Desmatamento da Amazônia dispara novamente


Aumento de 16% da área desmatada, em relação ao período anterior, mostra que o Brasil precisa de metas mais ambiciosas de proteção às florestas

 

Desmatamento recente em área embargada pelo Ibama, no Amazonas (© Greenpeace/Bruno Kelly)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O desmatamento voltou a subir na Amazônia Legal, segundo dados divulgados ontem (26) à noite pela Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. De agosto de 2014 à julho de 2015, o Brasil perdeu 5.831 km² de florestas – um aumento de 16% em relação ao período anterior, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE).

O anúncio foi feito às vésperas do início da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, na semana que vem, na França. Líderes de diversos países estarão reunidos em Paris para decidir um novo acordo para combater o aquecimento global. A redução das emissões brasileiras, que o governo tanto se orgulha, foi baseada na queda histórica do desmatamento nos últimos anos. O aumento de 16% coloca em xeque essa imagem e mostra que o problema do desmatamento está longe de ser resolvido.

O resultado pode prejudicar as metas já pouco ambiciosas do governo brasileiro para a redução do desmatamento no bioma.

Mapa do desmatamento, com base no PRODES

A área total desmatada equivale a 753 mil campos de futebol.  Os estados do Pará e Mato Grosso foram, mais uma vez, os que mais desmataram em área total. Mas os estados do Amazonas, Rondônia e Mato Grosso tiveram os maiores aumentos em relação ao ano anterior (54%, 41% e 40 % respectivamente). Dentre as causas apontadas pela ministra, estão a expansão da pecuária (principal causa), agricultura e corte seletivo. Outro detalhe preocupante é que o desmatamento em grandes áreas voltou a ocorrer, seguindo o mesmo padrão de quando as taxas eram ainda mais absurdas, há dez anos.

O mais curioso é que os estados que concentraram os maiores aumentos, receberam recursos do Fundo Amazônia – constituído de doações internacionais – para reduzir o desmatamento. A ministra atribuiu o aumento aos estados, que apesar de receberam recursos para o controle do desmatamento não entregaram resultados. Nem ela nem os estados entendem o por quê. Mas, esse aumento já vinha sendo sinalizado ao longo do ano. O sistema de alertas de desmatamento do governo (DETER) e o sistema de alertas do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente na Amazônia) já mostravam indícios de aumento.

O aumento do desmatamento está sempre associado a violência na floresta. A região entre o sul do Amazonas e norte de Rondônia tem sido apontada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) como uma das mais críticas na escalada na violência no campo, em decorrência principalmente da extração ilegal de madeira e do avanço da pecuária. Para piorar, uma reforma política no estado do Amazonas cortou quase metade do orçamento da Secretaria de Meio Ambiente. Infelizmente o sul do Amazonas já está incorporado ao arco do desmatamento, que avança ano a ano.

 

Gado criado em área embargada, com desmatamento recente, no Mato Grosso (© Greenpeace/Bruno Kelly)

“Dessa forma, o Brasil coloca em risco a conquista dos últimos anos em relação à redução do desmatamento na Amazônia. Após esforços da sociedade, e do próprio governo, o desmatamento saiu da casa dos 27 mil km², em 2004, para a faixa dos 5 mil. No entanto, o governo federal não fez muito nos últimos anos. Pouco demarcou Unidades de Conservação e Terras Indígenas, que protegem a floresta, assiste passivamente a aprovação da PEC 215, ameaçando direitos indígenas, foca seus investimentos em hidrelétricas, mesmo com estudos apontando para a inviabilidade destas obras”, afirma Cristiane Mazzetti, da Campanha Amazônia do Greenpeace.

"A política a ser adotada agora deve ser nova, ousada, rumo ao fim do desmatamento. Ou seremos mais ambiciosos e inovadores daqui para frente, ou caminharemos para trás", completa Mazzetti.

 

Queimada ilegal para abrir espaço para atividade agrícola, no Pará. (© Greenpeace/Lunae Parracho)

Está na hora do governo assumir uma nova visão de país, que não mais incorpora desmatamento em seu desenvolvimento. O caminho já existe: em setembro deste ano, um grupo de organizações lançou o manifesto “Desmatamento Zero e o futuro do Brasil”, que oferece sugestões para acabar com o desmatamento em todos os biomas. Setores importantes da economia já mostraram na prática ser  possível produzir sem desmatamento, vide a Moratória da Soja e o Compromisso Público da Pecuária.

Eliminar o desmatamento também está alinhado com o desejo da sociedade brasileira, em setembro deste ano foi entregue ao Congresso Nacional um Projeto de Lei pelo Desmatamento Zero. O projeto obteve o apoio de mais de 1,4 milhão de pessoas.

Combater as mudanças climáticas é urgente, e para isso o fim do desmatamento é fundamental.

Fonte: Greempeace