Mudança climática/perda de biodiversidade: Ameaças inseparáveis que precisam ser debatidas juntas


Foto: EBC

A demanda por bioenergia para reduzir as emissões de CO2 procedentes de combustíveis fósseis pode causar um aumento de 10 a 30 vezes no uso relacionado à energia de áreas verdes nos próximos anos, acrescentando uma pressão esmagadora no habitat para plantas e animais e comprometendo a essencial diversidade de espécies na Terra.

Palestrando a ministros de Estado e a outros representantes de alto nível em uma importante reunião da ONU sobre biodiversidade no EgitoAnne LarigauderieSecretária Executiva da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, disse que cientistas do clima preveem que muito mais terras serão necessárias para o milho e outras culturas energéticas, a fim de mitigar a mudança climática nas próximas décadas.

Citando o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), que limitou o aquecimento climático a 1.5 ºC, a Dra. Larigauderie observou que a maioria dos cenários do IPCC prevê um grande aumento nas áreas para culturas energéticas até 2050 – até 724 milhões de hectares ao todo, uma área quase do tamanho da Austrália.

“A questão-chave aqui é: de onde viria esta enorme quantidade de novas terras?”, ela perguntou. “Existe atualmente tal enorme quantidade de terras marginais disponíveis ou haveria competição com a biodiversidade? Alguns cientistas argumentam que restam muito poucas terras marginais.”

“Esta importante questão precisa ser esclarecida, mas a demanda por terra para energia quase seguramente crescerá, com consequências negativas para a biodiversidade.”

Dra. Larigauderie fez estes comentários no início da 14ª reunião da Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica da ONU(COP 14), organizada com o governo do Egito em Sharm el-Sheikh, de 14 a 29 de novembro.

Atingir os alvos de intensa mitigação climática sem massiva bioenergia é possível, ela acrescentou, mas os cenários indicam que isso exige reduções substanciais no uso de energia e rápidos aumentos na produção de energia de baixo carbono através de fontes eólicas, solares e nucleares.

Preservar a diversidade de espécies vegetais e animais e os serviços que a natureza provê é em si a chave para mitigar o aquecimento planetário, ela disse.

Por exemplo:

• Os ecossistemas terrestres, com suas diversas plantas e solos, atualmente sequestram cerca de um terço das emissões anuais de CO2.

• Similarmente, o oceano sequestra cerca de um quarto das emissões anuais de carbono.

• O reflorestamento mitiga melhor o clima do que a maioria das culturas energéticas. Em climas temperados, um hectare reflorestado é quatro vezes mais efetivo na mitigação climática do que um hectare de milho usado como biocombustível.

“Todos os métodos que produzem ecossistemas mais saudáveis deveriam ser promovidos como uma forma de combater a mudança climática,” ela disse. “Isso inclui o florestamento e o reflorestamento, bem como a restauração – executada adequadamente usando espécies nativas, por exemplo.”

O último relatório do IPCC “deu um senso de extrema urgência para essas trocas de escolhas e sinergias entre o clima, a biodiversidade e a degradação da terra”, ela disse.

Esforços estão em andamento para melhorar a tão necessária colaboração interdisciplinar entre o IPCC e o IPBES, ela acrescentou, no contexto do segundo programa de trabalho do IPBES a ser aprovado em 2019.

“Por detrás de todas essas discussões está a necessidade de se elevar o tópico da biodiversidade ao mesmo nível do clima na agenda política. Sinto que podemos estar mais próximos… Mas precisamos intensificar ainda mais nossos esforços como comunidade nos próximos dois anos.”

Em comentários separados a líderes empresariais nas reuniões da ONU, a Dra. Larigauderie disse que esperava-se que a COP 14 tomasse a decisão de requerer um relatório do IPBES sobre critérios, métricas e indicadores dos impactos que diferentes setores econômicos têm na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos, o qual poderia ser realizado em 2019 caso aprovado pelo próximo Plenário do IPBES.

As empresas têm várias razões convincentes para proteger e usar a biodiversidade de forma sustentável, ela observou.

Entre elas:

• Muitos negócios dependem direta ou indiretamente da biodiversidade e da saúdedos serviços ecossistêmicos

• Eles são muitas vezes responsáveis pela perda de biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos e os consumidores irão cada vez mais favorecer as empresas com uma política de biodiversidade, assim como eles tomam decisões agora que refletem preocupações com o clima e com a poluição

• A gestão adequada do impacto na biodiversidade não somente minimizaria riscos operacionais, regulamentares, de reputação e de mercado, mas também traria oportunidades de negócios para as empresas na forma de novos mercados, eficiências de produção, engajamento dos funcionários e vantagem competitiva.

Avaliações do IPBES recentemente publicadas sobre biodiversidade regional e relatórios de serviços ecossistêmicos contêm estudos de caso, opções de políticas e oportunidades para priorizar a biodiversidade em diferentes setores econômicos, ela observou.

“Elas mostram em especial que a ação ambiental proativa por parte das empresas é fundamental e precisa aumentar, mas também que elas precisam ser apoiadas por medidas regulamentares complementares bem como por incentivos/desincentivos por parte dos governos.”

Espera-se que seja dada uma ênfase maior nisto em uma grande avaliação global de biodiversidade e serviços ecossistêmicos que está sendo preparada para ser publicada em Paris em maio do ano que vem, disse a Dra. Larigauderie. Será o primeiro relatório do tipo desde a Avaliação Ecossistêmica do Milênio de 2005.

Uma importante pormenorização dos elementos da Avaliação Global sobre a Biodiversidade do IPBES será publicada na segunda-feira, 19 de novembro.

Sobre a 14ª reunião da Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica da ONU

Segmento de Alto Nível (14-15 de novembro, https://www.cbd.int/meetings/COP-14-HLS). Espera-se que nada menos que 80 ministros do Meio Ambiente, da Infraestrutura, de Energia, da Indústria e de outros setores juntem-se às discussões sobre priorizar a biodiversidade em suas respectivas áreas de trabalho.

De 17 a 29 de novembro, negociações serão realizadas entre as 196 partes da CDB nos seguintes temas principais: Alcançar as globalmente adotadas Metas de Aichi (2010-2020); priorizar os problemas de biodiversidade; e o início de dois anos de negociação do quadro mundial para a biodiversidade pós-2020, agendado para acordo final na COP 15 da CDB na China em 2020.

IHU