Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o Sustentabilidade conversou com a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outras lideranças femininas para saber como é ser mulher e lutar por caminhos que levam a um desenvolvimento mais sustentável.
"Sustentabilidade não é maneira de fazer, é de ser. Se for apenas de fazer, fica algo mecânico, vira uma carga. Quando é algo que integra a trajetória de vida é mais efetivo e possível de concretizar", afirma Marina. Ela defende a necessidade de aproximar meio ambiente e sociedade pelo campo da educação e da consciência. "Claro que entre sensibilidade, consciência e ação tem um tempo."
Marina diz que esse é um desafio deste século não só para as mulheres, mas para o mundo todo. Ela ressalta, entretanto, o fato, no seu entender, de a mulher ter mais cultura de proximidade o que se reflete no meio ambiente. "Se eu me sinto próxima do rio, eu cuido dele", explica. Para ela, valores caracteristicamente femininos, como de acolhimento, convencimento em vez de disputa, e de coautoria são muito importantes nesse caminho. "A mulher faz mais com as pessoas do que para as pessoas."
Segundo Marina, uma das grandes mudanças sociais dos últimos tempos é que os homens aprenderam a cuidar da casa, dos filhos e do relacionamento. Enquanto isso, a mulher deixou de ficar enclausurada. "Saímos de uma cultura patriarcal. Deixamos de caminhar sob uma perna para caminhar sobre duas."
A ex-ministra diz que esse movimento traz maior integração entre o olhar feminino e o masculino e, consequentemente ajuda a mudar a mentalidade das pessoas frente a diversas questões, como as ambientais, e a repensar padrões.
Para a diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa e presidente do conselho do Índice de Sustentabilidade Empresarial, Sônia Favaretto, a mulher exerce múltiplas tarefas e a sutentabilidade é uma delas. "Nós temos competência para unir estudo, trabalho, casa filhos e sustentabilidade", afirma. Manter tudo isso, sem deixar de lado características femininas, como cuidado e delicadeza, é um desafio", diz Sônia.
Para Sônia, a sustentabilidade está integrada ao mundo dos negócios e leva as pessoas a pensar no que vão deixar para as gerações futuras, principalmente as mulheres. "A nova geração de mães, por exemplo, já tem essa mentalidade. Elas se preocupam com que mundo seus filhos vão ter e com a responsabilidade que têm sobre isso."
A presidente do conselho do Greenpeace Internacional, Ana Toni, destaca a importância da mulher no mundo corporativo. Ela afirma que a mulher tem papel importante para mudar a mentalidade de grandes organizações, pois pensa sempre no individual e também no coletivo. "Essa preocupação vem junto com a ambiental, não dá para dividir. Penso na minha família e, consequentemente, no meio ambiente."
O pensamento de Ana Toni é compartilhado pela presidente da Standard & Poor's, Regina Nunes. Regina afirma que ser sustentável é atingir os objetivos sem segregar o lado profissional do pessoal, priorizando o equilíbrio da sociedade. "Acredito em um mundo mais sustentável e trabalho para isso. Não por bondade, mas porque estou dentro da sociedade. Ser uma mulher sustentável é se preocupar com sua educação, a dos filhos, das pessoas no nosso entorno e ainda ser líder de uma empresa, visando sempre o melhor para mim e para todos."
A superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco, Denise Hills, entende que a mulher avançou em várias frentes da sociedade e ainda consegue manter seu papel fundamental no âmbito familiar. "Justamente por conseguir êxito em todas essas frentes, evoluindo constantemente, é que alcança o conceito de mulher sustentável, no desafio de todos os dias, buscando o desenvolvimento com um olhar humano, mais amplo e integrador, de longo prazo."
A diretora de Sustentabilidade do Walmart, Camila Valverde, acredita que ser sustentável e manter o equilíbrio são apenas algumas das inúmeras tarefas que as mulheres realizam no dia-a-dia. "O segredo é não se desesperar com a quantidade de responsabilidades e entender que, apesar do grande desafio, é preciso executar cada um desses papéis com bom senso."
Camila é líder de um projeto da Walmart que visa melhorar a imagem da mulher na sociedade, o Mulher 360. "É importante melhorar a imagem da mulher, promovendo maior participação dela em cargos de liderança em empresas e sua participação mais efetiva na sociedade."
No caso de Matilde Ramos, presidente da Cooperativa Recicla Ourinhos, no interior de São Paulo, o contato com o conceito de sustentabilidade ocorreu pela necessidade imediata. Catadora desde os cinco anos, trabalhava para ajudar a família e hoje é presidente da cooperativa e representante do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável. "Não sabia que era importante para o meio ambiente, só fui descobrir com o tempo", conta.
Com seu trabalho, Matilde sustenta os dois filhos e ajuda a minimizar os problemas de resíduos da sua cidade. A atividade de Matilde é motivo de orgulho dentro e fora de casa. No começo os filhos contaram na escola que a mãe era catadora de material reciclável e sofreram com as piadas dos colegas. A escola então chamou a catadora para dar uma palestra na sala dos filhos. "Agora todos querem uma mãe assim, que ajude a cuidar do meio ambiente."
Publicado em 08 de março de 2012
Fonte: Sustentabilidade – Terra