Cerca de 50 mil litros de chorume vazam de aterro sanitário de Seropédica


Cerca de 50 mil litros de chorume vazaram do Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) de Seropédica durante o dia de ontem, domingo (21/2). O vazamento coloca em risco o aquífero Piranema, reserva de água subterrânea localizada logo abaixo do aterro sanitário que pode abastecer a população carioca em caso de necessidade.

Segundo o subsecretário de Ambiente de Seropédica, Luciano Santoro, o vazamento foi contido no próprio domingo pela Secretaria de Ambiente do município e pelo Serviço de Operações de Emergência (Sopea) do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). "Já enviamos sete autos de notificação e dois de constatação para a Ciclus [nome fantasia da empresa que gerencia da CTR], que tem até amanhã para apresentar um relatório da situação", informou Santoro em entrevista por telefone ao Vozerio.

Segundo Santoro, ainda não se sabe se o chorume vai de fato contaminar o aquífero, nem em que grau. "Ainda não sabemos o tamanho do dano ambiental", explicou o subsecretário.

Em nota pública, o Inea afirmou que a forte chuva que atingiu o município no sábado (20/2) provocou uma queda de energia. "Com a falta de luz, a bomba usada para transferir o chorume de uma bacia de estocagem para a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) parou de funcionar. O líquido então transbordou e atingiu o valão do Brejo que fica próximo ao local", explica a nota.

Para a agrônoma Rosângela Straliotto, pesquisadora da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) e ex-presidente do Conselho da Cidade de Seropédica, o reservatório para o chorume é pequeno demais. “O transbordamento do chorume é resultado de uma falha na dimensão do reservatório. A área é conhecida por apresentar chuvas fortes, então a capacidade de armazenamento deve ser pensada para segurar esse acréscimo no volume. Se não for feito o devido reparo, a repetição do episódio parece inevitável”, afirmou ela.

Ainda segundo o Inea, a Ciclus está neste momento trabalhando na sucção do chorume para dentro da ETE e deverá ser autuada e multada.

"Desastre anunciado"
Construído em 2011 para receber o lixo que antes era levado para os lixões de Gramacho e Gericinó, o projeto do aterro sanitário de Seropédica foi bastante criticado pela localização em que seria implantado. "O subsolo em volta do aquífero Piranema é arenoso, isso significa que a porosidade do terreno absorverá o vazamento", avalia Straliotto. "Uma vez que o chorume penetre o solo não tem mais volta. O que deve ser feito agora é um estudo sério da dimensão dos danos causados”, afirma ela.

Para os que se opuseram desde o começo à construção do aterro sanitário acima do aquífero, o episódio não foi surpresa. "É um desastre anunciado", afirmou a advogada Maria José Salles, atual presidente do Conselho da Cidade. "Vamos ouvir alguns técnicos para entender o impacto desse vazamento na irrigação de lavoura e de pequenos agricultores, que consomem a água diretamente do aquífero", explicou ela.

A estação de tratamento de chorume da CRT Seropédica só começou a operar no final de 2014, após receber diversas notificações e multa do Inea. E, mesmo em 2015, ambientalistas já advertiam para a necessidade de um controle mais rigoroso da poluição na região.

A Ciclus respondeu ao contato do Vozerio às 17h35 desta segunda-feira (22/2) com a seguinte nota:

 

"Em decorrência da queda no fornecimento de energia na região Seropédica, no dia 21 de fevereiro , e dos danos causados no gerador de energia instalado na CTR, após ser atingido por um raio, a Ciclus constatou vazamentos de efluentes na área do Centro de Tratamento de Resíduos.
 
A Ciclus informa que notificou prontamente as autoridades ambientais sobre o ocorrido, trabalhou e conteve imediatamente o vazamento. Informa, ainda, que o vazamento atingiu área da própria CTR, que é impermeabilizada e atingiu também o início do Canal da Vila que foi totalmente limpo.
 
Esclarece, ainda, que o aquífero Piranema não foi atingido pelos efluentes e não corre risco de contaminação.
 
Por fim, a Ciclus esclarece que atende a todas as exigências impostas pela legislação ambiental e que está cooperando com as autoridades."
Fonte: Vozerio