Navio grego suspeito do óleo no Nordeste brasileiro entregará documentos solicitados


Manchas de óleo aparecem há três meses na costa brasileira (ADEMAS/AFP)

O petroleiro grego “Bouboulina”, principal suspeito segundo as autoridades do gigantesco derramamento de petróleo no litoral brasileiro, declarou-se disposto a apresentar os documentos sobre os detalhes de sua navegação no final de julho.

De acordo com a empresa Delta Tankers, proprietária do Bouboulina, uma carta das autoridades brasileiras enviada ao Ministério da Marinha Mercante da Grécia pede que quatro empresas marítimas gregas – incluindo a Delta Tankers – forneçam documentos que contribuam para a investigação realizada sobre o enorme vazamento de óleo.

Também proprietárias de navios petroleiros que navegaram durante esse período na costa brasileira, s outras empresas gregas afetadas são: Marani, dos navios “Maran Apollo” e “Maran Libra”; Euromav, proprietária do “Cap Pembroke”, e Minerva, dona do “Minerva Alexandra”.

O prazo para entregar os documentos ao Ministério grego antes de serem enviados ao Brasil é 13 de novembro, afirma uma fonte próxima ao processo.

A origem da mancha, que surgiu no final de julho e poluiu mais de 2.000 quilômetros do litoral nordestino brasileiro, permanece um mistério.

Em 1º de novembro, porém, as autoridades brasileiras disseram ter identificado o “Bouboulina” como o principal suspeito do desastre ecológico, graças a imagens de satélite.

A Delta Tankers negou “qualquer responsabilidade” na catástrofe ambiental e considerou que não havia evidências de vazamento no navio-tanque, que partiu da Venezuela em 19 de julho antes de chegar diretamente a seu destino, o porto malaio de Melaka, em 4 de setembro.

Uma investigação completa realizada pelos petroleiros da Delta, com “câmeras, dados e gravações”, mostra que “não há evidências de vazamento, transferência de navio para navio, derramamento, perda (de carga), ou atraso de Bouboulina”, afirmou a Delta Tankers.

Segundo o Ministério Público brasileiro, os danos da mancha de óleo são de “proporções imensuráveis” e atingiram “estuários e manguezais em todo Nordeste brasileiro”.

Até 29 de outubro, as manchas apareceram em 264 locais em nove estados. Milhares de voluntários se mobilizaram para limpar as praias.

AFP

Greenpeace bloqueia refinaria da Total na França que utiliza óleo de palma


Ativistas do Greenpeace bloqueiam em 29 de outubro de 2019 a entrada da biorrefinaria total de Mede, perto de Marselha (AFP)

Ativistas da ONG Greenpeace bloquearam a entrada de uma refinaria no Sul da França, na qual o grupo Total produz combustíveis a base de óleo de palma, considerado uma das principais causas do desmatamento. Com ajuda de contêineres, quase 50 ativistas bloquearam a entrada da refinaria da cidade de La Mède, perto de Marselha. Dois deles se acorrentaram aos contêineres.

Os ativistas desejam alertar a população sobre o uso do óleo de palma, um produto acusado de provocar um grande desmatamento, principalmente no Sudeste Asiático. “Desmatamento made in France” e “Emmanuel Macron cúmplice”, afirmavam duas faixas exibidas pelos ativistas.

A refinaria de La Mède, uma das maiores da Europa, importa 550 mil toneladas de óleo de palma, de acordo com Clément Sénéchal, diretor da campanha sobre o clima e as florestas do Greenpeace França.

Os biocombustíveis a base de milho, cana de açúcar e de óleo de palma pareceram, a princípio, uma boa ideia para substituir os poluentes combustíveis fósseis. Mas a energia necessária para transformar e transportar os biocombustíveis afeta na realidade o propósito inicial de preservar o meio ambiente.

Indonésia e Malásia são os maiores produtores de óleo de palma e dominam praticamente todo o mercado, mas o crescimento da demanda está ampliando o cultivo em todo o planeta. A Colômbia é a quarta maior produtora.

AFP

Avanço das manchas de petróleo no Nordeste gera frustração crescente


Manchas de petróleo em Camacari, Bahia, em 17 de outubro de 2019 (AFP)

Manchas de petróleo de origem desconhecida se espalham há quase dois meses ao longo dos mais de 2 mil km de litoral do nordeste brasileiro, sem que ninguém saiba como deter o fluxo, nem quais serão seis impactos ecológicos, sanitários e econômicos.

“É desolador, desesperador especialmente quando se tem conhecimento da área, e se sabe que o impacto será enorme. É muito revoltante não poder proteger os manguezais e os estuários”, disse a oceanógrafa Mariana Thevenin.

Leia também:

A cientista começou a ver as manchas em meados de outubro em Salvador (BA) e fundou com amigos o grupo “Guardiões do Litoral”, que mobilizou centenas de pessoas para limpar os balneários. Milhares de voluntários tiveram a mesma iniciativa, muitos com as próprias mãos.

Em Carneiros (PE), considerada uma das praias mais belas do país, Lula Terra, ator e dono de pousada, achou petróleo há uma semana. “Vi a praia e comecei a chorar”, disse. A Marinha informou que já foram recolhidas mais de mil toneladas de óleo cru.

Imagens de pessoas retirando óleo das areias das praias afetadas ou do mar, trazido pelas ondas, circularam nas redes sociais, mas sem causar o mesmo impacto que os incêndios na Amazônia semanas atrás. Mas a gravidade da situação não é menor, alertam especialistas.

“É uma situação muito crítica”, diz Anna Carolina Lobo, gerente do programa marinho do Fundo Mundial para a Natureza-Brasil (WWF-Brasil). “Ainda não é possível medir o estrago. O que a gente sabe é que as praias vão levar pelo menos 20 anos para se recuperar, e o impacto econômico, para a pesca e o turismo é enorme”, acrescenta.

Negligência?

Segundo reportagem do jornal O Globo, as autoridades demoraram 41 dias para executar o Plano Nacional de Contingência para essas situações. Cinco mil militares foram enviados na semana passada como reforço para ações de limpeza 51 dias depois da detecção das primeiras manchas.

“É absolutamente inacreditável, e de fato isso mostra um extremo despreparo em lidar com esse tipo de coisas”, disse Lobo.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, assegura, no entanto, que o governo agiu desde o princípio. O governo afirma, ainda, que o petróleo é venezuelano, mas há divergências sobre a origem e diferentes hipóteses sobre as causas do vazamento.

A Petrobras informou na sexta-feira (25) que o petróleo se move sob a superfície do mar, e por isso é impossível mantê-lo distante das praias com barreiras de contenção. “É como procurar agulha em um palheiro”, afirmou um porta-voz da empresa.

“Nenhum radar consegue ver o petróleo no fundo”, reforça o diretor de proteção ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Olivaldi Azevedo. Mas estes argumentos não convencem especialistas ou voluntários.

“É demolidora a omissão do governo federal”, disse Thevenin.

Impacto por anos

Autoridades locais e regionais informam sobre os riscos de tomar banho nestas praias e consumir peixe, mas o governo federal não decretou emergência, nem centralizou orientações.

Segundo informações publicadas na imprensa, 17 pessoas foram aos hospitais com mal-estar após tocar no petróleo.

“Trata-se de um material tóxico”, que entra na cadeia alimentar, ao se depositar na microfauna consumida pelos peixes, que são consumidos por mamíferos maiores e por seres humanos, disse Luciana Salgueiro, coordenadora de políticas públicas do Instituto Biota de Conservação, em Alagoas.

Em termos ambientais, ela afirma que “a situação configura um desastre sem precedentes, cujos efeitos ainda irão permanecer na natureza por anos”.

Tartarugas, golfinhos e aves morreram ou foram resgatados quase asfixiados pelo petróleo. As manchas se aproximam de locais de migração de baleias e muitos crustáceos foram encontrados com vestígios de petróleo, segundo veículos locais.

Apesar de que as manchas continuam aparecendo diariamente, com a chegada do verão, o turismo ainda não sente o impacto. A CVC, uma das maiores operadoras de turismo do país, informou através de sua assessoria de comunicação que “curiosamente os clientes estão tranquilos”. A empresa recebeu alguns pedidos para alterar viagens, mas a grande maioria manteve até o momento suas reservas.

Quase dois meses depois do aparecimento das primeiras manchas, Lobo afirma que uma das poucas certezas é que “não sabemos quando o petróleo vai acabar”.

AFP

Leilão de Libra: O petróleo não é nosso?


Em meio a intensos protestos e um esquema de segurança que envolveu mais de mil homens do exército, força nacional de segurança e outras dezenas de policiais, o governo realizou na ultima segunda feira, dia 21, o leilão da maior área de petróleo da história do Brasil, o primeiro no novo regime de partilha. A área de Libra, como foi denominada, no pré-sal da Bacia de Santos, recebeu apenas uma oferta, do consórcio formado pela multinacional Petrobras, Shell, a francesa Total e as estatais chinesas CNOOC e CNPC.

                         

A forte participação das empresas privadas gerou surpresa entre especialistas. Como não houve concorrência, o governo vai receber o mínimo exigido, 41,65% de lucro em óleo, e apenas 15 Bilhões pela assinatura do contrato nos próximos trinta dias. Valor que se torna irrisório se comparado a quantidade de petróleo que será extraído da área ao longo dos anos, estimados entre 8 e 12 bilhões de barris de petróleo (alguns especialistas acreditam que podem chegar a 15 bilhões), o equivalente a toda produção de petróleo já realizada no Brasil (do campo de Lobato à bacia de Campos), bem como ao total de reservas comprovadas para exploração futura. É muito petróleo e cujo valor de mercado supera US$ 1 trilhão (40% do PIB nacional). O acesso a esta riqueza foi concedido ao valor de pouco mais de R$ 15 bilhões, ou 0,6% do valor total. Claro que há o pagamento de 15% de royalties (a serem aplicados em educação -75%- e saúde -25%), os impostos e custos de produção, estimados em R$ 650 bilhões. Há também a exigência de conteúdo nacional na produção de componentes e plataformas, estimulando a cadeia produtiva do petróleo e gerando 500.000 empregos (conforme estimativa do governo) e a exploração, que deve ser executada pela Petrobras. Depois de amortizado este custo é que haverá a partilha do excedente de petróleo, na ordem de 41,6 para a União e o restante para os concessionários, em que a Petrobras ficará com 40% e as empresas estrangeiras (Shell, Total e estatais chinesas) com os 60% restantes.

Na mesma noite da realização do leilão de concessão, em que só houve um consórcio participante, que arrematou o campo de LIBRA pelo preço mínimo, a presidente Dilma foi à televisão comemorar os resultados. Segundo ela os interesses nacionais foram resguardados porque as empresas estrangeiras ficarão com “apenas” 15% do total do petróleo. Mas o que ela não disse?

A presidente não disse que em um modelo de “Partilha” cada parte poderá fazer o que quiser com o petróleo que lhe couber, sem a necessidade de beneficiamento ou refino no Brasil. O resultado já é conhecido pelos brasileiros, que há 500 anos convivem com a exportação de matéria prima bruta (atualmente chamadas de commodities) de suas riquezas naturais. É assim desde nosso primeiro ciclo econômico, o Pau Brasil, quando se exportava toras de madeira para extração de tintura vermelha, que depois voltavam na forma de pano tingido. E assim se foi a árvore que batizou o nome desta terra. No ciclo do açúcar, ao menos havia o beneficiamento da cana de açúcar nos engenhos; com o modelo de partilha do pré-sal, nem isso.

Também não foi dito que para o esforço de prospecção no Pré-Sal, a Petrobras tem reduzido sistematicamente seus investimentos em refino e áreas de valor agregado. Como resultado, o Brasil, que há 50 anos havia alcançado a autossuficiência na produção de gasolina, agora é importador do produto, enquanto exporta óleo bruto. Neste caso os números apresentados pela Petrobras são sempre nebulosos, mas já se sabe que o Brasil importa anualmente ao menos US$ 6 bilhões em gasolina, o que tem afetado nossa balança de pagamentos e onerado o preço dos combustíveis, gerando defasagem entre o preço do produto importado e o preço de venda ao consumidor (o que não aconteceria se o país importasse petróleo e o refinasse no país). Ou seja, o modelo adotado leva a uma escancarada reprimarização e subalternização da economia nacional. Isso não foi dito no discurso da presidente.

Ainda assim há que reconhecer uma substancial entrada de renda extra para o país: R$ 1 trilhão. Conforme palavras da presidente em cadeia nacional: “um fabuloso montante de mais de R$ 1 trilhão; repito: mais de R$ 1 trilhão!”. De fato, quando eu era criança só encontrava esta cifra em estórias do Tio Patinhas. Como são cifras fabulosas, com 13 dígitos, por vezes nos confundimos. Este valor que o governo deverá receber (englobando royalties, impostos e partilha) será arrecadado ao longo de 30 ou 35 anos e só começará a entrar nos cofres do governo em 5 ou 6 anos, dividido por 30 anos, resulta em R$ 33 bilhões por ano. Ou seja, continua sendo um bom dinheiro, mas não tanto quanto vendido na televisão.

Outro aspecto a levar em conta é o pagamento do bônus de R$ 15 bilhões para assinatura do contrato, que será utilizado exclusivamente para compor o superávit primário da União, sem que seja transformado em um único lápis para a Educação ou aspirina para a Saúde. E deste valor, R$ 6 bilhões sairão do caixa da Petrobras, uma empresa do governo. Mas se toda a pesquisa e prospecção na identificação do petróleo no pré-sal foi resultado de investimentos da Petrobras (apenas para perfurar um único poço de pesquisa há um custo de US$ 250 milhões), por que a empresa teve que pagar ao governo? Apenas para aumentar o superávit fiscal, esta é a única resposta possível. E o que a Petrobrás poderia fazer caso investisse esses R$ 6 bilhões no interesse da própria empresa e do Brasil? Exemplo: seria possível construir uma refinaria de gasolina, de porte médio para grande, no Centro Oeste, que abasteceria toda região, além da Amazônia Ocidental, que pagam o mais alto preço de combustíveis no país; com isso diminuiríamos o déficit na balança de pagamentos, reduzindo significativamente a importação do produto e o preço baixaria para o consumidor, resultando em diminuição no índice nacional de inflação (pois também incidiria no custo de produção e transporte de alimentos e mercadorias produzidas no Norte e Centro Oeste), além de uma menor pressão cambial, permitindo uma taxa Selic em níveis mais civilizados.      

       Por fim, voltando à análise da parte que caberá às empresas estrangeiras. Como a presidente disse, será de 15% do total extraído. Há controvérsias e diversos estudos apontam um lucro maior, em meus cálculos cheguei ao índice de 18%, outros apontam até 25%, mas vamos admitir que o cálculo do governo está correto. Esta porcentagem representa uma quantidade de um e meio bilhão de barris de petróleo (estimando-se a reserva em 10 bilhões – pode ser mais) e tem um valor de mercado de US$ 150 bilhões (estimando-se ao preço de US$ 100 o Barril – pode ser mais), sendo que o custo de investimento, seja da Petrobras ou parceiras estrangeiras, será 100% coberto com o petróleo explorado; ou seja, estes 15% constituem-se em lucro líquido. Apenas como comparação: este valor é equivalente ao pagamento de todas as aposentadorias do Brasil pelo período de um ano, sejam públicas ou privadas; também permitiria a construção de 750 quilômetros de metrô (São Paulo conta com 72 km); ou 4 anos do orçamento total do Ministério da Saúde (R$ 80 bilhões em 2014);  ou 8 anos do orçamento total do Ministério da Educação (R$ 40 bilhões em 2013). Quanto estas empresas pagaram por esta fabulosa transferência de riqueza? R$ 9 bilhões ou US$ 4 bilhões. Um fabuloso (aí sim, fabuloso) lucro de 37.500%! Não à toa, a manchete da revista alemã Der Spiegel foi: “O Brasil vende um tesouro por uma pechincha”. De fato.

Fonte: Revista Fórum – Brasil Vivo ; Jornal de Londrina

 Laísa Mangelli

Exploração de petróleo na reserva de Yasuni é “essencial para a economia”, diz governo equatoriano.


As companhias de petróleo poderão em breve ter acesso a uma parte do território das reservas do Equador. 

Foto : Cecilia Puebla Associated Press. Manifestantes denunciaram no Quito, no último 27 de agosto, o projeto de exploração de petróleo dentro da reserva Yasuni.

O governo equatoriano estima que a exploração das reservas de petróleo em uma reserva detentora de uma excepcional biodiversidade, será essencial para a economia do país. Os opositores do projeto de exploração da reserva em destaque tentaram realizar uma consulta nacional sobre o tema e até mesmo um referendo.

A exploração de Yasuni é "algo essencial para a economia”, insistiu esta semana Patrício Rivera, diretor de política econômica do governo, em uma audiência perante o Congresso em Quito. De acordo com ele, dar sinal verde para as agências petrolíferas, contribuirá na luta de erradicação da pobreza dentro do país.

O governo equatoriano anunciou há duas semanas, a sua intenção de abrir uma parte da região amazônica no uso de energia fóssil, após o fracasso de uma campanha internacional para arrecadar fundos. De modo a compensar as perdas de receitas de Quito.

O presidente Rafael Correa havia realmente acordado em 2007 quanto à proteção desse importante patrimônio biológico mundial. No entanto, essa decisão foi uma surpresa para a comunidade internacional. Principalmente, quando um convite foi feito aos Estados para que colocassem as mãos no bolso. O problema é que a iniciativa batizada de Yasuni-ITT lançada em 2009, jamais levantou os fundos necessários esperados.

No entanto, o país realmente carece de liquidez. Como o menor membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, o Equador viu sua economia “dolarizada” em 2000, após uma grave crise financeira, o que o tornou ainda mais dependente da entrada de moeda estrangeira. De acordo com especialistas, o país não terá mais petróleo dentro de uma década, sem a reserva de Yasuni. Rafael Correa anunciou, há alguns meses, que a economia poderá entrar em colapso se o país não encontrar outros recursos futuros.

Biodiversidade excepcional

As empresas petrolíferas poderão, portanto, acessar em breve uma parte do território da reserva de Yasuní. A área alvo abrange um total de 10.000 km2. Ela está localizada no nordeste do país. Tal área fora designada como Reserva da Biosfera pela UNESCO em 1989, pertencente a um dos 19 locais da “megadiversidade" orgânica mundial.

Os estoques de espécies vegetais e animais também falam por si só. De acordo com os dados científicos relatados por especialistas, o parque abriga mais de 150 espécies de anfíbios, 200 espécies de mamíferos, 250 espécies de peixes e pelo menos 4.000 espécies de plantas com flores e árvores. Muitos desses representantes da fauna e da flora não se encontram em outro lugar do mundo.

O subsolo da região, como é o caso em muitas outras partes do país, contém grandes reservas de hidrocarbonetos. Na verdade, uma avaliação precisa da parte mais cobiçada pelo setor petrolífero, afirma que a reserva contém mais de 850 milhões de barris de ouro negro. O recurso traria bilhões de dólares, contudo, enviaria mais de 400 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera – o equivalente à produção anual da França – e ameaçaria ainda mais os povos indígenas da região.

O anúncio da exploração das reservas amazônicas provocou a ira de várias ONGs defensoras do meio ambiente e associações indígenas, as quais lançaram um procedimento, com a finalidade de convocar uma consulta popular sobre esta questão. Em caso de validação pelo superior tribunal, os promotores da iniciativa deverão garantir o apoio de 5% do eleitorado do país para que um referendo seja realizado. No prazo máximo exigido pela lei para coletar assinaturas.

 

Leia AQUI o desfecho dessa história.

Fonte: Le Devoir 
Publicado no dia: 4 de setembro de 2013 as 16h48 por Alexandre Shields.
Tradução: Matheus Lima.

1º contrato para exploração do pré-sal será assinado hoje


O vencedor do leilão que assinará o contrato é o consórcio formado por Petrobras (40%), Shell (20%), Total (20%), CNPC (10%) e Cnooc (10%)

         

Brasília – O governo federal firma hoje (2) o primeiro contrato de partilha da área do pré-sal com as empresas vencedoras do leilão para a exploração da área de Libra, na Bacia de Santos, feito em outubro. O vencedor foi o consórcio formado pelas empresas Petrobras (40%), Shell (20%), Total (20%), CNPC (10%) e Cnooc (10%).

O critério que definiu o primeiro colocado na licitação foi o excedente em óleo oferecido pelo consórcio, que ficou em 41,65%. A Petrobras entrou com 10% na oferta vencedora, além da sua participação mínima de 30% na área.

Serão aplicados 75% dos royalties do pré-sal na educação e 25% na saúde. A estimativa da Agência Nacional de Petróleo, Gás Nacional e Biocombustíveis (ANP) é que Libra seja capaz de gerar cerca de R$ 300 bilhões em royalties ao longo de 30 anos de produção. Pelo contrato, o consórcio ainda se comprometeu a pagar um bônus de assinatura de R$ 15 bilhões à União.

A licitação do bloco de Libra é a primeira experiência do Brasil no regime de partilha da produção. A área está localizada na Bacia de Santos, a cerca de 170 quilômetros do litoral do estado do Rio de Janeiro e tem cerca de 1,5 mil quilômetros quadrados.

A cerimônia de assinatura do contrato será às 11h, no Palácio do Planalto, e contará com a presença da presidenta Dilma Rousseff.

Fonte: Exame.com

 

‘Assinatura’ da Venezuela é achada em manchas de petróleo espalhadas pelo Nordeste


Ainda não é possível dizer que todo o vazamento que atinge praias tem a mesma origem. (Prefeitura de Piaçabuçu/Ascom/Fotos Públicas)

Investigações sigilosas da Marinha e da Petrobras encontraram petróleo com a mesma “assinatura” do óleo da Venezuela em manchas que se espalharam até agora por pelo menos 138 pontos do litoral dos nove estados do Nordeste. Nessa terça-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro disse não descartar uma ação criminosa. E o Sergipe planeja usar boias para impedir que o material atinja a bacia de rios, como Vaza Barris e São Francisco.

Segundo uma fonte da alta cúpula do governo, trata-se do mesmo tipo de óleo extraído da Venezuela – o que corrobora rumores a esse respeito veiculados desde a semana passada. A conclusão já foi informada ao Ibama, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Mas não é possível dizer que todo o vazamento que atinge praias tem a mesma origem. A Marinha e a Polícia Federal analisam amostras e não deram informações oficiais.

Ainda nessa terça, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que há a possibilidade de que o derramamento tenha sido criminoso. Ele, no entanto, ponderou que as investigações estão em curso. A reportagem questionou a Petrobras sobre a possível presença de óleo da Venezuela nas instalações da refinaria Abreu e Lima, estrutura que, em princípio, seria construída com a parceria da estatal PDVSA. A Petrobras informou que nunca processou óleo de origem venezuelana em Abreu e Lima.

Por meio de nota, a estatal declarou que a análise realizada pela empresa em amostras de petróleo cru encontrado em praias do Nordeste “atestou, por meio da observação de moléculas específicas, que a família de compostos orgânicos do material encontrada não é compatível com a dos óleos produzidos e comercializados pela companhia”. Os testes foram realizados nos laboratórios do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio.

“Nós temos isso bem documentado, coletamos 23 amostras, nosso centro de pesquisas realizou análises bioquímicas e chegou à conclusão de que não se trata de nenhum óleo produzido e/ou comercializado pela Petrobras”, disse o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, após audiência na Câmara. Segundo ele, já foram recolhidas 133 toneladas de resíduo oleoso de praias.

A estatal PDVSA foi procurada e não se pronunciou. As investigações sobre a origem do óleo ainda não avançaram. Para David Zee, professor da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio (Uerj), o vazamento de um navio constitui “uma hipótese possível”. “Pela quantidade espalhada pode até ser a carga completa de um petroleiro.”

Em nota, a Marinha disse ter empenhado 1.583 militares, cinco navios e uma aeronave nessas operações de análise e monitoramento. A Marinha ainda classificou a ocorrência como “inédita”.

Boias e preocupação

O governo de Sergipe anunciou que colocará boias absorventes para evitar que o óleo que polui a zona litorânea sergipana entre nos rios, sobretudo o São Francisco. Os equipamentos serão cedidos pela Petrobras. O trabalho de retirada do óleo da costa continua, assim como o monitoramento, tanto por parte da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) como por órgãos federais.

A situação preocupa, além das autoridades, ambientalistas. “Sem dúvida é o maior desastre ambiental no litoral do Nordeste do Brasil”, diz Flávio Lima, coordenador geral do Projeto Cetáceos da Costa Branca da Universidade Estadual de Rio Grande do Norte (UERN). Ele e sua equipe estão envolvidos no atendimento dos animais contaminados pelo óleo de origem ainda desconhecida e identificado como petróleo cru.

Até o momento, em todo o Nordeste, 16 tartarugas marinhas, espécie ameaçada de extinção, foram contaminadas pela substância – e o lançamento delas também deixou de ocorrer. O vazamento do óleo já atinge 61 municípios.

“Além do risco de contaminação para a megafauna marinha local, que envolve diversas espécies de aves, cetáceos e o peixe-boi marinho, espécie de mamífero marinho mais ameaçada de extinção do país, é preocupante a exposição da população e dos atores locais que utilizam as praias afetadas”, alerta o coordenador.

Agência Estado/Dom Total

Mancha de óleo atinge Morro de São Paulo, famoso destino turístico da Bahia


Morro de São Paulo é o terceiro destino turístico mais visitado da Bahia (Divulgação Prefeitura)

A praia de Morro de São Paulo, no município de Cairu, a 176 km de Salvador, foi atingida por uma grande quantidade de óleo na madrugada desta terça-feira (22). O poluente começou a chegar à faixa de areia por volta das 2h, segundo pescadores da região.

Leia também:

A segunda e a terceira praias foram as mais afetadas. Por questões de segurança, a prefeitura da cidade interditou inicialmente o acesso de banhistas aos locais, mas, logo em seguida, as praias foram liberadas. Considerado como o mais requisitado e conhecido de Morro, o passeio “Volta à Ilha” também foi temporariamente suspenso, mas liberado logo depois.

Desde às 2h30 da madrugada até a manhã desta terça-feira (22), 1,5 tonelada de óleo foi retirada pelas equipes das Secretarias Municipais de Desenvolvimento Sustentável e Especial de Morro. Voluntários e homens da empresa responsável pela limpeza pública da região também auxiliaram na operação de retirada do resíduo.

Divulgação Prefeitura
Divulgação Prefeitura

A quantidade foi a maior registrada até o momento em praias na região sul da Bahia. No último fim de semana, manchas foram encontradas em Ilhéus e Itacaré, mas em menor porção.

Além de Morro, fragmentos de óleo foram registrados nas praias da Cueira, em Boipeba, e de Ponta do Quadro, em Garapuá. As áreas também estão sendo limpas pela prefeitura e voluntários.

Segundo a secretária de Desenvolvimento Sustentável de Cairu, Fabiana Pacheco, a situação está controlada. O material foi reunido e aguarda a retirada da ilha pelos órgãos responsáveis: Defesa Civil, Marinha do Brasil e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Uma reunião realizada nesta manhã, com equipes da pasta, vai definir o plano de ação que será adotado diante da chegada do poluente.

Segundo o superintendente do Ibama na Bahia, Rodrigo Alves, equipes do órgão e da Marinha já estavam monitorando a região, diante da possibilidade de avanço do óleo para o sul baiano. Isso possibilitou que a ação de resposta à chegada do poluente fosse mais rápida. Equipes que atuam no Litoral Norte foram deslocadas para a região ainda pela manhã.

Plano de Emergência Individual

Ainda de acordo com o superintendente, o Ibama vai oficiar a Petrobras para que empregue o Plano de Emergência Individual (PEI), desenvolvido para a plataforma de Manati, que fica na bacia de Camamu. O planejamento é acionado quando há incidentes de poluição por óleo. Mesmo que o poluente encontrado não seja da petroleira, o objetivo é de que a expertise da estatal seja usada para minimizar os impactos em Morro. “A Petrobrás pode disponibilizar monitoramento e equipamentos da plataforma nesta operação”, explica Rodrigo.

A preocupação agora é que o vazamento avance para a Baía de Camamu. Terceira maior do Brasil e segunda maior da Bahia, a baía é considerada bem preservada e ambientalmente sensível, já que é irrigada por rios pequenos com muitos manguezais, nascedouros e berçários de várias espécies marinhas. A área poluída nesta madrugada também abriga a Área de Proteção Ambiental (APA) das Ilhas de Tinharé e Boipeba.

Com uma população de cerca de 100 mil habitantes, Morro é o terceiro destino turístico mais visitado da Bahia, perdendo apenas para Salvador e Porto Seguro, no extremo sul do Estado. Cerca de 400 mil turistas que passam pelo local por ano, atraídos pelas belas praias.

Ações

A prefeitura de Cairu afirmou que o monitoramento das praias do arquipélago e adoção das estratégias do Plano de Emergência Ambiental foram adotados desde os primeiros sinais de impacto do vazamento de óleo na Bahia. “Todos os materiais necessários para proteção e limpeza também foram adquiridos antecipadamente”, informou em nota.

O município aguarda nesta terça as equipes do Grupo de Avaliação e Acompanhamento (GAA), formado por Marinha do Brasil, Ibama, Inema (órgão estadual) e Agência Nacional de Petróleo (ANP) para mensurar os danos causados. O monitoramento de outras praias prossegue. A prefeitura afirmou também que continuará com uma operação de pente-fino, que será realizada por equipes da gestão municipal em todas as localidades do município para assegurar que não há vestígios de óleo.

Rodrigo Alves ressaltou que as praias do Nordeste estão recebendo quantidade cada vez menor de óleo nos últimos dias. A situação é mais crítica em Pernambuco e Alagoas. De acordo com balanço feito na segunda à noite, 21, pelo Ibama, 75 praias da região estão limpas e não voltaram a registrar vestígios do poluente.

Apesar desta tendência, a praia de Carneiros, um dos maiores destinos turísticos pernambucanos, amanheceu coberta de óleo na sexta, 18. Um dia antes, o material poluiu a praia e a área de proteção ambiental de Maragogi, no litoral norte de Alagoas.

Na Bahia, o óleo atingiu esta semana 11 praias de Salvador, incluindo pontos turísticos como o Farol da Barra. Até as 18h de sexta-feira, 90 toneladas de óleo tinham sido recolhidas na capital, de acordo com a prefeitura.

O superintendente do Ibama destacou a preocupação do governo federal com a atividade turística no Nordeste e reforçou que as pessoas não devem ter receio de visitar as praias da região. “As pessoas estão muito impressionadas com as imagens de grande quantidade de óleo em alguns locais, mas não é todo o Nordeste que está assim. É importante frisar isso”, ressaltou.

Susto em Vera Cruz

A morte de 12 tartarugas marinhas desde 11 de outubro deixou em alerta o governo de Vera Cruz, região metropolitana de Salvador. O fato de praias do município terem sido atingidas por manchas de óleo levantou a possibilidade dos animais terem sido intoxicados pelo material.

Uma análise feita pelo Projeto Tamar, que atua na preservação de espécies de tartarugas-marinhas em extinção, apontou, no entanto que a matança foi provocada pela atividade pesqueira. Diretora de Fiscalização de Meio Ambiente de Vera Cruz, Priscilla Velloso informou que nenhum dos animais foi encontrado com manchas de óleo. A orientação dada pela prefeitura é de que, caso alguma espécie seja vista com marcas do poluente, o animal seja encaminhado para análise do Ibama.

Além de Morro de São Paulo, o óleo também atingiu outras duas praias do município de Cairu, que é um arquipélago formado por 26 ilhas.

Agência Estado

13ª rodada de licitações de petróleo e gás


13ª rodada de licitações de petróleo e gás: é preciso qualificar o debate sobre fracking e matriz energética brasileira

 

Apesar das manifestações contrárias da sociedade civil durante a realização da 13ª rodada de licitações de petróleo e gás, o processo ainda é notadamente pouco participativo e democrático. Desde 2013, quando a ANP anunciou no edital da 12ª rodada de licitações a possibilidade de exploração de recursos não convencionais através do fraturamento hidráulico (fracking) em território nacional, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, pesquisadores e o Ministério Público alertam para os graves riscos e ameaças relacionados ao uso dessa técnica.

A reportagem é de Julio Holanda e publicada por Canal Ibase, 14-10-2015.

Fala-se na grande mídia que a 13ª rodada de licitações de petróleo e gás realizada pela ANP no último dia 07 de outubro foi um “fracasso”. Em grande parte isso se deve ao fato de que dos 266 blocos ofertados pela agência apenas 37 foram arrematados pelas empresas inscritas, uma porcentagem de apenas 14%, o segundo pior resultado desde o início dos leilões.

De acordo com a diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP) o péssimo resultado teve influência direta dos baixos preços do barril do petróleo no mercado internacional e também da inédita ausência da Petrobras no leilão, por conta da grave crise política e do anúncio de desinvestimentos, uma vez que as demais empresas com frequência pleiteiam a parceria da estatal brasileira.

Com a falta de interesse das empresas em vários blocos, o resultado refletiu em uma menor arrecadação no bônus de assinatura – valor pago pelas empresas vencedoras à ANP. Para se ter uma ideia, se todos os blocos ofertados fossem arrematados pelo valor mínimo do bônus de assinatura estabelecido no leilão a arrecadação seria de aproximadamente R$ 978 milhões, valor muito acima dos R$ 120 milhões arrecadados no presente leilão. Destes, cerca de R$ 100 milhões refere-se apenas a 2 blocos arrematados pela Queiroz Galvão, única grande empresa participante.

Esse valor está bem abaixo das projeções estabelecidas em junho pelo Ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga,que girava em torno de R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões. Se havia por parte do governo brasileiro a expectativa de que os recursos levantados no leilão poderiam ajudar a reduzir o déficit orçamentário e conseguir alcançar um superávit, sem dúvidas o leilão pode ser encarado como um verdadeiro fracasso, uma vez que o valor arrecadado ficou muito abaixo do esperado.

Ampliar o acesso à informação e radicalizar a democracia

Apesar das manifestações contrárias da sociedade civil durante a realização da 13ª rodada, o processo ainda é notadamente pouco participativo e democrático. Isso fica evidente à medida que as diferentes posições apresentadas tanto na 13ª como na 12ª rodada por movimentos sociais, pesquisadores, organizações da sociedade civil e Ministério Público, pouco ou quase nada são efetivamente incorporadas pela ANP.

A participação da sociedade civil é muito restrita nesse processo e acontece basicamente em três momentos. Nas audiências públicas, que são certamente um avanço e uma conquista popular, mas que se tornaram reuniões fechadas e pouco acessível à população, além de serem realizadas distantes das localidades mais diretamente afetadas pelos projetos – no caso da 13ª rodada a audiência ocorreu no Rio de Janeiro, apesar do leilão ter envolvido pelo menos outros 12 estados da federação. Além de mais dois momentos: os seminários técnico-ambiental e o jurídico-fiscal. Nesses encontros, a maior parte do público são representantes das empresas, interessados em saber quais blocos são mais vantajosos para seus negócios e a linguagem excessivamente técnica dificulta e muitas vezes inviabiliza um maior diálogo com a sociedade.

Esses espaços certamente deveriam servir para tornar mais evidente os potenciais riscos de impactos socioambientais para ecossistemas e populações que moram nas localidades onde os blocos estão sendo ofertados. O que se percebe é que os seminários da ANP têm servido, no modelo atual, muito mais para subsidiar a decisão das empresas do que para contribuir no posicionamento da sociedade civil e na construção de um processo efetivamente democrático.

Sociedade civil em alerta: a ameaça permanente do fracking!

Desde 2013, quando a ANP anunciou no edital da 12ª rodada de licitações a possibilidade de exploração de recursos não convencionais através do fraturamento hidráulico (fracking) em território nacional, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, pesquisadores e o Ministério Público alertam para os graves riscos e ameaças relacionados ao uso dessa técnica. Mesmo com o posicionamento contrário dessas entidades, a ANP realizou a 12ª rodada de licitações em outubro de 2013 “abrindo o caminho” para o avanço do fracking no Brasil – em que pese o processo de judicialização que impede essa atividade em alguns estados e os projetos de lei de moratória em alguns municípios do Paraná.

Apesar de a ANP não incluir explicitamente no edital da 13ª rodada a possibilidade de exploração dos recursos não convencionais, como ocorreu em 2013, possivelmente para evitar contestações e processo de judicialização, a ameaça persiste no leilão realizado neste ano, bem como nos demais já realizados anteriormente pela agência. Isso se deve ao fato de que a ANP publicou em 2014 uma resolução que regulamenta a técnica de fraturamento hidráulico em reservatórios não convencionais para os “detentores de direitos de exploração e produção de petróleo e gás natural”, ou seja, todas as empresas detentoras de concessão de blocos de qualquer rodada, inclusive a 13ª, estão legalmente permitidas à utilizar essa técnica desde que submetidos ao órgão ambiental competente.

Ciente disso, a sociedade civil tem estado em alerta com a ameaça do fracking em território nacional. Neste ano, por exemplo, foi realizado pelo Ibase em conjunto com Asibama-RJ e o Fórum dos Atingidos pelo Petróleo e Petroquímica das cercania da Baía de Guanabara (FAPP-BG) uma roda de debate sobre a temática, com a participação de diferentes organizações sociais, pensando estratégias comuns e refletindo sobre os principais riscos e ameaças dessa técnica, a saber: o uso excessivo de água; contaminação do solo, das pessoas, ecossistemas e recursos hídricos; sobreposição com terras indígenas e unidades de conservação e contribuição às mudanças climáticas – muitos desses riscos já relatados e comprovados em artigos e publicações científicas.

Durante a realização da 13ª rodada representantes de etnias indígenas do Acre alertaram para as ameaças do uso dessa técnica em seus territórios, chamando atenção para casos anteriores de conflitos com a exploração de petróleo na região e a Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS) realizou protesto contra o fracking, de acordo com o coordenador da organização, “jamais aceitaremos silenciosamente a exploração de qualquer modelo de exploração não convencional, pois primamos por nossas vidas”. Houve também manifestação do SindipetroRJ, que esteve presente com carro de som e distribuindo a cartilha “Todo petróleo tem que ser nosso”. De acordo com um dos diretores do sindicato, “estamos solidários com os indígenas e dizemos não aos leilões do petróleo”.

A vigilância por parte da sociedade civil se faz necessária considerando-se os resultados do presente leilão. Se para a indústria do petróleo como um todo pode-se considerar um resultado frustrante, para o avanço do fracking no país não pode ser dito a mesma coisa. Das 10 bacias sedimentares ofertadas, apenas quatro tiveram blocos arrematados, sendo que as mais disputadas e com maior número de blocos negociados, as Bacias do Recôncavo e Parnaíba, 18 e 11 blocos respectivamente, são as indicadas pelo Ministério de Minas e Energia (MME) com maior potencial de exploração do gás não convencional. De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia, documento elaborado pelo MME, o governo brasileiro projeta que a produção de recursos não convencionais tenha início em 2022, atingindo valor significativo em 2024, começando nas bacias do Recôncavo, Parnaíba e São Francisco.

Uma das principais preocupações relacionadas ao fracking refere-se ao uso excessivo de água. Estima-se que para cada poço de recurso não convencional seja necessário entre 9 e 29 milhões de litros de água (Parecer Técnico GTPEG Nº 03/2013, pág 51). O primeiro poço de fracking na Argentina, por exemplo, utilizou 30 milhões de litros de água. Cabe salientar que os blocos arrematados na Bacias do Recôncavo e Parnaíba estão localizados na região brasileira que historicamente tem convivido com os efeitos da estiagem, mais precisamente nos estados da Bahia, Maranhão e Piauí. Esses estados têm apresentado os maiores números de municípios em situação de emergência em razão do déficit hídrico. Em junho de 2015, de acordo com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, a Bahia possuía 106 municípios reconhecidos nesta situação e o Piauí 152.

A problemática da seca no Nordeste, região indicada pelo MME como uma das prioritárias para que se tenha início a produção do gás não convencional, não é apenas de falta de água, pois o Brasil é reconhecidamente um dos países que detém as maiores reservas de água doce no mundo, mas principalmente de gestão desses recursos. Assim, o uso dos recursos hídricos para o fracking tende a disputar esse recurso com outras atividades já instaladas na região, também hidrointensivas, como o agronegócio, setor industrial e a mineração, em que todas se sobrepõem ao uso da água para a agricultura familiar e pequenas produções. Nesse sentido, se faz necessário uma revisão dos contratos de outorga para essas atividades na região, tendo em vista todas as sobreposições que já existem.

Matriz energética e modelo de desenvolvimento: um debate necessário

Em setembro a presidenta Dilma anunciou o compromisso voluntário do governo brasileiro em reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e 43% até 2030, tendo por base as emissões de 2005, a ser apresentado naCOP-21 em Paris. Apesar de representar um certo avanço em relação as posições assumidas pelo país, a meta é visivelmente insuficiente, tendo em vista que a base de comparação deveria ser 1990 e não 2005, ano em que as emissões nacionais estiveram próximo do pico máximo. Pode-se dizer também que a meta é bastante tímida, frente aos desafios que a atual problemática climática e socioambiental exigem e do potencial que o Brasil tem de protagonizar modelos alternativos e soluções sustentáveis.

Entretanto, o leilão recém realizado pela ANP sugere que o discurso oficial do governo se contradiz com a sua prática, pois o Brasil ofertou quase 300 blocos para exploração de petróleo e gás, ampliando ainda mais a dependência desses recursos na matriz energética. Mesmo que não tenha sido de forma proposital ou planejada, mas sim por contingência da conjuntura e dos interesses das empresas petroleiras, o menor número de blocos arrematados indica uma menor exploração de petróleo e gás no país, pelo menos em comparação ao cenário em que a totalidade dos blocos fossem negociados.

Mas infelizmente esse é um cenário temporário, pois ainda vai ocorrer a “segunda etapa” da 13ª rodada em dezembro deste ano, referente as áreas inativas com acumulações marginais. Essas áreas referem-se a campos produtivos ou em fase de desenvolvimento, que foram devolvidos à ANP pelos antigos operadores. Os mesmos encontram-se distribuídos em 6 bacias sedimentares: Barreirinhas, Potiguar, Tucano Sul, Espírito Santo, Paraná e Recôncavo. Além disso, observa-se fortes indícios de aprofundamento do padrão de dependência dos combustíveis fósseis nos próximos anos. Não há no curto ou médio prazo, uma proposição de redução significativa ou pelo menos de revisão do atual modelo e ritmo de exploração de petróleo e gás no país. Uma das evidências é o cenário elaborado pelo Plano Decenal de Energia (PDE) que prevê um aumento considerável na produção nacional de petróleo, passando dos atuais 2 milhões de barris por dia (bpd) para cerca de 5 milhões bpd até 2022, para atender principalmente o setor de transportes. Ao que tudo indica a máxima “explorar até a última gota” segue vigente.

Assim, é necessário a construção de uma agenda ampla de debates sobre a matriz energética brasileira e o atual modelo de desenvolvimento, que gira em torno de três problematizações básicas: “Energia para que? Para quem? E como essa energia vai ser gerada?”. Não é suficiente que a sociedade esteja envolvida apenas no debate do “como” a energia deve ser gerada, que é apenas a ponta do iceberg. Os debates e articulações setorizadas sobre as diferentes formas de geração de energia e suas implicações são necessárias, sem dúvidas, mas é preciso ampliarmos o debate e entendê-lo em sua complexidade.

Hoje, por exemplo, temos poucos setores produtivos que consomem quantidade significativa de energia, enquanto há populações no Brasil que não têm energia residencial ou que sofrem com racionamentos diários. Então, a primeira pergunta questiona se queremos mesmo o atual modelo de desenvolvimento, que privilegia alguns setores produtivos e que tem gerado impactos socioambientais crescentes. E quais os setores realmente devem ser priorizados? Não está amplamente transparente e divulgado para a população quais são as atividades que mais consomem energia e o que é feito com ela.

Além disso, precisamos nos questionar para quem essa energia é gerada e quem são os principais beneficiados. Para se ter uma ideia, ao mesmo tempo que existem grandes empresas que recebem subsídios do governo para obter energia, a população de São Paulo, por exemplo, teve um reajuste na conta de energia de aproximadamente 80% em apenas dois anos e meio.

A última pergunta, “como a energia vai ser gerada?”, nos faz questionar se precisamos mesmo de mais projetos como Belo Monte, Tapajós e termelétricas. O nosso problema é de oferta ou de gestão da energia que tem sido gerada? Assim, precisamos discutir, em paralelo, quais as fontes de energia que precisamos para atender as nossas necessidades de modo socialmente justo e ecologicamente equilibrado. Não podemos mais insistir em um modelo depende de combustíveis fósseis, mas também não é toda “alternativa”, implementada de qualquer maneira, que vai ser necessariamente justa e sustentável. É crescente o número de grupos sociais localizados em territórios próximos aos parques eólicos, por exemplo, que denunciam que essas atividades geram impactos negativos aos ecossistemas e ao modo de vida local, além dos já relatados e difundidos envolvendo a geração hidroelétrica e nuclear.

No caso brasileiro é preciso planejamento por parte dos órgãos públicos, mas com ampla consulta prévia à sociedade civil e principalmente às localidades mais diretamente afetadas pelos projetos. O modelo do “tudo agora ao mesmo tempo” não tem se mostrado eficiente, sempre a partir de uma pretensa “necessidade” de gerar mais energia e diversificar a matriz. O Brasil têm investido de modo complementar nas mais variadas fontes de energia, como hidroelétricas, usinas nuclear, eólica, termelétricas, petróleo e gás natural (pré-sal e a expectativa de inclusão do fracking), pequenas centrais hidrelétricas, setor sucroalcooleiro etc, sem que com isso tenhamos conseguido resolver os problemas sociais e ambientais, que só se agravam. É preciso reforçar o questionamento sobre essas ditas “necessidades”, muitas vezes naturalizadas no cotidiano, ou seja, estamos tratando de uma matriz energética para atender qual modelo de desenvolvimento?

Os desafios são enormes, mas se nos basearmos nos exemplos de lutas e reivindicações contra-hegemônicas que surgem no interior da sociedade civil, certamente teremos indícios de que outro modelo de desenvolvimento não só é possível, mas que já existe, é real e está sendo construído e experimentado em diferentes localidades, em diferentes escalas. A partir dos saberes, práticas e experiências das populações locais e movimentos em resistência, seja através das práticas agroecológicas, da permacultura, do turismo comunitário, da economia solidária, das práticas indígenas e tradicionais, da geração descentralizada de energia eólica e solar e das práticas de convivência com o semi-árido. Cabe a nós visibilizá-las e fortalecê-las no debate público.

Fonte: IHU

Óleo no litoral do Nordeste ‘parece criminoso’, diz Bolsonaro


Manchas de óleo são vistas na Praia da Sabiaguaba, em Fortaleza (CE). (KLEBER GONÇALVES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

Por Pedro Fonseca

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (8) que o petróleo que atingiu praias do Nordeste parece ter sido despejado criminosamente na região, uma vez que se fosse resultado de vazamento de um navio afundado o fluxo seria constante.

Leia também:

“É um volume que não está sendo constante. Se fosse de um navio afundado estaria saindo ainda óleo. Parece que o mais fácil, o que parece, é que criminosamente algo foi despejado lá”, disse Bolsonaro a jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, em declaração transmitida ao vivo pelo YouTube por um apoiador do presidente.

Bolsonaro afirmou que a investigação a respeito da possível origem do óleo é “reservada”, e que não pode acusar nenhum país para evitar criar um problema caso as primeiras informações não se confirmem posteriormente.

Na véspera, Bolsonaro afirmou que o governo já sabe que o petróleo que atingiu as praias do Nordeste não é produzido ou vendido no Brasil e que já “tem no radar” o possível país de origem do óleo.

As misteriosas manchas de petróleo, encontradas no litoral do Nordeste desde o início do mês passado, têm se espalhado pelas costas de Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, onde chegaram mais recentemente.

As manchas já ameaçam 600 filhotes de tartarugas marinhas que nasceram nas praias de Sergipe e Bahia, que têm sido retidos em seus ninhos para não haver contato com o óleo, disse um representante do Projeto Tamar, organização não governamental que atua pela preservação da espécie.

Segundo Bolsonaro, as manchas são uma espécie de piche. “A densidade é um pouquinho maior que a densidade da água salgada, então não fica na superfície, fica submerso, esse é outro problema que nós enfrentamos lá”, afirmou.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que estava ao lado de Bolsonaro na saída do Alvorada, afirmou que o governo está trabalhando simultaneamente na limpeza dos locais afetados e na investigação para descobrir a origem do óleo.

“Esse fluxo de óleo foi para a costa, depois a maré trouxe de volta para o mar, depois voltou para a costa novamente, depois trouxe de volta, é um movimento que tem ido para a costa e voltado”, disse.

“O nosso papel é agir rápido para retirar aquilo que está em solo e também aprofundar a investigação para descobrir a origem, e isso está sendo feito sob a ordem do presidente para a gente responder o mais rápido possível, e tecnicamente”, afirmou.

Petrobras

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou que a companhia está atuando para minimizar os impactos do vazamento de óleo que tem chegado a praias da região Nordeste, mas negou que o petróleo tenha origem nas atividades da empresa. Ele citou a atuação de equipes da petrolífera em Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

“Até ontem, colhemos 133 toneladas de resíduo oleoso nessas praias. Analisamos 23 amostras recolhidas e nenhuma é de óleo proveniente de exploração ou comercialização pela Petrobras. Esse é um fenômeno estranho e não dá sinais de retroceder, é um verdadeiro desastre”, enfatizou, em audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. O tema da sessão na comissão é “o fechamento da Petrobras na Bahia e o desmonte da Petrobras no Nordeste”.

Castello Branco, no entanto, negou que haja qualquer tipo de desmonte da empresa na região. “Não há fechamento ou desmonte da Petrobras no Nordeste”, rebateu, ao iniciar sua fala.

Reuters / Agência Estado / Dom Total