Se os agrotóxicos estão presentes em tudo que comemos, então, como não se envenenar?


                                                

Em decorrência da última matéria publicada sobre o consumo excessivo dos agrotóxicos no Brasil, nos questionamos receosos: Afinal, o que comer? Já que praticamente todos os produtos são tratados com venenos altamente prejudiciais à saúde. Como livrar nossos filhos e alimentá-los com a consciência tranqüila de que não os estamos envenenando?

 

Estudiosos e entusiastas no assunto apontam a agroecologia domiciliar, urbana e coletiva como opção de fuga do mercado negro e monopolista do agronegócio mundial. E vale ressaltar que produtos industrializados também carregam grandes quantidades de pesticidas e agrotóxicos. Carnes bovinas, suínas e aves, assim como seus derivados: ovos, leite e embutidos, também carregam venenos, como: anabolizantes, drogas hormonais e etc.

 

Para driblar o agronegócio, precisamos praticar a agroecologia, seja ela familiar ou coletiva, que consiste na agricultura voltada para o meio ambiente como um todo, onde o ser humano e os ecossistemas estão em harmonia e equilíbrio. É tratar a comida como comida e não como negócios e cifras lucrativas. 

 

Vou mais além em dizer: é humanizar a comida. Retroceder no tempo e torná-la novamente, fonte de energia e combustível saudável para o corpo e mente. Recuperar a soberania alimentar dos nossos ancestrais, que produziam o que comiam dentro da própria casa, vegetais e animais criados dignamente e abatidos, vegetais colhidos e tratados como devem ser, naturalmente.

 

Não pense na soberania alimentar como utopia, pois ela não é. Dados revelam o crescente número de lugares em todo o mundo, e principalmente aqui no Brasil, que praticam a agroecologia e a permacultura de forma viável e cada vez mais promissora. Pois, se pararmos para pensar, o sistema do agronegócio monopolizou todo o planeta, detendo sementes transgênicas – sementes geneticamente modificadas que produz vegetais vazios e desprovidos de qualquer item substancial para a saúde, digamos, um alimento de ‘mentirinha’ -, mandando e desmandando no que o mundo inteiro ingere. Não há forma mais absoluta de controlar uma espécie do que esta. 

 

Para a Monsanto e afins, lucrar é o primeiro tópico das prioridades. Vender veneno em vez de comida não é responsabilidades deles perante as leis, e um povo doente enriquece outro monopólio, o farmacêutico. Um ciclo vicioso, baseado no lucro excessivo de dinheiro e nenhum escrúpulo.

 

É esse mercado negro que você quer sustentar? Pois eles só existem por que tem quem compre. E na maioria das vezes, até arrisco dizer, tudo isso é desconhecido da grande população. Que ao entrar em um supermercado, inconscientemente pensa que os produtos ali expostos são a única forma de se alimentar que existe. É justamente ao contrário, os produtos envenenados só estão ali por que existe demanda para eles, e muita. Então, esclarecer os fatos não é interesse do mercado, e sim, aliená-los, para que os lucros não despenquem. 

 

Trilhar outro caminho – A liberdade alimentícia

              

          Colheita realizada em horta familiar, sem pesticidas ou venenos. Alimento saudável é possível.

A única maneira de reverter essa situação é cada pessoa fazer seu papel de recuperar a liberdade e a democracia do alimento. Afinal, cada um de nós come duas ou três vezes ao dia. E o que nós comemos decide quem somos, se nosso cérebro está funcionando corretamente, ou nosso metabolismo está saudável ou, se por conta de micronutrientes, estamos nos tornando obesos. Isso afeta todo mundo: os mais pobres porque lhes foi negado o direito à comida; mas até os que podem comer porque não estão comendo comida de fato. Chamo isso de anticomida, porque a comida deveria nos nutrir. 

A comida mortal que as corporações estão trazendo para nós destrói a capacidade da comida de nos nutrir e no lugar disso estão nos causando sérias doenças desde a alimentação pelo leite materno até a terceira idade. Nossos recém nascidos já começam a ser envenenados assim que nascem pelo leite materno contaminado com agrotóxicos que a mãe ingere sem saber.

Cada um de nós deve se tornar um forte ativista da liberdade da comida e das sementes no nosso dia a dia. Durante toda sua vida, em algum momento você precisará de um médico, um advogado, ou mecânico, enquanto você depende de um agricultor pelo menos três vezes ao dia. O que significa que temos que apoiar mais os fazendeiros e a agroecologia. Devemos ser comprometidos com a alimentação saudável. Ser questionadores e curiosos na hora da compra de qualquer alimento. Saber de onde vem e por quem é feito. Estabelecer assim um contato direto com o agricultor que produziu a sua comida. 

 

Se nós mudássemos nossa postura de consumo para longe das corporações, comprando, sim, alimentos dos pequenos produtores, ajudaríamos não apenas o agricultor familiar, mas também a Terra e nossos próprios corpos, além de fortalecer a economia local, destinando a nossa renda para o próprio local onde moramos, praticando assim a liberdade alimentícia perante o sistema monopolista.

 

Não só podemos apoiar a agricultura familiar, como também podemos cultivar em casa mesmo uma pequena horta com hortaliças e vegetais de pequeno porte, devido ao espaço nas moradias urbanas serem cada vez mais limitados. É viável e bastante esclarecedor quando nossas mãos produzem, nem que seja, uma pequena parte da refeição. Estabelece-se aí uma inter-relação entre a comida e a saúde, o social e o ambiental.

 

E o movimento pela saúde tem que perceber que os agricultores são os médicos, que fazer crescer comida saudável é a melhor contribuição que podemos praticar. No momento em que fazemos essas conexões, existe uma nova vida, porque a vida cresce por meio de inter-relações.

 

Para ficar mais esclarecedor, assista ao vídeo abaixo, e veja um exemplo de liberdade alimentícia, de relação consumidor-produtor. A Feira de Agricultores Ecologistas – FAE em Porto Alegre, no sul do Brasil, que vende, literalmente, saúde.

Link para o vídeo: http://vimeo.com/47553641

Laísa Mangelli