Rompimento da barragem da Vale transforma vida pacata de moradores de Brumadinho em ‘inferno’


Cemitério Canto da Saudade fica ao lado do campo onde helicópteros sobem e descem em busca de desaparecidos (Rômulo Ávila/Dom Total)

Rômulo Ávila
Enviado especial a Brumadinho (MG)

Medo, vazio, angústia, incerteza e preocupação com o futuro são aflições comuns entre os moradores do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), local onde a barragem da Vale se rompeu no dia 25 de janeiro.  São 134 mortos e quase 200 desparecidos.  “Qual o dia que uma pessoa terá paz nesse pedacinho nosso que nós está (sic) aqui?’, perguntou Luís Custódio, 55 anos, à reportagem do Dom Total na tarde de terça-feira (5), após ‘enterrar’ uma nora. Luís andava de um lado para o outro na comunidade.  “Só quero encontrar minha esposa”, continuou.

A esposa, Diomar Custódio dos Santos Filho, 57 anos, trabalhava na pousada Nova Estância, engolida pelo mar de lama da Vale. “Virou mais que um inferno e vai continuar do mesmo jeito, porque o inferno não vai sair daqui nunca”, disse o morador.

Rômulo Ávila/Dom TotalRômulo Ávila/Dom TotalVacinas

Além da busca por parentes desparecidos, moradores da cidade estão preocupados com surtos de doenças que o desequilíbrio ambiental causado pelo rompimento da barragem pode provocar.  Estudo realizado pela Fiocruz, que avaliou os impactos imediatos do crime socioambiental, alerta para a possibilidade de surtos de dengue, febre amarela e esquistossomose.

“Traz muita doença. Eles mandaram a gente ir tomar vacina. Tenho muito medo dessas doenças. Muito medo mesmo”, diz dona Irani Paiva Gonçalves, 66 anos. Ela perdeu uma sobrinha e amigas que trabalhavam na pousada. E não tem medo de afirmar. “A Vale é assassina. Matou sem colocar a mão”.

A procura por vacinas na Unidade Básica de Saúde aumentou, conforme informado por uma funcionária à reportagem do Dom Total. “Está todo mundo com medo”, disse uma jovem que preferiu não se identificar.

A pesquisa realizada pela Fiocruz tem como base estudos internacionais sobre causas e consequências de desastres com barragens de mineração e a experiência sobre os impactos do crime socioambiental provocado pela Samarco em Mariana.

Agravamento

A pesquisa chama a atenção para a perda de condições de acesso a serviços de saúde, que pode agravar doenças crônicas já existentes na população afetada, assim como provocar novas situações de saúde deletérias como doenças mentais (depressão e ansiedade), crises hipertensivas, doenças respiratórias e acidentes domésticos.

“Tomei vacina porque eles pediram para tomar, mas não sou muito cismada com essas coisas. Tenho preocupação é com as crianças, porque eu já estou no fim da vida”, diz Vicentina Gomes de Moura, 83 anos.  Ela tem um neto, Wesley Eduardo de Assis, 37 anos, desaparecido na lama da Vale.

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