Aumentam os apelos para que se evite um fracasso da COP25


Ativistas climáticos protestam na Conferência sobre Mudança Climática da ONU COP25, em Madri (AFP)

De Greta Thunberg ao Greenpeace, os apelos para que o lema da COP25, “Hora de Agir”, não fique apenas no papel se multiplicaram nesta quarta-feira em Madri, onde a comunidade internacional prossegue discutindo a crise climática.

Até sexta-feira, cerca de 200 países estão convocados a impulsionar o Acordo de Paris, concluindo aspectos técnicos importantes, como o funcionamento dos mercados de carbono, além de mostrar sua disposição de fazer mais para limitar o aquecimento a menos de +2 graus e, se possível, + 1,5 grau.

Mas a falta de progresso da comunidade internacional diante da emergência climática decretada pelos cientistas e a mobilização dos cidadãos provocaram discursos raivosos em Madri.

Thunberg, nomeada nesta quarta-feira “Personalidade do ano” pela revista Time, lamentou que “nada esteja sendo feito” e, o que é pior, acusou os países ricos de enganar com metas ambiciosas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

A maioria dos estados trabalha com objetivos de redução de emissões de médio prazo e uma das questões centrais das negociações é a necessidade de aumentar a ambição de cada um.

“Um punhado de países ricos prometeu reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em X por cento nesta ou naquela data, ou alcançar a neutralidade do carbono em X anos”, afirmou a jovem militante sueca.

“Pode parecer impressionante à primeira vista (…), mas isso não é liderança, é engodo, porque a maioria dessas promessas não inclui a aviação, transporte ou importação e exportação de mercadorias. Em vez disso, incluem a possibilidade de que os países compensem suas ambições fora de suas fronteiras”, denunciou, lembrando as disposições do Acordo de Paris.

Thunberg pediu aos países ricos que assumam sua responsabilidade e atinjam a meta de “zero emissões de uma maneira muito mais rápida e depois ajudem os mais pobres a fazer o mesmo”.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima parece ter se tornado “uma oportunidade para os países negociarem brechas legais e evitarem maiores ambições”.

Uma manifestação de ONGs e ativistas foi convocada nesta quarta-feira na COP25 para reivindicar “soluções reais” aos países ricos.

Onde estão os adultos?

Os mais velhos compartilham da mesma preocupação.

“Participei da COP durante 25 anos: nunca vi uma lacuna tão grande entre o que acontece dentro e fora destas paredes”, afirmou Jennifer Morgan, diretora do Greepeace International.

“As soluções são acessíveis e estão diante de nossos narizes”, acrescentou. “Mas onde estão os líderes, os adultos?”, questiona.

“O coração de Paris (o acordo) continua batendo, não abandonem”, implorou.

Dados científicos sugerem que qualquer atraso agravará o aquecimento, com consequências catastróficas para o planeta.

As emissões de CO2 aumentaram 0,6% em 2019 em todo o mundo, de acordo com o balanço anual do Global Carbon Project (GCP).

Questão de necessidade

Os dados contrastam com o que, segundo a ONU, teria que ser feito a partir de 2020 para atingir o objetivo de +1,5 grau: reduzir as emissões de gases de efeito estufa de 7,6% ao ano até 2030.

No ritmo atual, a temperatura mundial poderá subir para 4 ou 5°C no final do século em comparação com a era pré-industrial.

Na tentativa de impulsionar as negociações, a ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, nomeada “facilitadora” na reta final da COP25, afirmou que “não é mais uma questão de ambição”. “É uma questão de necessidade. Uma necessidade comum de agir”, destacou.

“Se alcançarmos um resultado ruim no final da semana (…), enviaremos um sinal terrível ao mundo”, disse Alden Meyer, da União de Cientistas Preocupados, com sede nos Estados Unidos.

AFP

Ativistas marcham nesta sexta em Madri para pressionar líderes da COP25


Ativistas da rebelião da extinção estão nas ruas de Madri protestando, mas a marcha principal acontece na sexta-feira (AFP/Arquivos)

Milhares de ativistas de todo mundo vão marchar nesta sexta-feira (5), em Madri, para exigir uma ação urgente diante da crise climática dos líderes reunidos na COP25, a conferência anual da ONU sobre o clima.

À margem da cúpula, a manifestação em Madri será a principal, embora outra também esteja marcada em Santiago do Chile. O presidente Sebastián Piñera desistiu de sediar a reunião das Nações Unidas em razão da revolta social que abala o país.

Sob o lema “o mundo acordou para a emergência climática”, a marcha de Madri começará na estação de Atocha às 18h (14h de Brasília).

Símbolo da luta pelo meio ambiente desde que lançou, em agosto de 2018, sua “greve escolar” que impulsiona o movimento global “Sexta-feira pelo futuro”, Greta Thunberg estará presente. A jovem sueca dará uma conferência às 16h30 (12h30 de Brasília).

Sem viajar de avião, devido a seu impacto ambiental, Greta foi de veleiro participar de uma cúpula da ONU sobre o clima em Nova York e depois para a COP25 anunciada no Chile. Com a mudança de local, teve que pegar uma catamarã para fazer o caminho inverso.

Depois de três semanas no mar, a ativista de 16 anos chegou a Lisboa e, de lá, seguiu para Madri.

O ator espanhol Javier Bardem, ativista climático, também participará do protesto, que incluirá discursos e eventos musicais e culturais.

Conferência paralela

“Sabemos que será grande. Esperamos centenas de milhares pedindo ações urgentes”, disse um porta-voz da mobilização, Pablo Chamorro.

A marcha de sexta-feira quer ser um “grande momento global”, afirmou Estefanía González, porta-voz da Sociedade Civil para Ação Climática (SCAC), que representa mais de 150 grupos chilenos e internacionais.

“Venho do Chile, um país onde um abacateiro tem mais direito à água do que uma pessoa”, criticou.

Em função da desigualdade social e econômica, a crise no Chile está “diretamente relacionada à crise ambiental”, apontou González, referindo-se aos maiores protestos no país desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, há quase 30 anos.

“Hoje, a ação climática se traduz em equidade social. Não é possível ter equidade social sem a equidade ambiental”, afirmou o ativista.

A SCAC é um dos organizadores da Cúpula Social para o Clima, uma conferência paralela à COP25 que vai durar uma semana, a partir deste sábado, e incluirá centenas de eventos e workshops.

Grupos indígenas terão presença garantida, pois são “os primeiros afetados pelas mudanças climáticas”, nas palavras de Juan Antonio Correa, do coletivo Minga Indígena.

“As práticas tradicionais e históricas e o relacionamento que os povos indígenas têm com a Mãe Terra são uma alternativa e é a maneira pela qual toda a sociedade moderna pode lidar com essa crise climática”, completou.

No manifesto da marcha, os convocadores enviam uma mensagem clara aos representantes dos quase 200 signatários do Acordo de Paris reunidos até 13 de dezembro em Madri.

“Exigimos que os governos participantes da COP25 reconheçam que a atual inação climática e a ambição insuficiente que refletem os compromissos mais ambiciosos dos países nos levarão a um aquecimento global desastroso por toda vida”, disseram.

AFP

Pais de todo o mundo pedem proteção do clima para seus filhos


Jovens grevistas climáticos liderados pela adolescente ativista sueca Greta Thunberg planejam marchar pela capital espanhola sob a bandeira de Fridays for Future (AFP)

Associações de pais do mundo inteiro apresentaram nesta quinta-feira um apelo aos signatários do Acordo de Paris para que se transformem em “verdadeiros heróis” e limitem o aquecimento climático para dar a seus filhos “o futuro que merecem”.

“Não podemos aceitar deixar um mundo assim para os nossos filhos”, afirmam 222 organizações de pais de 27 países em uma declaração publicada durante a Conferência do Clima da ONU (COP25) em Madri.

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Na sexta-feira deve acontecer um dos principais momentos da reunião de cúpula, com um protesto de jovens ativistas do clima e a presença da sueca Greta Thunberg, atualmente em Lisboa, depois de cruzar o Atlântico em um veleiro.

“Muitos delegados da COP25 também são pais e é particularmente a eles que nos dirigimos em um nosso apelo. Estes delegados são pais que, graças a suas competências profissionais, podem ser verdadeiros heróis para todas as crianças do mundo”, escreveram os pais das organizações “Our Kids’ Climate” e “Parents for Future”.

“Milhões de crianças abriram o caminho com greves escolares que mostraram sua determinação de lutar contra a catástrofe iminente. Agora nós, os pais, estamos decididos a defender o futuro de nossos filhos e exigir medidas ambiciosas”, completaram.

Milhões de jovens participaram em passeatas em cidades no mundo inteiro nos últimos meses, seguindo o exemplo de Greta Thunberg, que durante mais de um ano fez greve diante de sua escola todas as sextas-feiras para exigir ações contra a mudança climática.

Apesar da pressão e dos cientistas que pedem ações urgentes, os quase 200 signatários do Acordo de Paris reunidos até 13 de dezembro em Madri podem decepcionar as esperanças dos ativistas.

Não está previsto que nenhum dos grandes emissores de gases poluentes anuncie medidas para reduzir o efeito estufa.

Alguns chefes de Estado e de Governo presentes na segunda-feira na abertura da COP25 também usaram o trunfo de citar a posição de pais de seus colegas mais relutantes.

“Se não fizermos o processo de transformação necessário, o ano de 2030 será o ponto de não retorno e nosso planeta se tornará mais difícil e mais hostil”, declarou o presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado.

“Como vamos explicar isto a nossos seres amados mais jovens? Como explico a meu filho de seis anos?”, questionou.

“Vocês decidem por seus países. E provavelmente têm filhos e netos que amam”, disse o presidente austríaco Alexander Van der Bellen.

“Pensem neles ao tomar decisões por seu país”, completou, exibindo um ursinho de pelúcia branco.

AFP