Clima global explica aumento de gelo na Antártida


Quando se trata de gelo, os dois polos do planeta vivem situações distintas: enquanto no Norte ele derrete em velocidade vertiginosa, na Antártida, algumas regiões tiveram até um aumento.

Um paradoxo que intrigou cientistas e serviu de argumento para aqueles que negam o aquecimento global da Terra.

Recentemente, no entanto, uma série de estudos sobre o assunto tem indicado que o aumento de gelo nos arredores da Antártida, por mais estranho que possa parecer, indica estar ligado justamente ao aumento da temperatura no mundo e a seus desdobramentos.

“O cenário de um planeta mais quente está produzindo respostas muito sensíveis nos dois polos, algumas até conflitantes. Mas são fenômenos interligados”, explica o climatologista Francisco Eliseu Aquino, chefe do departamento de Geografia da Universidade Federal do Sul e especialista em Antártida.

O modo com que as mudanças climáticas atuam em cada região polar está intimamente ligado a diferenças geográficas entre os hemisférios. No Ártico, há um oceano cercado por continentes. Na Antártida, há um isolamento maior, sendo um continente cercado por oceanos.

Essas diferenças na distribuição da terra e da água nas duas regiões polares contribuem para que eles tenham padrões, a curto e longo prazo, de circulação atmosférica e oceânica e cobertura de gelo marinho diferentes.

Sem comemorações

 

Dados da Organização Meteorológica Mundial e de outras organizações que monitoram o clima no planeta confirmam que as duas últimas décadas foram de aquecimento consistente em boa parte do globo. E há sinais de alterações em várias dinâmicas climáticas que acabam refletindo nos polos.

O aumento do gelo do entorno do continente não significa que esteja tudo bem. Outras regiões, especialmente a península Antártica, tiveram redução significativa. Ou seja, basicamente, houve uma redistribuição do gelo.

“Na península, as geleiras estão derretendo, a temperatura está mais alta, animais e plantas já conseguem migrar mais para o Sul, habitando áreas que até então não eram possíveis. É um cenário preocupante”, enumera Jefferson Cardia Simões, diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Nos últimos dois anos, uma série de artigos têm jogado uma luz no comportamento distinto do gelo que cerca o continente.

Uma das principais influências está relacionada à variação na pressão atmosférica causada pelo aquecimento global, que aumenta o gradiente de pressão entre as baixas e altas latitudes.

A pressão teve um aumento em latitudes subtropicais, enquanto, na periferia da Antártida, ela ficou mais baixa. Como resultado, os ventos na região se tornaram ainda mais intensos.

Mais ventos e mais tempestades acabaram formando mais gelo no cinturão em torno do continente.
 


O derretimento das geleiras da península também contribui para o fenômeno, jogando no oceano grandes quantidades de água mais doce e fria, o que facilita seu congelamento na periferia. Para completar, existe ainda a interação com os oceanos de fora.

Há tempos os cientistas sabem que alterações na temperatura do Pacífico têm influencia no continente, mas, um estudo publicado há pouco mais de um mês na “Nature” em janeiro mostrou que mudanças nas águas do Atlântico também têm relação com a redistribuição do gelo antártico.

“O clima na Antártida é complexo e tem muitas interações como o resto do mundo que precisam ser bem compreendidas” completa Francisco Aquino, da UFGRS.

Fonte: Ambiente Brasil