Cooperação Sul-Sul é vital para luta contra mudança climática, diz Guterres em Buenos Aires


O secretário-geral da ONU, António Guterres, durante discurso em conferência sobre Cooperação Sul-Sul em Buenos Aires. Foto: UNIC Buenos Aires

A Cooperação Sul-Sul é chave para o desenvolvimento sustentável e para a luta contra o aquecimento global, disse o secretário-geral das Nações Unidas na quarta-feira (20), na sessão de abertura da Segunda Conferência da ONU sobre Cooperação Sul-Sul, na capital argentina, Buenos Aires.

António Guterres relembrou os presentes, entre políticos, líderes empresariais e da sociedade civil, que a conferência BAPA+40 irá melhorar a agenda inovadora estabelecida na primeira conferência. A primeira reunião, realizada há 40 anos, adotou o Plano de Ação de Buenos Aires para Promoção e Implementação de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento.

Segundo o chefe da ONU, esta semana é uma oportunidade de reafirmar, desenvolver e fortalecer estruturas para a Cooperação Sul-Sul – entre países em desenvolvimento do Sul Global – e melhorar sistemas e ferramentas, além de aumentar a transparência.

“O BAPA transformou as dinâmicas de cooperação internacional”, disse o chefe da ONU. “(O plano) destacou o valor de uma forma diferente de cooperação, baseada na troca de conhecimento e tecnologias apropriadas entre nações que enfrentam desafios similares de desenvolvimento”, disse.

Segundo Guterres, a cooperação pode permitir que países em desenvolvimento aprendam uns com os outros e cresçam mais rapidamente, diminuindo diferenças de renda e construindo sociedades inclusivas e resilientes.

Cinco problemas, muitas soluções

O secretário-geral da ONU destacou os principais desafios que líderes presentes poderão ajudar a superar e que são cruciais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o Acordo de Paris para o clima, no qual os países se comprometeram a manter o aquecimento global abaixo de 2°C.

Em primeiro lugar, há crescente desigualdade entre e dentro de países, erodindo a confiança mundial e aprofundando um sentimento de injustiça. Em segundo, a luta contra mudança climática acabou de se intensificar, disse.

“O ano de 2018 foi o quarto mais quente já registrado e desastres naturais estão impactando quase todas as regiões”, disse, lembrando que os Estados-membros precisam intensificar suas contribuições nacionais até 2020, em linha com as reduções de 45% dos gases causadores do efeito estufa até a próxima década.

“A Cooperação Sul-Sul será vital para garantir apoio mútuo e troca de conhecimentos, para melhorar adaptação e aumentar a resiliência de países em desenvolvimento e comunidades que enfrentam os impactos devastadores da mudança climática”.

“A Cooperação Sul-Sul também pode apoiar a transformação de economias dependentes de combustíveis fósseis, com estratégias que reforçam tanto o desenvolvimento sustentável quanto proteção ambiental”, acrescentou Guterres.

Altas emissões são esperadas se o desenvolvimento urbano fracassar

Em terceiro lugar na lista está a necessidade de melhorar infraestruturas, especialmente nas cidades, à medida que demandas energéticas crescem no Sul Global.

“Cerca de 60% da área que é esperada para se tornar urbana até 2030 ainda precisa ser construída. Se errarmos nisso, iremos nos prender em um futuro de altas emissões, com consequências possivelmente catastróficas”, destacou o chefe da ONU.

Em quarto lugar, Guterres afirmou que, embora tenha havido progresso significativo em alcançar a igualdade de gênero ao longo dos anos, a lacuna está se ampliando.

“Isso afeta todos nós, porque onde as mulheres têm melhor representação na política, vemos melhor proteção social e mais gastos em desenvolvimento”, disse. “Quando mulheres têm acesso a terras e crédito, as colheitas aumentam. Quando meninas são escolarizadas, elas contribuem mais para suas comunidades e quebram ciclos de pobreza”.

Finalizando a lista, o chefe da ONU declarou que instituições internacionais precisam trabalhar com mais força para apoiar os países representados em Buenos Aires: “a Cooperação Sul-Sul evoluiu significativamente ao longo das últimas décadas – mas instituições multilaterais, incluindo as Nações Unidas, não acompanharam”.

Guterres agradeceu os Estados-membros por reconhecerem o papel das Nações Unidas no documento final da Conferência, que será adotado na sexta-feira (22).

O secretário-geral da ONU alertou, no entanto, que a Cooperação Sul-Sul não pode substituir a ajuda oficial ao desenvolvimento ou substituir as responsabilidades de nações desenvolvidas. Além disso, a Cooperação Sul-Sul precisa incluir jovens, sociedade civil, setor privado, academia e outras partes para construir parcerias inovadoras.

“Juntos podemos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, superar as mudanças climáticas e transformar as vidas de pessoas no mundo todo”, concluiu.

A presidente da Assembleia Geral da ONU, María Fernanda Espinosa, disse que o BAPA é um símbolo da determinação do Sul Global em avançar a igualdade para todos.

“As pessoas em Nova Iorque ou Nova Délhi, em Paris ou Pretória, em Quito ou em Helsinque, todas compartilham o mesmo sonho: um emprego decente, saúde e educação, um ambiente seguro e saudável, um governo que escute e responda, um sistema internacional eficaz e com resultados tangíveis”, disse.

“Mas estes sonhos, que parecem tão elementares, estão cada vez mais distantes”, destacou. “É claro que estamos ajudando a restaurar a confiança e a eficácia da cooperação internacional e ação multilateral. A Cooperação Sul-Sul representa o melhor de nosso povo. Os princípios de solidariedade e ação pelo bem comum transformam a Cooperação Sul-Sul em uma força poderosa”, disse.

 

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