Estudo alerta que dois terços das geleiras do Himalaia poderão derreter


Foto tirada em 22 de novembro de 2018 mostra uma geleira na região do Everest, no Nepal (AFP/Arquivos)

Dois terços das geleiras do Himalaia, o “Terceiro Polo” do mundo, podem derreter até 2.100 se as emissões globais não forem reduzidas, alertaram cientistas em um novo estudo divulgado nesta segunda-feira.

A região montanhosa Hindu Kush-Himalaia, que se estende ao longo de 3.500 quilômetros entre Afeganistão e Mianmar, é considerada um “terceiro polo” pelos cientistas devido a suas gigantescas reservas de gelo.

Todo esse gelo alimenta 10 dos maiores rios da Ásia, do Ganges ao Mekong, passando pelo rio Amarelo. Trata-se de rios cujas bacias reúnem enormes núcleos populacionais.

De acordo com um estudo que requereu cinco anos de trabalhos, a mudança climática ameaça as geleiras de altura deste complexo montanhoso, que inclui alguns dos picos mais altos do mundo, como o Himalaia e o K2.

Este estudo foi realizado com a participação de 350 especialistas dirigidos pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado da Montanha (Icimod), uma organização intergovernamental estabelecida em Katmandu (Nepal).

Crise desconhecida

Em uma nota oficial, o principal responsável do estudo, Philippus Wester, apontou que “é a crise climática de que ninguém ouviu falar”.

Mesmo que as nações do planeta consigam reduzir até 2100 suas emissões para conter o aquecimento global a 1,5 graus centígrados acima do registrado na era pré-industrial, o Hindu Kush-Himalaia perderia também um terço de suas geleiras.

Tal cenário representa um impacto significativo para as 250 milhões de pessoas que habitam todo o complexo montanhoso e as 1,65 bilhão que vivem nas bacias fluviais da região.

“O aquecimento do clima deverá transformar picos montanhosos cobertos de geleiras em oito países do Hindu Kush-Himalaia em pedras nuas em menos de um século”, apontou Wester.

Segundo o especialista, “as consequências para as pessoas da região, que já é uma das zonas de montanha mais frágeis do mundo, irão de um agravamento da poluição do ar a um aumento dos fenômenos climáticos extremos”.

‘Seca, inundações…’

Ao influenciar os volumes e os períodos da fonte glacial, o aquecimento global ameaça também a produção agrícola que depende essa água, e assim abre as portas para um cenário de risco na segurança alimentar de toda a região.

Neste âmbito, os sistemas de distribuição de água em núcleos urbanos seriam seriamente afetados, assim como a produção de energia e alimentos.

Secas mais frequentes, aumento no número de chuvas violentas e inundações súbitas devido ao derretimento das geleiras estão entre os riscos climáticos citados pelo estudo.

Já muito alta na planície Indo-Gangética, a poluição atmosférica provoca o depósito de carvão e poeira sobre as geleiras. Este fenômeno também tem um impacto direto no ritmo de derretimento dos gelos, a circulação das monções e a distribuição geográfica das chuvas.

Segundo os autores do estudo, serão necessárias contribuições de entre 3,2 e 4,6 bilhões de dólares por ano até 2030 para se adaptar à mudança climática, e de entre 5,5 bilhões e 7,8 bilhões por ano até 2050.

O diretor-geral do Icimod, David Molden, disse à AFP que todos os países da região “compartilham os recursos montanhosos e por isso é necessário que trabalhem juntos para determinar a forma de enfrentar o problema, e falar com uma só voz na cena mundial”.

AFP