A mudança climática vai nos tirar (também) a cerveja


Foto: Philippe Huguen/AFP

O estudo publicado em Nature Plants: os efeitos das mudanças climáticas, em especial sobre o aumento das temperaturas e a desertificação, tornarão mais complicado o cultivo da cevada. E, consequentemente, a cerveja se tornará mais cara e mais difícil de encontrar.

A reportagem é de Sandro Iannaccone, publicada por La Repubblica, 15-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Mudanças climáticas, onde quer que você olhe o cenário é preto. Como se não bastassem as previsões apocalípticas do Painel das Nações Unidas sobre o aquecimento global (até 2040, a menos que ocorra uma mudança de rumo radical e rápida, o nosso planeta vai se aquecer mais de um grau e meio, afirmaram os especialistas), chega hoje, nas páginas de Nature Plants, um novo estudo para mostrar que logo o aquecimento global e a desertificação também nos privarão do prazer de saborear um copo de cerveja. As simulações dos cientistas, da Peking University, de Pequim e de outros institutos de pesquisa, mostram que as mudanças climáticas vão tornar cada vez mais difícil cultivar a cevada e produzir as leveduras, fazendo diminuir drasticamente a disponibilidade de cerveja. E aumentando enormemente o preço.

Nada de cevada, nada de cerveja

cerveja é de longe a bebida alcoólica mais consumida no mundo. Há muito se sabe que o rendimento de seu principal ingrediente, a cevada, está intimamente ligado às condições ambientais e é particularmente suscetível aos aumentos do calor e às secas. Apesar disso, até hoje ninguém ainda havia avaliado quantitativamente o efeito desses eventos climáticos extremos sobre a produção e a disponibilidade global de cerveja. Os autores do trabalho recém publicado, coordenados por Wei Xie, simularam no computador cinco diferentes cenários climáticos futuros e calcularam seu impacto nas culturas de cevada: resultou que, dependendo da “gravidade” do cenário, a produção poderia diminuir de 3 a 17 por cento. O que se traduziria em uma correspondente diminuição na disponibilidade de cerveja e um aumento no preço da bebida, que variaria de acordo com o estado econômico e os hábitos alimentares de cada nação.

Nunca mais cervejas em Dublin

Um dos países mais afetados, continuam os autores, seria a Irlanda, onde em 2099 o preço de um pint poderia aumentar entre 43% e 338%, dependendo da gravidade do cenário. Mas mesmo na Itália não há muito a comemorar: se as emissões de gases de efeito estufa não forem drasticamente reduzidas, se correrá o risco de pagar quase quatro euros a mais por uma cerveja média. Além da extinção da nossa espécie.

IHU