Bispos prepararam visita às comunidades afetadas por projetos de agronegócio e mineração


Relatório do Greenpeace mostra que 58% dos municípios do Matopiba, tida como região modelo do agronegócio, continuam pobres e são ainda mais desiguais do que a média de seus estados (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Os bispos que fazem parte do regional Nordeste 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se uniram para percorrer 7 rotas da chamada Matopiba, região formada pelas fronteiras dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que responde por grande parte da produção brasileira de grãos e fibras.

Considerada a grande fronteira agrícola nacional da atualidade, a Matopiba compreende o bioma Cerrado e abrange uma área de cerca de 73 milhões de hectares em 337 municípios, segundo levantamento feito pelo Grupo de Inteligência Estratégica (GITE) da Embrapa. Nessas áreas vivem cerca de 25 milhões de pessoas entre indígenas, quilombolas, agricultores familiares e as populações que mantêm um modo de vida tradicional.

Apesar de gerar desenvolvimento em algumas cidades, o crescimento do agronegócio e a disputa de terras na região tem gerado uma série de problemas, em especial, a falta de políticas públicas. No sul do Piauí, por exemplo, onde se encontram as dioceses de Bom Jesus do Gurguéia e São Raimundo Nonato, a população sofre com a escassez de serviços básicos mesmo com melhora do desenvolvimento e um aquecimento da economia local, como explica o bispo de Bom Jesus, dom Marcos Antônio Tavoni, que é secretário do regional Nordeste 4 da CNBB.

“Falta um bom hospital Regional e um referencial para as causas urgências. A UTI (Unidade de Terapia Intensiva) mais próxima está a 380 Km de Bom Jesus do Gurguéia. Faltam boas estradas, boas escolas públicas, bibliotecas públicas, esporte e lazeres sadios e muitas outras estruturas que clamam por dignidade”, destaca.

Para dom Marcos, o agronegócio tem gerado divisas, impostos e empregos, mas trouxe consigo consequências negativas que poderiam ser amenizadas e trazer muito mais contrapartidas na área social.

“Os grandes projetos de plantações implicaram e implicam, também, em grandes preocupações: desmatamentos, pouca reserva verde ou do cerrado original, a monocultura que suga o solo, o uso indiscriminado dos agrotóxicos, o represamento das águas, a exploração exagerada do lençol freático etc. Isso tudo tem consequências, faz com que os rios diminuam em vasão ou sequem, e com escoamento das chuvas as águas tanto dos rios, quanto as do subsolo, se contaminem”, ressalta.

Outra grande preocupação da Igreja na região é com a juventude que está ociosa e ou aqueles que deixam suas casas e vão para Brasília ou para o sul do país atrás de emprego e estudos. “É triste ver famílias que se apartam e mães que choram os seus filhos, como no caso de uma mãe, em Sebastião Barros (PI), que, vindo ao meu encontro, em lágrimas, me dizia ‘Dom Marcos reza por mim, eu não vou aguentar, meu filho, foi para Brasília, foi para trabalhar e voltou dentro de um caixão. Bispo, reza, reza por mim’, lembra.

Segundo dom Marcos Tavoni, a posse da terra também é uma questão muito confusa e problemática que precisa ser resolvida. “Existem terras vendidas e revendidas e poucas são devidamente escrituradas, convivemos com a chamada grilagem. O campo foi abandonado e as nossas pequenas cidades ganharam periferias de pobreza e miséria, não como consequência do agronegócio”, enfatiza.

CNBB