Uma trégua à natureza: uma observação através da paisagem…


Por Elmo Júlio de Miranda e Souza

Estamos em uma época em que o mundo vive uma de suas fases mais difíceis provocada pela pandemia do novo coronavírus. É possível perceber que as mudanças também estão acontecendo no comportamento da sociedade, em suas ações e no modo de vida para se adequarem ao quadro atual de cuidados e evitar contágio. A humanidade esta revendo suas atitudes e um novo modo de relacionamento está despertando.

A natureza também está apresentando mudanças neste quadro da pandemia e mostrando cada vez mais o seu poder de renovação. Devido o isolamento social em que as ações antrópicas e uma série de atividades vem sendo modificadas, incluindo os modos de produção, distribuição, consumo, etc, singelas transformações do meio ambiente estão sendo apreciadas.

Nosso planeja já passou por uma série de doenças desastrosas, epidemias e pandemias que levaram ao extermínio de diversas sociedades. Os ciclos dessas doenças sempre foram seguidos de grandes catástrofes, guerras, bem como o crescimento exacerbado e sem planejamento de cidades e de populações que vão ocupando irregularmente espaços naturais. Isso reflete nos impactos ambientais que também ajudam na evolução de doenças, eclodindo em pestes, epidemias e pandemias como da Covid-19.

O isolamento acaba por revelar algumas situações muito positivas ligadas às relações homem-natureza. Nessas últimas semanas, curiosos, pesquisadores e cidadãos comuns, em suas poucas andanças e ou em seus deslocamentos a recantos naturais, vêm percebendo alguns cenários interessantes. Belo Horizonte e suas adjacências possuem, ainda, lugares que revelam características de seus ecossistemas pré-existentes, tais como do Cerrado, incluindo os campos de altitudes e de Mata Atlântica, identificado por montanhas íngremes com seus paredões em forma de escudos, tais como a região da Serra do Curral, onde se instalaram o bairro Bandeirantes e outros na porção sul de BH. As poucas pessoas que passam nesses lugares avistam de longe um bando de maritacas, canários da terra e outras espécies circularem em número maior, em pleno cortejo de seus cantos.

Já na porção Norte da cidade, localiza-se a Lagoa da Pampulha em uma região de planície e seus bairros do entorno. Grupos de pessoas, mesmo com a fase do atual isolamento, têm percebido uma melhora na qualidade do ar, nitidamente justificado pela diminuição do trânsito de veículos automotores responsáveis por lançar CO2 no ambiente. Na orla da Lagoa da Pampulha, embora proibida à visitação, nota-se bandos de pássaros sobrevoando com mais liberdade, o aumento no número de concentrações de espécies, exibindo suas ninhadas com calma, até um casal de jacarés resolveu mostrar seus filhotes, e os biguás sentindo-se mais a vontade em aterrissar nas águas da lagoa. A própria Lagoa da Pampulha mostra um quadro paisagístico mais bonito, com menos mau cheiro e com menos resíduos de embalagens e plásticos.

Desta forma, a pandemia educou a sociedade quanto à obediência ao isolamento social, mas também deu oportunidade a natureza de passar por um período menos conturbado pelo homem para se reconstruir. Em uma prosopopeia, pode-se dizer que ela também está repensando sobre tudo com mais tranquilidade.

As pessoas estão revendo questões, os valores da vida, a sobrevivência humana e adequando melhor aos espaços para pequenas produções próprias como o plantio de hortas, jardinagens, prática de artesanato, exercícios no quintal e até mesmo a utilização de receitas caseira para produzir o próprio alimento e proclamar a sustentabilidade com práticas da reciclagem e reaproveitamento. Seria possível a sociedade dar sequência a esse processo, no pós-pandemia, com menos veículos circulando desnecessariamente, produzindo mais em casa, diminuindo as embalagens e resgatando valores que se incluem a partir da conscientização. Com certeza a natureza continuará agradecendo e retribuindo a todos nós com melhores condições de vida.

Meu nome é Elmo Júlio de Miranda e Souza, sou professor e integrante do Movimento Ecos, realizado pela Dom Helder Escola de Direito e EMGE Escola de Engenharia de Minas Gerais, que em conjunto vem desenvolvendo atividades no interior da rede pública estadual de educação. O movimento não parou, embora pausado, estamos em constante interlocução e comunicação para que possamos agir com melhores propostas e mais eficazes em prol de um planeta melhor e de uma vida melhor.

Essa matéria vem da minha própria experiência nessas últimas semanas, por esses lugares, que mesmo isolado e longe, observei a paisagem, categoria essa em que me especializei no curso da Geografia e Análise Ambiental.

Desejo a todos muita paciência e esperança de melhoria nesta fase que passamos. Daqui a pouco retornaremos, mas que em nossa volta, possamos ter um repensar melhor sobre a nossa relação com todos os ambientes.

Edição – Necom Dom Helder e EMGE