As Vantagens Comparativas do Brasil: Rumo ao Desenvolvimento Sustentável?


Acredito em nossa força de inovação privada para gerar, a custos mais baixos que a esmagadora maioria das nações, os produtos e serviços necessários à uma nova economia. Creio ter chegado a hora de provar que não estamos fadados a repetir nossos passos no século 16 e ficarmos, novamente, aquém de nosso potencial, desperdiçando nossas invejáveis vantagens comparativas

Artigo por: Henrique Lian do Instituto Ethos

                   

Se pudéssemos resumir a obra fundadora da moderna ciência econômica, A Riqueza das Nações (1776), do professor escocês de filosofia moral, Adam Smith, diríamos tratar-se de uma grande análise sobre os diferenciais competitivos entre as nações e uma apologia para que cada nação se concentre na produção de produtos para os quais possua nítidos diferenciais competitivos, importando todos os demais produtos. Esse foi o pontapé inicial da economia clássica, uma reflexão sobre o comércio internacional e sobre como qualquer nação pode atingir o crescimento, concentrando-se naquilo que é capaz de produzir melhor e mais barato, os dois consagrados direcionadores da vantagem competitiva. 
 

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Henrique Lian é gerente executivo de Relações Institucionais do Instituto Ethos

Trazendo a discussão para um momento histórico mais próximo de nós, lembremos que a obra fundadora do pensamento e da reputação de Michael Porter, guru da gestão empresarial, é o livro The Competitive Advantadge of Nations, traduzido em doze idiomas. O trabalho do professor Porter, sobre como as nações criam prosperidade e a sustentam, traz como diferencial teórico a análise das causas da competividade a partir dos fatores de produtividade em um ambiente de competição empresarial, introduzindo, também, o conceito de clusters, ou seja, grupo de empresas/indústrias afins e complementares, interconectadas em determinados locais. Entre um marco teórico e outro, milhares de textos foram escritos sobre esse tema, dos papers de David Ricardo aos estudos de autores da chamada Escola Austríaca, como o de Israel Kirzner (Competição e Atividade Empresarial). 

Imaginando, por mero exercício, talvez mais moral que intelectual, como aplicar um pouco dessa construção teórica ao caso do Brasil, observo que desde o século 16 não apresentamos tantas vantagens comparativas1 na ordem econômica global. Explico-me: naquele século, não casualmente o do nosso "descobrimento", possuíamos um conjunto de ativos que era o sonho do mundo desenvolvido de então. Estes eram metais preciosos, como ouro e prata, madeira e solo agriculturável para a produção de especiarias, como, por exemplo, a cana de açúcar que levava ao cobiçado açúcar, de qualidade muito superior (em sabor e potencial energético e adoçante) ao produto europeu à base de beterraba. Um conhecido conjunto de fatores – que inclui a natureza do próprio pacto colonial, a entrada muito atrasada no processo de industrialização, um processo de independência top down e a perpetuação do processo de dependência econômica que não é novidade para os países do nosso hemisfério – impediu a transformação desse conjunto devantagens comparativas em vantagens competitivas. Ou seja, nosso potencial de apropriação de diferenciais não se traduziu em agregação de valor e crescimento daeconomia local. 

Por graça, ou ironia, do destino, este início de século 21 nos presenteia, uma vez mais, com as características e os ativos desejados pelo mundo. Estes, porém, são agora de outra natureza e dizem respeito, principalmente, aos insumos necessários para a geração de energia renovável, ou seja: potencial hídrico de água doce, ventos, insolação, extenso litoral para aproveitamento da energia das marésbiomassa esociobiodiversidade, tecnologia própria (e pioneira) para a produção debiocombustíveis e bioenergia etc. 

Apresentam-se, também, fatores geopolíticos favoráveis, bastante independentes de nossa vontade ou alcance, como, por exemplo, a mudança no centro de gravidade da economia mundial, em função dos custos de produção e da localização dos insumos, e o redirecionamento dos fluxos de capital em função da crise dos mercados desenvolvidos.

As questões-chave, entretanto, são, por que e como transformar esse conjunto de vantagens comparativas, por vezes apelidadas de "credenciais verdes", em vantagens competitivas? A resposta à primeira pergunta é quase meramente retórica, em função das refinadas análises que a história econômica do Brasil tem merecido. Para citar alguns elementos contundentes, destaco:

1 – A oportunidade de romper com um padrão de comércio exterior do Brasil, de base agroextrativista com baixo valor agregado, sujeito às oscilações das commodities e sempre a serviço das necessidades de crescimento e desenvolvimento alheias;

2 – A possibilidade de se tornar um dos líderes de um novo ciclo econômico global que, embora retardado pelos percalços da crise econômico-financeira iniciada em 2008, será inapelavelmente desenvolvido, em função das atuais condições globais, considerando-se a demográfico global e a mudança inevitável dos processos de produção em função dos impactos (inclusive econômicos) das mudanças climáticas; 

3 – A inversão da nossa pirâmide de emissões de gases de feito estufa que, com a redução do desmatamento na região amazônica, posiciona energia, processos industriais e agricultura como os processos mais emissores da nossa economia, amplamente sujeitos a esforços de redução de emissões a partir da renovação dos compromissos e metas a serem pactuados a partir da COP20, a ser realizada em Paris (2015).

 

Fonte: Planeta Sustentável