Ações climáticas são necessárias para conter ciclones fatais como Idai, diz Guterres


Mulher alimenta filho de dois anos após terem sido obrigados a deixar sua casa após enchentes em Buzi, Moçambique. Foto: UNICEF/Prinsloo

O crescente número de mortos provocado pelo ciclone Idai é “outro sinal alarmante dos perigos da mudança climática”, disse na terça-feira (26) o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertando que países vulneráveis como Moçambique serão atingidos com mais força se ações urgentes não forem tomadas pela comunidade internacional.

“Tais eventos estão se tornando mais frequentes, mais severos e mais amplos, e isto só irá piorar se não agirmos agora”, disse o chefe da ONU. “Perante tempestades fortes, precisamos acelerar a ação climática”, acrescentou a correspondentes na sede da ONU em Nova Iorque.

O secretário-geral convocou uma Cúpula sobre Ação Climática para setembro, para tentar mobilizar países em torno da necessidade urgente de reduzir aquecimento global para abaixo de 2°C acima de níveis pré-industriais, em linha com o Acordo de Paris, de 2015.

O número de mortos em Moçambique, Malauí e Zimbábue já soma cerca de 700, mas ainda pode aumentar, à medida que centenas de pessoas ainda estão desaparecidas. De acordo com estimativas, 3 milhões de pessoas foram afetadas, quase dois terços delas em Moçambique, onde a cidade portuária de Beira foi “praticamente arrasada”, enquanto terras agrícolas do interior foram inundadas, disse Guterres.

Ao menos 1 milhão de crianças precisam de “assistência urgente” e há temores de que vilarejos inteiros tenham sido destruídos em lugares que ainda estão inacessíveis, acrescentou o chefe da ONU. Segundo relatos, em torno de 1 bilhão de dólares em infraestrutura foi destruído. Guterres afirmou que cidadãos dos três países africanos precisam de “apoio forte e contínuo”.

Na segunda-feira (25), a ONU realizou um pedido emergencial revisado de 281,7 milhões de dólares para Moçambique, classificando o desastre como uma “emergência de escala crescente”, que é a mais severa.

“Peço para a comunidade internacional financiar este apelo de forma rápida e completa para que agências de ajuda possam aumentar urgentemente suas respostas”, disse Guterres.

ONU e parceiros intensificam respostas

As condições para sobreviventes do ciclone Idai permanecem difíceis, com enorme devastação e um “risco extremamente alto de doenças diarreicas, como cólera”, afirmou na terça-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS), em briefing a jornalistas em Genebra.

A representante da OMS em Moçambique, Djamila Cabral, disse que mais de 100 mil pessoas na cidade de Beira perderam suas casas e todos os seus pertences.

Além disso, “famílias, mulheres grávidas e bebês estão vivendo em acampamentos temporários em condições horríveis… sem suprimentos seguros de alimentos ou água potável segura e saneamento”.

Ao menos 1,8 milhão de pessoas precisam de assistência humanitária apenas em Moçambique. Casos de diarreia aguda similar à cólera já foram relatados entre as vítimas.

Para prevenir um surto, a OMS irá enviar 900 mil doses de vacina oral contra a cólera para o país. O suprimento deve chegar ainda nesta semana. A organização também irá enviar suprimentos para tratar doenças diarreicas, incluindo fluidos intravenosos e testes diagnósticos. Junto a isso, três centros para tratamento da cólera, incluindo uma instalação com 80 camas em Beira, estão sendo montados.

Para conter um aumento da malária nas próximas semanas, a OMS também prepara o fornecimento de 900 mil mosquiteiros com inseticidas para proteger famílias.

Testes rápidos de diagnóstico e remédios antimalária serão enviados para áreas de alto risco, mas esta e outras necessidades de saúde irão exigir “ao menos” 38 milhões de dólares ao longo dos próximos três meses, disse Cabral.

Coordenando necessidades alimentares para vítimas do ciclone, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) está mirando 1,7 milhões de pessoas em Moçambique com assistência alimentar, 732 mil no Malauí e 270 mil no Zimbábue.

A assistência também inclui logística e apoio emergencial de telecomunicações. Imagens de satélites mostram diversas plantações alagadas, incluindo um “oceano em terra” do tamanho de Luxemburgo, afirmou o PMA em comunicado. Nas províncias moçambicanas de Sofala e Manica, comunidades isoladas ainda estão inacessíveis e aguardam equipes de busca e resgate.

Zimbábue e Malauí também precisam de fundos de emergência

No Zimbábue, 95% das redes rodoviárias em distritos afetados foram danificadas, enquanto no Malauí o ciclone teve impacto limitado, disse o porta-voz do PMA, Hervé Verhoosel.

“Este apoio irá exigir 140 milhões de dólares para intervenções vitais em Moçambique para os próximos três meses; 15,4 milhões de dólares para os próximos dois meses no Malauí e 17 milhões de dólares para os próximos três meses no Zimbábue”, acrescentou.

Em apelo separado, cobrindo outras necessidades, como abrigos, água potável e saneamento, o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e parceiros humanitários pediram 282 milhões de dólares para apoiar vítimas em Moçambique.

De acordo com o OCHA, quase meio milhão de hectares de plantações foi alagado, além de grandes danos a casas e infraestruturas.

Uma perda severa de gado também é esperada, levando ao agravamento de insegurança alimentar na região central do país, que já sofria com pobreza e problemas de desenvolvimento antes da chegada do ciclone.

ONU News