Mundo deve adaptar-se aos efeitos ‘inevitáveis’ da mudança climática, afirma estudo


Queimadas em Rondônia, dentro da Floresta Amazônica, 25 de agosto de 2019. Foto (Fernanda Ligabue/Greenpeace)

O mundo deve acelerar sua preparação para consequências “inevitáveis” da mudança climático, uma adaptação que também apresenta oportunidades econômicas, destacou uma comissão internacional codirigida por Ban Ki-moon e Bill Gates. “Temos que nos adaptar agora”, afirma o estudo da Comissão Global de Adaptação, criada em 2018 por iniciativa da Holanda e integrada por 20 países.

“Somos a última geração que pode mudar a evolução da mudança climática, e a primeira que deve viver com suas consequências”, declarou o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon em sua apresentação do estudo em Pequim. “Deixar para mais tarde e pagar o preço ou planejar e prosperar”, insistiu Ban.

A Comissão também é copresidida por Kristalina Georgieva, diretora-geral do Banco Mundial e candidata única para dirigir o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O estudo cita cinco áreas nas quais o investimento de US$ 1,8 trilhão (cerca de R$ 7 trilhões) poderia gerar “lucros líquidos de US$ 7,1 trilhões (cerca de R$ 29 trilhões)”: os sistemas de alerta avançados, a adaptação das infraestruturas, as melhorias agrícolas, a proteção dos manguezais e das fontes de água.

Ações insuficientes

“As ações para desacelerar a mudança climática são promissoras, mas insuficientes. Devemos fazer um grande esforço de adaptação às condições já inevitáveis”, resume o texto, que cita, entre outros fatores, o aumento das temperaturas e a elevação do nível do mar.

Sem adaptação, a produtividade agrícola poderia cair 30% até 2050, afetando sobretudo os pequenos agricultores, indica o estudo. O número de pessoas sem água durante pelo menos um mês ao ano poderia aumentar dos 3,6 bilhões atuais para mais de 5 bilhões em 2050, a elevação do nível do mar poderia custar um trilhão de dólares por ano e mais de 100 milhões de pessoas poderiam ficar abaixo do limite da pobreza nos países em desenvolvimento até 2030.

Uma adaptação adequada, por outro lado, pode resultar em “melhor crescimento e desenvolvimento”, com um “triplo dividendo”, consequência das perdas evitadas, dos benefícios econômicos e também no campo social e ambiental, de acordo com o relatório.

As medidas de adaptação são uma “exigência indispensável para o desenvolvimento sustentável da China”, afirmou o ministro chinês do Meio Ambiente, Li Ganjie, cujo país é o maior emissor de CO2 do planeta.

Ban declarou ainda, à margem da apresentação do estudo, que não se deve enfrentar os fenômenos recentes como o devastador furacão Dorian com um “sentimento de inevitabilidade e impotência”, insistindo na importância da adaptação para “salvar vidas e construir um futuro melhor”.

AFP