Brasil Prioriza Exportação de Recursos Naturais


A historiadora Julianna Malerba, coordenadora do núcleo de Justiça Ambiental e Direitos da ONG Fase, palestrou no início da semana na plenária do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração, em Brasília. Logo após sua explanação, ela concedeu a entrevista abaixo:

Você poderia explicar como a atividade mineral se insere no contexto de reprimarização da economia brasileira?

– O Brasil tem construído uma estratégia de desenvolvimento calcada na exportação de seus recursos naturais. E isso tem levado à reprimarização de sua pauta exportadora com reflexos na estrutura produtiva do país. Dados do Ipea mostram que, nos últimos dez anos, houve um aumento bastante significativo da participação da atividade extrativa mineral no PIB e um decrescimento da participação da indústria de transformação na produção de riqueza do país. Isso tem significado uma simplificação da nossa economia com diminuição do número de empregos em setores de maior intensidade tecnológica . Vemos isso claramente no setor mineral. É um setor que gera poucos postos de trab alho e destrói alternativas socioprodutivas existentes nos territórios em função da pressão que exerce sobre os os recursos naturais e, consequentemente, sobre a s populações que precisam desses recursos.

Qual é o impacto do uso de energia pela mineração nos territórios?
– O setor mineral é intensivo no uso de energia. O processo de beneficiamento e transformação mineral, a exemplo da transformação de bauxita em alumínio e de ferro em aço, demanda enorme quantidade de energia elétrica e de combustíveis fósseis. Um único caminhão gigante em Carajás, por exemplo, utiliza em um dia quatro mil litros de diesel. Além disso, as esteiras rolantes que transportam minérios em Carajás funcionam 24 horas por dia movidas a energia elétrica. Isso explica a entrada da Vale no consórcio de Belo Monte em 2011. Sem as hidrelétricas na Amazônia dificilmente a Vale conseguiria ampliar sua produção de minério de ferro com a abertura da Mina S11D , em Carajás, em fase de licenciamento.

Poderia dar mais exemplos?
– A mineração em grande escala modifica radicalmente os territórios. O grande fluxo de trabalhadores aumenta a pressão sobre os serviços públicos, gera especulação imobiliária. A pressão da atividade sobre os recursos hídricos e a infraestrutura local tende a progressivamente inviabilizar as atividades econômicas pré-existentes. Na cidade de Conceição de Mato Dentro, onde há a mina da Anglo-America, os agricultores familiares têm denunciado o impacto da atividade sobre a qualidade da água. A vocação turística da cidade sofreu um baque. Embora no processo de implementação muito se divulgue sobre a geração de emprego, pouco de fala sobre a perda de alternativa de trabalho gerado pela atividade mineradora. E o projeto de lei para um novo código mineral deveria criar mecanismos para evitar esses tipos de situação, criando critérios qu e assegurassem que as atividades socioeconômicas sejam não só mantidas como priorizadas frente à mineração.

Artigo escrito por: Rogério Daflon

Retirado do Site: http://www.canalibase.org.br/a-aposta-do-brasil-na-exportacao-de-recursos-naturais/