Um relatório divulgado pelo World Resources Institute (Instituto de Recursos Mundiais, WRI)) faz um alerta sobre a escassez de água no mundo e afirma que um quarto da população mundial vive em 17 países que enfrentam situação de estresse hídrico extremo e se aproximam do que se chama de “Dia Zero”, quando as torneiras secam. De acordo com o levantamento, esses países consomem anualmente 80% da água disponível. De acordo com o instituto, a situação é agravada pelas secas mais frequentes provocadas pelas mudanças climáticas.
Feita em parceria com universidades e institutos da Holanda e da Suíça, a pesquisa considera dados de 1960 a 2014. O WRI classificou o estresse hídrico, o risco de seca e o risco de inundação fluvial utilizando uma metodologia revisada por especialistas.
O instituto alerta que a agricultura, a indústria e as cidades podem entrar em colapso com a “falência” da água. “Estamos enfrentando uma crise global de água”, disse, em nota, a diretora do programa global de água do instituto, Betsy Otto.
De acordo com o WRI, sediado em Washington, a oferta de água no mundo está ameaçada por vários fatores, entre eles as mudanças climáticas, o desperdício e a poluição. “É provável que vejamos mais ‘dias zeros’ no futuro”, afirmou a diretora do WRI.
Uma preocupação adicional, afirma o porta-voz Paul Reig, é a alta dependência do abastecimento pela água subterrânea, que é difícil de medir e gerenciar por estar em uma área profunda. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, um terço da água doce do mundo se encontra em lençóis freáticos. “Como não os entendemos e vemos (lençóis freáticos), nos os administramos muito mal”, disse Reig.
Catar, Israel, Líbano, Irã, Jordânia, Líbia, Kuwait, Arábia Saudita, Eritreia, Emirados Árabes Unidos, San Marino, Bahrein, Índia, Paquistão, Turcomenistão, Omã e Botsuana formam o grupo dos 17. “O estresse hídrico é a maior crise sobre a qual ninguém fala. As consequências são visíveis na forma de insegurança alimentar, conflito, migração e instabilidade financeira”, disse Andrew Steer, presidente executivo do WRI.
O Catar é o país de maior risco de escassez, seguido por Israel e Líbano. Os dados mostram que a maior parte das nações em alerta “extremamente elevado” está no Oriente Médio e no Norte da África. Outros 27 países integram a lista de “alto estresse hídrico de referência”. O Brasil ocupa apenas a 112ª posição entre os 164 países analisados, no grupo que apresenta o menor perigo (“nível baixo de estresse hídrico”).
A Índia, que aparece na 13ª posição, tem uma população três vezes maior que os outros 16 países. Nas últimas semanas, a sexta maior cidade da Índia, Chennai, foi a mais recente metrópole do mundo a alertar que suas torneiras podem secar, à medida que os níveis dos reservatórios despencam. “A recente crise da água na região de Chennai chamou a atenção mundial, mas diversas áreas da Índia sofrem um estresse hídrico crônico”, afirmou Shashi Shekhar, ex-secretária para a Água da Índia. Ela disse que o relatório pode ajudar as autoridades a identificar e priorizar os riscos.
O estudo lembra que situações semelhantes viveram a Cidade do Cabo, na África do Sul, que temia o “Dia Zero”, sem água, no ano passado; e São Paulo, no Brasil, que viveu uma prolongada crise hídrica, em 2015. Até os países com reduzido estresse hídrico médio podem ter pontos críticos.
AFP/Reuters/Dom Total