Mulher tem papel decisivo no consumo dentro da família e no crescimento populacional. Projeto na comunidade da Cachoeirinha, Rio de Janeiro, quer levar sua contribuição ao debate sobre futuro do desenvolvimento.
Foto – Reprodução
A favela da Cachoeirinha, no Rio de Janeiro, não tem uma realidade diferente de outras regiões pobres do Brasil. Seus 37 mil habitantes convivem com falta de infraestrutura, violência e baixo nível educacional. A área ainda é dominada pelo narcotráfico. Na entrada da comunidade, sofás velhos inibem a passagem de carros e pessoas desconhecidas dos moradores. A vigilância é feita do alto pelos traficantes.
Mas uma coisa mudou nos últimos dez anos. O índice de adolescentes grávidas na Cachoeirinha caiu de 25% para 16%.Há uma década, a ONG Bemfam, (Bem-estar Familiar no Brasil) iniciou um projeto com jovens entre 13 e 21 anos para ajudá-las a evitar uma gravidez indesejada. Além do atendimento médico, a entidade mantém oficinas com moradores para promover os direitos sexuais e reprodutivos.
Iasmin C, 17 anos, conta o que aprendeu desde que começou a frequentar as reuniões. "Antes, eu não sabia que eu podia tomar uma anticoncepção de emergência se a camisinha rompesse, não sabia sobre as doenças [sexualmente transmissíveis], não sabia como usar os métodos contraceptivos."
A informação, diz Iasmim, deu a ela poder para seguir uma trajetória diferente da que teve a sua mãe, que engravidou aos 16 anos e trabalha como doméstica. "Eu quero ingressar na Marinha”, revela a adolescente.
Uma questão de sustentabilidade
O fortalecimento da mulher tem tudo a ver com a busca pela sustentabilidade. "Os ambientalistas estão se convencendo que se a vida das mulheres não for sustentável, não haverá sustentabilidade”, diz Carmem Barroso, da IPPF, federação internacional que defende a maternidade planejada. A mulher tem poder de decisão sobre o aumento populacional, sobre o consumo da residência – é ela que faz as compras e cozinha para a família, na maioria dos casos.
Pesquisas internacionais mostram que 200 milhões de mulheres no mundo não querem ter filhos, são ativas sexualmente, mas não usam anticoncepcionais. "Quer dizer, elas vão acabar engravidando sem querer, e contribuir para aumentar a população. E quanto mais rápido o crescimento populacional, mas difícil é manter uma política sustentável”, defende Barroso, lembrando que o crescimento desordenado da população aumenta a pressão sobre os já ameaçados recursos naturais.
Mas, nem sempre, a mulher tem capacidade de impor os seus desejos sobre o planejamento familiar. E os direitos reprodutivos da mulher, que é a autonomia para decidir quando ter filhos, não são satisfatórios no Brasil, aponta Barroso. O aborto no país é proibido, a não ser em casos de estupro, risco para a mãe e feto anencéfalo.
Futuro do mundo e controle de natalidade
O crescimento demográfico no Brasil caiu de 2,5% na década de1970 para menos de um por cento. Uma das razões principais, aponta Carmem Barroso, foi o "empoderamento" da mulher. "A fecundidade caiu porque as mulheres ficaram mais fortes de maneiras variadas: por leis que se modernizaram, por acesso ao mercado de trabalho e à educação.”
Dados oficiais mostram que entre 1975 e 1998 a força de trabalho feminina cresceu 175%. A média de anos de escolaridade entre mulheres, que era de 1,7 ano, em 1960, subiu para 7,7 anos e superou a média masculina, que é de 7,4 anos.
O trabalho na favela da Cachoeirinha poderia ser um exemplo entre os tantos caminhos que buscam a sustentabilidade do planeta. "E acreditamos muito que o fortalecimento da mulher é fundamental dentro dessa proposta de transformação, de mudar conceitos, de ter países mais comprometidos com a questão do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável”, afirma Ney Francisco Pinto Costa, presidente da Bemfam.
A entidade presidida por Costa atua em todos os estados brasileiros e mantém cooperação com organizações da América Latina e países africanos. Só em 2011, foram mais de 6 milhões de atendimentos no Brasil na área de contracepção, exames para diagnóstico do câncer cervical e da aids.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Augusto Valente
Fonte: DW