A Antártica perdeu impressionantes 3 trilhões de toneladas de gelo desde 1992, fazendo o nível dos oceanos aumentar em nível global quase 8 milímetros, e esta tendência se acelerou de forma espetacular ao longo dos últimos cinco anos, segundo um estudo divulgado nesta semana.
Até 2012, o continente branco situado no Polo Sul havia perdido 76 bilhões de toneladas de gelo ao ano, calcularam 84 cientistas que participaram deste estudo de referência, divulgado na revista científica Nature.
Após esta data, a cifra saltou para 219 bilhões de toneladas ao ano. Dito de outra forma, após cinco anos, o gelo derreteu em um ritmo quase três vezes maior do que antes, o que representa uma ameaça para centenas de milhões de pessoas que vivem em áreas costeiras.
“Agora temos uma imagem inequívoca do que está acontecendo na Antártica”, ressalta Eric Rignot, coautor do estudo e pesquisador do Jet Propulsion Laboratory da NASA.
“Consideramos esses resultados como mais um alarme para agir, para desacelerar o aquecimento global”, insiste o cientista francês, que estuda os glaciares e polos há 20 anos.
Coberta mais de 98% por gelo permanente, o continente cercado pelo Oceano Antártico responde por 90% do gelo terrestre e contém a maior reserva de água doce do planeta. Se toda essa massa de gelo derretesse, elevaria o nível do oceano em quase 60 metros.
Até agora, os cientistas lutavam para determinar se a Antártica ganhou massa através da queda de neve ou a perdeu devido ao derretimento do gelo ou à separação de icebergs.
Mas mais de duas décadas de observações por satélite fornecem uma visão mais completa.
“Sinal de alarme”
Mais de 90% do gelo está no leste da Antártica, que se manteve relativamente estável apesar do aquecimento global.
O oeste da Antártica, por outro lado, é muito mais sensível, especialmente a península antártica, onde mais de 6.500 quilômetros quadrados de gelo já se desprendeu do resto do continente.
Nos últimos 25 anos, o período abrangido pelo estudo, quase toda a massa de gelo perdida foi perdida na zona oeste.
“Embora ainda haja uma incerteza considerável sobre a evolução da massa do leste da Antártica, está se tornando cada vez mais claro que a perda de gelo no oeste se acelerou”, observa Kate Hendry, uma cientista da Universidade de Bristol, que não participou do estudo.
Se a tendência continuar, a Antártica pode se tornar a principal causa do aumento do nível do mar, à frente da dilatação térmica – a água ocupa mais espaço à medida que se aquece – e o derretimento do gelo na Groenlândia e em geleiras ao redor do mundo.
“Os dados mostram que a situação está piorando a cada ano”, diz Isabella Velicogna, professora da Universidade da Califórnia em Irvine e coautora do estudo, cujos resultados foram elogiados por vários cientistas.
“A força desta pesquisa é ter reunido resultados e metodologias de diferentes equipes ao redor do mundo”, aponta Twila Moon, cientista do National Snow and Ice Data Center (NSIDC), no Colorado.
Cabe agora às autoridades políticas agir em resposta.
“O futuro da Antártica está ligado ao do resto do planeta e da sociedade humana. Agora, é preciso tomar medidas para desacelerar o ritmo das mudanças ambientais, aumentar a resiliência da Antártica e reduzir o risco de (…) mudanças irreversíveis “, afirma o oceanógrafo australiano Steve Rintoul, autor de outro estudo sobre a Antártica publicado nesta quarta-feira na Nature.
“Deve ser um enorme sinal de alarme”, diz Martin Siegert, professor do Imperial College London, que não participou do estudo.
AFP