Governador do Pará critica execução de obras de hidrelétricas


O Brasil aproveita um terço do potencial dos rios para a geração de energia, um dos principais fatores justificados pelo governo federal para investir na construção de usinas hidrelétricas na Amazônia. Contudo, a forma como a União tem conduzido a construção e a elaboração desses projetos no Pará desagrada ao governador do Estado, Simão Jatene (PSDB). Ele criticou a maneira "atropelada" com que os empreendimentos são executados na região, sem a devida consulta prévia à população local e baseados em estudos técnicos que, segundo o político, têm sido mal elaborados.

"Sobre ser a favor ou contra hidrelétrica, eu te diria que, da forma como historicamente se tem construído essas usinas no país, ninguém de bom senso pode ser a favor", afirmou ao Valor o governador Simão Jatene.

Nas águas do rio Xingu, o Pará abriu espaço em 2011 para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, prevista para ser a terceira maior usina do mundo. No rio Teles Pires, onde o Estado faz fronteira com o Mato Grosso, a região foi liberada para a construção de um complexo de cinco Hidrelétricas. No rio Tapajós, uma gigantesca área de floresta totalmente virgem foi reservada para a construção de mais duas barragens: Jatobá e São Luiz.

A lista de planos da União para o Pará inclui ainda o rio Jamanxin, afluente do Tapajós, onde se prevê a construção de mais três usinas. Há ainda estudos para projetos de grande porte no Araguaia e no Tocantins, tudo dentro de solo paraense.

Para Simão Jatene, todos esses empreendimentos têm uma característica comum: "Eles já nascem errados. É preciso rever a forma como essas grandes obras estão sendo conduzidas da Amazônia. Hoje se formula um projeto sem nenhuma aderência à questão social ou ambiental da região", criticou o governador.

"Contratam uma consultoria para produzir um estudo de impacto ambiental. No fim, essa consultoria apresenta um relatório supostamente fantástico, mas que, não raramente, está absolutamente descolado do projeto original. Então entra em ação uma coisa chamada condicionante para tentar tapar os buracos desse queijo suíço que foi apresentado", apontou o governante.

Jatene sugeriu a busca por alternativas para que esses projetos tenham mais capilaridade e, sobretudo, maior interação com as sociedades locais. Do contrário, segundo ele, eles vão continuar a ser tratados como entraves. O plano seria criar, antes do início da construção, um fundo com recursos para bancar essas ações, financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Belo Monte, cujas obras iniciaram há 14 meses, soma um mês de paralisação por conta de protestos de índios, trabalhadores e população local. A hidrelétrica Teles Pires já foi alvo de sequestro de funcionários da Funai e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com sucessivas paralisações no canteiro de obras. No rio Tapajós, onde as usinas ainda estão em fase de estudos de viabilidade, funcionários da Eletrobras já foram impedidos de entrar em comunidades ribeirinhas por conta da falta de esclarecimento e de informação à população local.

 

Outra opinião

Já o presidente do Conselho de Infraestrutura da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Rodolpho Tourinho, defendeu que as classes produtoras precisam ser mais firmes e unidas no apoio às usinas na Amazônia, para neutralizar as críticas.

"Estive recentemente em Belo Monte e não vi nenhuma restrição à usina por parte das comunidades locais. Ao contrário, todos lá estão muito satisfeitos com a obra, com o que ela já representa em empregos e em desenvolvimento para a região. Acho que devemos deixar claro o nosso apoio a esse e outros projetos", ressaltou Tourinho.

 

Em enquete realizada em maio, pelo EcoD, 65,2% dos internautas reprovaram os investimentos do governo em hidrelétricas na Amazônia. Segundo eles, os investimentos deveriam ser feitos em fontes alternativas. A segunda opção mais votada da enquete, com 29,1% da preferência, foi "Talvez. Desde que a exploração seja sustentável". Já 5,5% dos votantes defenderam a alternativa "Sim. Há uma demanda energética que justifica".

Fonte: Eco Desenvolvimento