Movimento Ecos: conhecer para agir


Por Elmo Júlio de Miranda e Amanda Rodrigues

Revisitando conceitos: os ecossistemas do Brasil

No Brasil, há ecossistemas de grandes extensões, chamados de biomas, tais como a Amazônia, a Mata Atlântica, o Cerrado, Mata dos Cocais, Pantanal Mato-grossense, Mata das Araucárias e outros bem específicos, como a Caatinga e os Manguezais, todos muito ameaçados por ações antrópicas. Alguns desses atingiram seu o grau de resiliência, ou seja, a sua capacidade máxima de responder a uma perturbação ou a uma série de perturbações, resistindo e tentando recuperar-se ao longo do tempo.

Essas perturbações ambientais, ocasionadas pelas atividades humanas inadequadas na utilização ou extração dos recursos naturais, possibilitam a falência do ciclo de interação dos elementos da natureza e, por consequência, do próprio ecossistema. Um exemplo clássico de intensa devastação ocorreu com a Mata Atlântica, bioma de floresta e vegetação tropical úmida, que abrange a costa leste-sudeste e sul do Brasil. A Mata Atlântica é composta por grande diversidade de espécies da fauna e flora, além de ser marcada pelo clima úmido e chuvoso. Essa floresta possui espécies perenifólias e latifoliadas que não secam, mesmo durante o período de escassez das chuvas, e suas folhas largas e grandes ofertam sombreamento intenso, guardando as características de floresta úmida do regime pluvial (chuvas). Tais florestas, desde a colonização do Brasil, foram muito devastadas, e hoje restam pouco mais de 8% da vegetação original, que está preservada em parques ecológicos e de preservação ambiental, estações ecológicas e em encostas de difícil acesso.

Outro imenso bioma do país é o Amazônico, um enorme complexo de ecossistemas marcados pelas suas florestas tropicais densas, com a presença do clima equatorial chuvoso e que ocupam cerca de 40% do território nacional. Ele é rico em variedades de espécies, inclusive as endêmicas, que são aquelas que só existem em uma determinada região. A Floresta Amazônica ou Pluvial, foi denominada de Hileia Amazônica pelo cientista Alexander von Humboldt (1769-1859), em razão dos aspectos de sua flora, fauna, arqueologia e etnografia indígenas. A floresta convive em contato com os rios da bacia amazônica, conjunto formado pelo rio principal, afluentes e subafluentes, com uma imensa área drenada de 40% no Brasil, chamada de Amazônia Legal, que possibilita a sustentabilidade de ribeirinhos, indígenas e povos da floresta.

O Cerrado também é outro bioma de grande extensão, com clima quente, marcado por uma estação seca e outra chuvosa, com vegetação do tipo herbácea, de pequeno porte, e com espaçadas espécies arbóreas, árvores que chegam a ultrapassar 10 metros. Além dos ecossistemas abordados, existem tantos outros, como a Mata das Araucárias, o Pantanal e os Mangues, que são áreas alagadas, e, ainda, a importante Caatinga, vegetação de espécies caducifólias, que perdem as folhas na época da escassez de chuvas, reservando a umidade em suas raízes para sobreviver, como exemplo os cactos e sua variada vegetação espinhenta.

Toda essa diversidade de ecossistemas é fundamental para a sobrevivência das espécies que habitam o planeta e, por isso, precisam ser estudados e revisitados sempre, o que contribui para o alcance da verdadeira sustentabilidade do ecossistema e que com ele convive.

Observando os entornos da cidade de Belo Horizonte e a presença dos ecossistemas

Embora este novo cenário de isolamento social interfira no trânsito e na circulação das pessoas, ainda sabemos e podemos, de certa forma, observar a bela paisagem do entorno de Belo Horizonte. Mesmo ao longe é possível notar as elevadas serras que contornam a capital mineira. Algumas delas já estão desgastadas pelo processo de erosão, causado pelo intemperismo químico – conjunto de reações químicas que alteram os minerais que compõem a rocha – e pelo intemperismo físico degradação física da rocha sem alterar a composição química. Ambos ocasionados pela ação das águas das chuvas, calor, pressão atmosférica, movimento tectônicos, dentre outros.

Observa-se nesses cenários paisagens lindíssimas, como na região do bairro Mangabeiras e outros bairros encrustados na serra, com microclima bem distinto e arejamento suave a quem passa. Os paredões da serra ou escudos cristalinos são as rochas magmáticas e metamórficas de formação e estruturas antigas de geologia datada da era Pré-Cambriana, também denominadas de maciços antigos.

Belo Horizonte parece estar resguardada em um vale, ladeado de paredões, que ainda preservam, ao longo da Serra do Curral e do Anel Rodoviário, manchas da Mata Atlântica e espécies remanescentes, aquelas que permaneceram ou restam do ecossistema original. Como exemplo as Quaresmeiras (tibouchina sp.) que se tornaram árvores símbolo da capital mineira e que serviu de orientação para os bandeirantes que procuravam ouro de aluvião, aquele retirado dos cursos d’agua.

A existência de parques de preservação, como o da Mangabeiras, na porção sul de Belo Horizonte, o Parque Ecológico da Pampulha, na porção norte, e o Parque Américo Renné Giannetti (Parque Municipal), fazem parte do entretenimento dos belo-horizontinos e dos visitantes. Tratam-se de unidades de conservação ambiental e áreas de proteção e preservação ambiental (APAs), tão importantes para a proteção dos remanescentes dos antigos ecossistemas.

Observa-se ainda na Grande BH, a sobrevivência dos chamados campos de altitude ou campos rupestres, vegetação que faz parte da Mata Atlântica e do Cerrado, muito encontrada nas faixas de transição desses dois ecossistemas. Esses ocupam regiões mais elevadas de planaltos, acima de 900 metros, com afloramentos rochosos, onde predominam ervas, arbustos e arvoretas pouco desenvolvidas.

Mas não são somente os morros e serras que encantam o “belo horizonte”, existem também lindas regiões de planícies, de formas mais ou menos planas, com fisionomia suave e que possuem altitude inferior a 300 metros, como a Lagoa da Pampulha, por exemplo. Embora em árduo processo de recuperação ambiental contínua, o ecossistema presente na região revela a persistência da sobrevivência. Nitidamente a Lagoa da Pampulha possui áreas ainda bem florestadas, ora naturais, ora recuperadas, e que abriga diversas espécies da fauna e flora.

O Local mistura traços arquitetônicos urbanos importantes em meio à natureza, com longa pista de caminhada, pista para ciclismo, presença dos grandes ginásios esportivos como o Mineirão e Mineirinho, e com a marca de Oscar Niemeyer na Casa do Baile e nos museus. Na orla da lagoa, percebe-se nitidamente a presença da fauna alada, que são as aves e os pássaros que possuem capacidade de voar, tais como os Biguás, Bem-te-vis, Carcarás, Canários, Garça Branca e outros, além de mamíferos, roedores, repteis e até felinos, como a Jaguatirica, já flagradas por visitantes.

Verifica-se, com esta breve análise, a importância do conhecimento socioambiental, afinal, este é o estudo da nossa vida e do meio em que estamos inseridos. Conhecer o lugar em que vivemos e com ele se relacionar é o primeiro passo para preservar. E é exatamente a isso que o Movimento Ecos se dedica: trocar experiências educacionais e transmitir conhecimento, pois conhecer é essencial para agir.