Desde que o mundo é mundo, cada povo expressa a sua cultura por meio de manifestações simbólicas e práticas. Porém, a partir do processo de globalização, a diversidade cultural passou a ser esquecida por conta de interesses políticos e econômicos. O fenômeno é capaz de dificultar a consolidação do desenvolvimento sustentável.
Teoricamente, a sustentabilidade é composta por três pilares: o ambiental, o econômico e o social. Contudo, há especialistas, a exemplo da ambientalista Marina Silva, que apontam a cultura como a quarta base para o desenvolvimento sustentável.
Mas, o que é cultura? Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa, o termo se refere ao “desenvolvimento intelectual; saber; utilização industrial de certos produtos naturais; instituições; costumes e valores de uma sociedade; cultivo”.
Também ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva defende que o reconhecimento da diversidade cultural é a chave para que os valores das expressões humanas não sejam perdidos ou caiam na mesmice.
“Quando passamos a entender que existem formas particulares de manifestação do fazer humano, que se expressam nos mais variados campos, é possível estimular essa diversidade, sem que isso signifique privar as pessoas do acesso aos bens culturais, que são produzidos pela humanidade”, explicou a ambientalista.
Globalização
Os processos de globalização, no que diz respeito a cultura como pilar do desenvolvimento sustentável, tem se apresentado como uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que, em tese, abrem espaço para trocas culturais, estes fenômenos são capazes de estimular a valorização de representações culturais dominantes em detrimento das locais, o que institui a eliminação das diferenças e a homogeneização cultural.
“O global também pode ter o local integrado a ele. Precisamos entender essas dimensões em um processo de retroalimentação, em que o repertório de vivência do local tem também potencial para agregar ao global”, afirmou Marina.
Para explicar sua tese, a ambientalista utilizou duas personagens para criação de uma analogia: uma índia e a garota de Ipanema. “Não há problema quando a indígena vê a jovem da capital em um programa de TV. A questão é que a menina não vê como a índia vive e, por conta disso, não é capaz de perceber que essa outra forma de existência é também alimentadora da sua”, destacou Marina.
Ainda segundo a ex-ministra, a globalização não necessita ser vista nem como sagrada, nem como profana, pois foi um meio alcançado pela sociedade para o desenvolvimento de suas necessidades. “Apenas precisamos que as diferentes formas de existência sejam respeitadas e acolhidas”.
Belo Monte
Um exemplo da despreocupação com as culturas locais, em favor de acordos político-econômicos é a construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, em pleno Rio Xingu, nas proximidades da cidade de Altamira, no Pará. Por conta da megaconstrução, diversas populações indígenas serão retiradas dos seus territórios e a dimensão dos danos ao ecossistema local ainda é incerta.
De acordo com Marina, o planejamento de empreendimentos como este deve ser feito de forma ampla. A análise deve ser realizada em toda bacia explorada, sem excluir os aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais.
“Os projetos não devem ser pensados na perspectiva da redução de impactos, mas sim na prevenção deles. O governo já possui alguns dispositivos para a avaliação ambiental integrada e estratégica de planos de desenvolvimento sustentável para as áreas de abrangência dos projetos, seja uma estrada, uma hidrelétrica, ou uma hidrovia”, frisou a ambientalista.
Marina acredita que, para o desenvolvimento de iniciativas sustentáveis, é fundamental que exista o respeito às diferentes expressões culturais e a possibilidade de troca entre os povos. Porém, destaca também que o estranhamento e a não aceitação do outro é um dos principais entraves para o alcance da sustentabilidade.
Fonte: Eco Desenvolvimento