Cortar emissões de HFCs poderia conter aquecimento em até 0,5ºC


Eliminar os "super gases estufa", que grandes emissores como China e Estados Unidos concordaram em restringir, poderia conter o aquecimento global em até meio grau Celsius até 2050, revelou um relatório publicado esta quarta-feira.

 

Divulgado às margens das negociações climáticas da ONU em Bonn, o relatório destacou que um novo acordo sino-americano para reduzir as emissões de hidrofluorcarbonos (HFCs) "pode fazer a diferença".

 

"Se conseguirmos remover os HFCs, teríamos benefícios significativos", disse a jornalistas em Bonn Bill Hare, diretor do ´think tank´ Climate Analytics, co-autor do estudo.

 

Se os HFCs forem eliminados globalmente, isto "poderia resultar em uma redução do aquecimento entre 0,1 e 0,5 grau Celsius", afirmou.

 

O cálculo se baseia em uma contenção mundial que, até 2020, poderia poupar a atmosfera de emissões anuais equivalentes a cerca de 300 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) ou aproximadamente o que a Espanha emite em um ano.

 

Os HFCs são usados em refrigeradores, aparelhos de ar condicionado e solventes industriais como alternativa aos clorofluorcarbonos (CFCs) e hidroclorofluorcarbonos (HCFCs), produtos químicos que destroem a camada de ozônio.

 

Geradas especialmente pela produção em países em desenvolvimento, as emissões de HFCs têm uma perspectiva de crescimento da atual uma gigatonelada (1 Gt, ou seja, um bilhão de toneladas) de CO2 equivalente (CO2e) por ano, para de quatro a nove GtCO2e ao ano em 2050.

 

Os Estados Unidos e a China são hoje os principais emissores de gases de efeito estufa, e respondem juntos por mais de 40% das emissões globais.

 

O relatório também advertiu que o aquecimento global tem a probabilidade de exceder, talvez até dobrar, a meta de 2ºC estabelecida pela ONU para uma mudança climática administrável.

 

Com base em diferentes relatórios sobre tendências de emissões, o mundo provavelmente ficará 3,8ºC mais quente em 2100, com 40% de probabilidade de exceder os 4ºC, e 10%, os 5ºC, alertou o estudo.

 

"Estamos nos defrontando com uma imagem muito perturbadora", disse Hare.

 

"Estamos ficando cada vez mais céticos de que os compromissos (dos governos) serão totalmente implementados", acrescentou.

 

O relatório foi divulgado na última rodada das negociações climáticas globais em Bonn, que têm tropeçado em objeções procedimentais dos russos.

 

O processo atual da ONU, que visa a um novo acordo em 2015 para conter as emissões de gases-estufa causadoras do aquecimento global, tem sido contido desde o princípio por minúcias, contendas e defesas de interesses nacionais.

 

Desta vez, a Rússia, apoiada por Belarus e Ucrânia, congelou o trabalho de um dos três corpos técnicos, o Corpo Subsidiário de Implementação (SBI em inglês), que pretende apresentar um importante trabalho de campo na próxima rodada das conversas climáticas da ONU, prevista para novembro, em Varsóvia.

 

O SBI tem a tarefa de mensurar os avanços feitos rumo à redução de emissões alteradoras do clima e esboçar o próximo orçamento para o secretariado da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), sob cujos auspícios as negociações climáticas globais são celebradas.

 

Moscou exasperou-se por considerar que suas objeções foram ignoradas no último grande encontro anual, celebrado em Doha, em dezembro do ano passado, pelo presidente catari da conferência, que aprovou um acordo estendendo o Protocolo de Kyoto até 2020 para conter as emissões de gases-estufa.

 

A decisão de Doha paralisou a venda planejada por Moscou de 5,8 bilhões de toneladas de créditos de carbono, acumuladas durante a primeira rodada do protocolo, que expirou no final de 2012.

Fonte: AFP