Pesquisas, pesquisas, pesquisas… mas as empresas estão prontas para o consumo verde?


                                 

Entre tantas pesquisas que são publicadas ou vendidas regularmente sobre o consumo ‘verde‘, a maioria sempre chega à mesma conclusão: os consumidores brasileiros estão prontos para comprar produtos menos impactantes social e ambientalmente, mas ainda não há oferta. Do outro lado, estas pesquisas mostraram o quanto estes mesmos consumidores desconfiam das ações alardeadas pelas empresas. No fundo, o que falta é informação e conhecimento.

Se as tais pesquisas mostram isso, por que tanta desconfiança e por que os produtos menos impactantes ainda são minoria nas prateleiras? E quando existem, estes produtos são mais caros, como por exemplo os orgânicos ou detergentes biodegradáveis.

Parece que, de um lado, as empresas não sabem se posicionar. Ao invés de explicar, pintam a embalagem de verde. Ao invés de dar transparência, dão uma linha fina usando selos obscuros muitas vezes produzidos por entidades de classe ou entidades setoriais. No entanto, os consumidores estão dizendo que não basta dizer que é verde, tem que comprovar que é verde. E ainda, o que é verde?

Do outro lado, os consumidores não sabem o que é realmente importante para julgar uma empresa, ou sua marca, no que diz respeito à sustentabilidade. Mas quando sabem, percebem que o ciclo não fecha. Só para ficar um exemplo corriqueiro: a embalagem pode ser biodegradável, mas o consumidor sabe que não existem sistemas eficientes para destinar corretamente a embalagem que ele descarta, pois, no Brasil, salvo raríssimas exceções, se recicla apenas menos de 5% de todo o resíduo produzido. E cada brasileiro, consumidor ou não, produz cerca de 1,2Kg por dia de lixo (sim, lixo porque não são reutilizado ou não entra em um processo de reciclagem)!

Talvez um grande erro de todo este debate é a falta de uma definição clara do que se está falando. A maioria quer que o termo se defina apenas pelos quesitos ambientais, deixando de lado o social e outros conceitos igualmente importantes. Sustentabilidade, no fundo, se defino pelo equilíbrio.

Acredito que o nosso senso sobre o que esta acontecendo vale mais que muitas pesquisas que usam metologias diferentes, definições variadas e amostras incongruentes.

Assim, nos perguntarmos o que são produtos verdes eco-friendly? O que é exatamente consumo verde? Essas palavras lindas chegam a nós com N definições e entendimentos.

Portanto, a compreensão da palavra sustentabilidade varia dependendo do nível educacional, dos valores individuais, do entendimento de mundo, da profissão etc. E reforço: é palavra e não um conceito, pois não foi provado cientificamente e pode ter significados/entendimentos diferentes….

Vejo que sustentabilidade está sendo usada como apenas mais um termo para abrir um novo mercado e fazer as empresas ganharem mais dinheiro. Esses pseudo-valores estão dentro da sustentabilidade, que na minha visão deveria ser um modo de vida com valores, éticas, jeitos de pensar e de se comportar. Mas o ser humano precisa de palavras para segmentar e para gerar $$ já que vivemos numa sociedade capitalista.

A complexidade do nosso sistema de produção deve levar em conta vários quesitos. Só para mostrar como é complexo pensar em tudo isso, lembro que nos últimos anos WWF identificou Cuba com um exemplo de desenvolvimento sustentável principalmente por que os cubanos consomem menos energia e menos recursos naturais para sobreviver com alguns altos índices de desenvolvimento humano. Mas, e aqui é uma conclusão rápida, será que é um modelo para nós?

É de se pensar.

No entanto, já temos sistemas e tecnologia que podem disseminar a informação de uma maneira mais completa para ajudar o cidadão a consumir melhor. Qualquer conhecedor do debate da sustentabilidade saberia definir em alguns pontos o que faz um produto mais ‘verde’ que o outro. Podemos usar nas embalagens códigos QR nos produtos com identificação de:

– Emissão de CO2 de todos os processos, todos;

– A pegada hídrica – de define o quanto de água é usada em todos o processo;

– A origem da matéria-prima, mostrando o quanto tem de impacto social;

–  A quantidade energia que foi usada em todos os processos;

– A cadeia de empresas que ‘mexeram ‘no produtos;

– Qual o pagamento realizado em cada processo;

– A dignidade dos trabalhadores envolvidos nos processos – entre outros.

Alguns exemplos deste detalhamento já existem como no site Honest By, que incorpora nos produtos (neste caso roupas) detalhes até de preço e origem de cada item que compõe o produto final, além, é claro, da pegada de carbono.

Na era de informação em nuvem, não há mais desculpas para as empresas não informarem como fazem o que vendem. Não há mas desculpas para ficarmos sabendo da ‘qualidade’ da mão de obra de uma empresa apenas quando um blogueiro alardeia uma batida policial em galpões tercerizados de redes varejistas imensas que utilizam mão de obra escrava.

Se o que as pesquisas dizem é verdade, o consumidor está mais do que pronto para produtos que gerem valor para todos, inclusive para o meio ambiente. E as empresas, estão prontas?

Rafael Art

Fonte: Agenda Sustentabilidade