O cumprimento do acordo de Paris é agora apenas uma parte do que precisa ser feito. É preciso superar os critérios definidos em 2015 e implementar uma estratégia completamente nova. “O aumento das temperaturas trará mudanças sem precedentes em todos os aspectos da sociedade, especialmente em setores como a exploração da terra, energia, indústria, construção, transporte e cidades”, explicou Guterres. “O próximo período é fundamental, devemos respeitar os compromissos de Paris para dobrar a curva das emissões até 2020”. É por isso que a conferência climática da ONU, que será realizada em dezembro na Polônia, será uma oportunidade “em que não poderemos falhar”.
O diagnóstico do secretário geral é confirmado pelos dados coletados por especialistas da ONU, que são preocupantes. Como mencionado, de acordo com as medições recolhidas e analisadas, o aquecimento global pode exceder o limite de 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais já daqui a doze anos, ou seja, em 2030, se continuarmos a produzir gases de efeito estufa como hoje. E em 2100 poderia haver um aumento de até três graus. A transformação do planeta devido ao homem seria então irreversível. Um aumento nas temperaturas significaria um aumento das secas e das inundações, miséria e fome, extinção de espécies, propagação de doenças, aumento do nível do mar, destruição de ilhas e de centros costeiros. De acordo com os analistas da ONU, alcançar os objetivos de Paris ainda é possível, mas é necessária celeridade e, principalmente, aumentar os investimentos em novas tecnologias.
O documento da ONU é um manual de trinta páginas preparado para os governos, que indica os efeitos do aquecimento global no planeta e propõe quatro caminhos para manter a mudança climática abaixo de 1,5 graus em relação aos níveis pré-industriais. Cientistas reunidos na Coreia defendem que, para salvar o planeta, as emissões de CO2 devem cair em 2030 para cerca de 45 por cento em relação a 2010, chegando a zero em 2050. Para isso propõem aos políticos um mix de diferentes instrumentos: corte das emissões (transição para energias renováveis e veículos elétricos, eficiência energética, reciclagem de resíduos, redução do consumo de carne) e remoção ativa de CO2 (reflorestamento, captura e armazenamento de carbono, este último um processo ainda experimental).
O relatório da ONU está provocando reações muito diferentes. Na manhã desta terça-feira, o governo australiano criticou o documento, salientando que não quer reduzir o consumo de combustíveis fósseis, uma das principais causas do aquecimento global. O primeiro-ministro, Scott Morrison, tomou a defesa das companhias de mineração, declarando que “o relatório não apresentar recomendações para a Austrália” e que a prioridade do governo é “garantir que os preços da eletricidade sejam mais baixos para as famílias e para as empresas”.
A atitude da União Europeia é diferente. Os Comissários da UE para o clima, Miguel Arias Canete, e pesquisa, Carlos Moedas, disseram ontem que “será apresentada em novembro uma visão abrangente para a modernização da nossa economia, das nossas indústrias e do nosso setor financeiro”, que visa a redução dos gases de efeito estufa.
IHU