Araújo nega aquecimento global e é criticado por colunista do ‘Washington Post’


Área de terra que foi desmatada e queimada para plantação de mandioca no Amazonas. Foto (EDMAR BARROS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

Após criticar o que chamou de “climatismo” e defender que há um “alarmismo climático” utilizado pela imprensa durante um discurso feito na quarta-feira (11), na Heritage Foundation – um dos principais “think tanks” (laboratório de ideias) conservadores dos Estados Unidos –, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi duramente criticado por Ishaan Tharoor, colunista do jornal The Washington Post.

Depois de ouvir o discurso do chanceler – o qual, segundo Tharoor, “acredita que a mudança climática é uma conspiração marxista”, o jornalista disse em sua conta no Twitter que aquilo se tratava de uma “lengalenga sem fim de vitimização de alguém que está no poder”.

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“Araújo diz que (o presidente Jair) Bolsonaro está criando ‘um amálgama liberal-conservador’ com base em ‘nação, família, laços tradicionais’ e oposta ao ‘globalismo'”, afirmou Tharoor. “Isso é incrivelmente ideológico para um chanceler no exterior.”

O colunista ressaltou que nunca havia ouvido Araújo antes e que ficou impressionado em ver o quão as observações dele são incoerentes. “Agora ele está falando algo sobre o socialismo do século 21 ser (Antonio) Gramsci conhecer os cartéis de drogas. E agora está citando (Herbert) Marcuse e todos os membros da Escola de Frankfurt”, afirmou Tharoor. “Isso é incrível. Não sabemos se ele alguma vez leu sobre teorias críticas neomarxistas além do que está escrito na Wikipedia”, acrescentou.

“Além de se irritar com os esquerdistas universitários, a direita americana jamais se importaria com essas pessoas ou envolveria suas ideias (ainda que absurdamente) em um discurso de política externa. Araújo mostrou uma distinção entre o leninismo e o stalinismo, como se alguém na Heritage se importasse.”

Tharoor termina citando uma entrevista que fez com o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, em abril deste ano e ressaltando que o general “parecia muito irritado com Araújo”.

Reações e críticas

Pouco depois de publicar as críticas a Araújo, o jornalista disse que foi muito criticado nas redes sociais. “As menções a mim estão cheias da palavra ‘vergonha’ (…), o que parece predominante no Twitter brasileiro na era de Bolsonaro, enquanto ‘resistir’ estava no Twitter americano no primeiro ano (de governo de Donald) Trump”, afirmou.

Um dos internautas, em resposta a Tharoor, disse que o colunista “é um esquerdista” e que “Ernesto Araújo é um homem corajoso que expõe a sujeira do comunismo”.

Outro afirmou que o Washington Post é uma “máquina de fake news” e que “tudo que o ministro Ernesto Araújo disse é verdade, e é por isso que você está tentando ridicularizá-lo, assim como o jornal para o qual você trabalha faz frequentemente com o presidente Donald Trump.”

Entenda o caso

Nas últimas semanas, o Brasil voltou às manchetes internacionais pelo forte aumento das queimadas na Amazônia, relacionadas ao aumento do desmatamento, já registrado em números iniciais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As imagens da floresta em chamas correram o mundo e causaram protestos de líderes mundiais e ameaças de boicote a produtos brasileiros.

Araújo, no entanto, diz que as queimadas estão na média. Além disso, disse, o desmatamento mundial é responsável por apenas 11% das emissões de CO2 no mundo – que seria o causador das mudanças climáticas, o que o ministro também não acredita –  e o desmatamento no Brasil, apenas 2% dessa emissão.

“O Brasil não é culpado. Mas não importa. A palavra clima foi pronunciada e o debate foi silenciado”, afirmou. Segundo o ministro, o “sistema” internacional virou as armas contra Bolsonaro e Trump porque eles se afastaram do globalismo.

“Os EUA estão fora do pacto globalista, o Brasil está fora do pacto globalista, então eles vêm atrás de nós para nos levar de volta”, defendeu. “O maior desafio que enfrentamos hoje, algumas pessoas irão dizer que é as mudanças climáticas. Isso absolutamente não é verdade. O maior desafio é a ideologia.”

Uma das críticas internacionais e – mesmo internas, vindas de setores como o agronegócio – ao governo brasileiro foi a resposta inicial aos dados de desmatamento e de queimadas, como uma tentativa de desacreditar o Inpe e um ataque do presidente Jair Bolsonaro a ONGs internacionais, a quem acusou de estarem colocando fogo na Amazônia para atacá-lo por ter cortado recursos repassados a essas instituições.

Com a reação de empresários brasileiros, o governo reagiu e enviou militares para ajudar a combater os focos de incêndio. Ainda assim, não há uma política de longo prazo estabelecida para fiscalizar e evitar novas crises ambientais.

Na próxima semana, Salles e Bolsonaro – se for autorizado a viajar –  participarão dos encontros da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, que terão o meio ambiente como um de seus temas centrais. Bolsonaro já afirmou que irá “até de maca” à ONU para defender a “soberania brasileira na Amazônia”.

Reuters/Agência Estado/DomTotal.com