance tem um longo currículo na pesquisa das propriedades das plantas brasileiras e na área de conservação ambiental, o que inclui a direção do Jardim Botânico de Nova York e dos Jardins Botânicos Reais de Kew, no Reino Unido.

De acordo com o pesquisador, o Brasil e o mundo precisam da floresta amazônica preservada, mas isso não impede que haja uma intensa atividade econômica na região. Para Prance, o motor desse desenvolvimento deve ser companhias como a Natura, mas ele não descarta o papel da agricultura.

Nas últimas décadas, o que mudou na Amazônia?
As cidades cresceram muito. Quando visitei Manaus pela primeira vez, na década de 70, a cidade tinha cerca de 300 000 habitantes. Hoje, existem quase 2 milhões de moradores. Também vejo um interesse crescente em uma abordagem sustentável do desenvolvimento.

Quais são suas maiores preocupações em relação à região amazônica?
Temos de conservar a floresta para ajudar na redução do efeito estufa nos climas mundiais. Mas é preciso ser realista e criar um uso sustentável da região. Nas áreas já desmatadas, poderíamos dar lugar a uma agricultura intensiva.

Como isso seria feito?
É possível usar a terra de forma mais inteligente. Pode-se cultivar o solo em camadas. Numa mesma área, é possível ter uma árvore frutífera, e embaixo dela colocar uma cultura perene, como o cacau, que não é necessário replantar todo ano, e, junto, plantar outra espécie rasteira. A Embrapa já está estudando esse tipo de técnica. Isso é mais sustentável do que criar uma vaca a cada 5 hectares. Sem falar que traria mais renda para quem mora ali.

É curioso o senhor dizer isso, porque há uma grande resistência dos ambientalistas em desenvolver a agricultura na região amazônica. Isso seria viável?
Com a população crescendo, temos de aumentar a produção de alimentos. Mas gostaria de deixar uma coisa bem clara: falo em aproveitar as áreas já desmatadas. Além disso, utilizar o solo com culturas permanentes é melhor do que plantar soja, que precisa ser cultivada todo ano e pode causar erosão. Se não preservarmos as florestas e não cumprirmos a meta de limitar o aquecimento do clima em dois graus até 2050, será um desastre para o mundo.

O senhor acha que é possível atingir essa meta?

Às vezes, sou otimista. Às vezes, pessimista. Para conseguir cumpri-la, temos de convencer os políticos de que as florestas preservadas têm muito valor para a sociedade.


De que modo as florestas podem gerar valor?
Felizmente, já começamos a ver boas iniciativas. A Natura recolhe sementes de árvores nativas sem precisar derrubá-las. Isso poderia ocorrer com companhias de outros setores, como o farmacêutico e o de alimentos. O Brasil precisa de mais empresas como a Natura.

O que falta para que haja mais bons exemplos?
Há muita divergência entre os que defendem a conservação da floresta e os que defendem o desenvolvimento. Além disso, é importante que as universidades e as empresas trabalhem juntas. Sem isso, não dá para avançar.

Fonte: Planeta Sustentável