Transgênicos e o dever de informação


No Brasil, o plantio de transgênicos foi legalizado em 1998 com a liberação de soja tolerante a herbicidas pela CTNBio (Reuters)

Renan Tolentino Saraiva*

Inegável é o fato de que os avanços tecnológicos vêm contribuindo para o desenvolvimento de técnicas produtivas cada vez mais eficazes e melhor adaptadas à demanda. Estudos laboratoriais pioneiros demonstraram a viabilidade da utilização de genes com a finalidade de que uma espécie receptora passasse a manifestar traços singulares de uma espécie doadora distinta. Dentre os experimentos realizados, destaca-se a criação de muda transgênica de tabaco a partir da inclusão de genes que codificavam luciferase em seu DNA, fazendo com que a planta se tornasse fluorescente, fato documentado pela revista Science em 1986.

A partir de então, cientistas utilizaram a transgenia para desenvolver organismos vegetais dotados de melhoramentos genéticos, com o objetivo de aumentar a produtividade, potencializar a resistência a doenças, diminuindo perdas e prolongando prazos de validade. Entretanto, em razão da veloz introdução dos organismos geneticamente modificados no mercado de consumo, questionamentos foram suscitados no que diz respeito a possíveis impactos sociais e ambientais decorrentes de seu consumo, já que evidenciou-se nesses organismos potencial alergênico, maior resistência a antibióticos, probabilidade de produção de toxinas, maior concentração de metais pesados e redução de valores nutricionais.

No Brasil, o plantio de transgênicos foi legalizado em 1998 com a liberação de soja tolerante a herbicidas pela CTNBio. Desde então, o plantio de OGM intensificou-se e, em 2017, o país tornou-se o segundo que mais planta transgênicos no mundo, conforme pesquisa do ISAAA. Diversamente dos Estados Unidos, o Brasil optou pela regulamentação do plantio e comercialização de transgênicos, o que implicou na elaboração de legislação específica sob viés garantista, em especial a Lei de Biossegurança e o Código de Defesa do Consumidor.

No que concerne aos direitos consumeristas, destaca-se o dever de informação, obrigação legal imposta ao fornecedor de produtos ou serviços, que traz a necessidade de informar, adequada e claramente, acerca das características, composição, qualidade e atributos do produto, conforme prevê o art. 6º, III, CDC. Nessa mesma linha, a Lei de Biossegurança estipula, em seu art. 40, a obrigação de informar nos rótulos ou embalagens a presença de OGM se essa for superior a 1% da composição final do produto, o que originou o símbolo triangular amarelo com a letra “T”. O uso da simbologia facilita a imediata identificação pelos consumidores e representa dupla garantia ao resguardar conjuntamente interesses de consumidores e produtores.

Contudo, na contramão da atual principiologia, foi proposta a retirada do referido símbolo no Projeto de Lei Complementar 34/2015, havendo menção à presença de transgênicos em pequenas letras em locais pouco evidentes nos rótulos.

A supressão do símbolo de transgênicos nos produtos pode vir a reforçar ainda mais a reputação negativa frequentemente atribuída a esses produtos, podendo gerar efeitos ainda mais controversos. Portanto, pode-se inferir que a mitigação ao dever de informação, direito já consolidado, não se evidencia como a alternativa mais adequada no tocante aos OGM, abrindo-se espaço para debates e reflexões quanto à temática ora exposta.

*Graduando em Direito, na modalidade integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara. Atualmente membro do grupo de pesquisa CEBID – Centro de Estudos em Biodireito.

Mexicanos trocam material reciclável por alimentos


 Feira itinerante atrai duas mil pessoas por onde passa.

A Cidade do México encontrou uma alternativa eficiente para incentivar a reciclagem entre a população. As autoridades locais criaram um “Mercado do Escambo”, espaço em que é possível trocar resíduos recicláveis por produtos agrícolas. A feira de troca acontece em formato itinerante e atrai, mensalmente, duas mil pessoas. O sucesso da iniciativa é visível através do tamanho das filas, que permanecem durante toda a atividade.

Em declaração à agência AFP, Lilian Balcazar, funcionária do governo da capital mexicana, explicou que o intuito da proposta é totalmente educacional. “O objetivo do mercado é basicamente que as pessoas aprendam a valorizar seus resíduos e os separe. Não é resolver o problema do lixo da cidade que é muito complicado, pois a demanda é cada vez maior”, declarou.

        

A troca do material por alimentos permite que as pessoas enxerguem que os resíduos recicláveis podem ter valor agregado e ser transformados para o uso posterior. O Mercado do Escambo também ajuda a valorizar o produtor local, já que os alimentos distribuídos são orgânicos e da própria região.

A Cidade do México obriga a população a separar adequadamente seus resíduos desde 2011. A criação de uma lei se tornou necessária pelo fato de a metrópole ser considerada uma das mais poluídas do mundo durante os últimos 20 anos. Além dos trabalhos de conscientização, a cidade investiu no fechamento de um grande lixão. Hoje os resíduos secos são processados e os orgânicos, transformados em fertilizantes.

           

No último ano, o Mercado de Escambo auxiliou na coleta de 170 mil toneladas de resíduos recicláveis, que incluem diversos tipos de resíduos eletrônicos. A troca funciona da seguinte forma: o cidadão entrega seus resíduos recicláveis a um representante do Mercado e ele quantifica o material em moedas de troca, que podem ser usadas para comprar qualquer tipo de alimento disponível no espaço.

 

 Fonte: Ciclo Vivo

Imagem: A boa notícia do dia

 

Laísa Mangelli

Alimentos desperdiçados


Alimentos desperdiçados na América Latina e Caribe poderiam alimentar 37% das pessoas que passam fome em todo o mundo

Reduzir o desperdício na AL “chave” para desenvolvimento sustentável

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, com os alimentos perdidos na região da América Latina e Caribe seria possível alimentar 37% das pessoas que passam fome em todo o mundo.

 

feira
Foto: FAO/Olivier Asselin

 

Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova York.

Na América Latina são perdidas ou desperdiçadas até 348 mil toneladas de alimentos por dia, cifra que terá de ser reduzida à metade nos próximos 14 anos se a região quiser alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS.

O alerta foi feito nesta quarta-feira pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, FAO.

Metas

O terceiro boletim “Perdas e Desperdícios de Alimentos na América Latina e no Caribe” da agência da ONU destaca o ODS 12, centrado na necessidade de assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.

Este objetivo inclui a meta de reduzir à metade até 2030 o desperdício mundial de alimentos nos níveis de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento.

Necessidades Calóricas

Segundo a FAO, 36 milhões de pessoas na região poderiam cobrir suas necessidades calóricas apenas com alimentos perdidos nos pontos de venda diretos aos consumidores.

O número representaria pouco mais que a população do Peru e mais do que todas as pessoas que passam fome na região.

A FAO e outras agências parceiras estão atualmente elaborando o Índice Global de Perdas e Desperdícios de Alimentos, que será essencial para que todos os países quantifiquem suas perdas e definam estratégias para alcançar o ODS 12.

Mobilização

De acordo com a FAO, 127 milhões de toneladas de alimentos, ou 223 quilos por cada habitante da região, são a quantidade total de perdas e desperdícios da região.

Estes alimentos seriam suficientes para satisfazer as necessidades alimentícias de 300 milhões de pessoas, 37% de todas as pessoas que passam fome no mundo.

No entanto, a região está trabalhando para reduzir esse número. Com apoio da FAO, no passado governo estabeleceram uma Rede de Especialistas, uma Estratégia Regional e uma Aliança Regional para a Prevenção e Redução de Perdas e Desperdícios de Alimentos.

Luta Contra a Fome

Na Costa Rica e na República Dominicana foram criados Comitês Nacionais dedicados ao tema. Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai estão entre os países discutindo iniciativas semelhantes.

Ainda segundo a FAO, a luta contra o desperdício alimentar também é parte do principal acordo contra a fome na região, o Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe, Celac.

A iniciativa considera a eliminação das perdas e desperdícios como uma condição fundamental para acabar com a fome até 2025.

in EcoDebate, 31/03/2016

“65% a 75% do volume global de alimentos que nós consumimos têm origem na agricultura familiar”


Entrevista especial com Newton Narciso Gomes Junior

 

“Eu, francamente, sou um sujeito bípede e racional, e não como milho cru no cocho e tampouco mastigo soja”, diz o economista.

Os incentivos para o desenvolvimento da agricultura familiar brasileira não passam de um “estímulo de intenções”. A ponderação é de Newton Narciso Gomes Junior, professor da Universidade de Brasília – UnB, em entrevista concedida àIHU On-Line, pessoalmente.

Políticas de estímulo ao desenvolvimento da agricultura familiar, como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAAe a Lei Federal que determina que 30% dos alimentos servidos nas escolas devem provir da agricultura familiar, são reféns do sistema nacional de abastecimento de alimentos, já que o processo de comercialização é oligopolizado. “O que adianta dar um estímulo brutal para a produção de comida da agricultura familiar, se o agricultor não tiver onde colocar esses produtos? (…) As cadeias de supermercado dominam hoje 85% do volume global de alimentos comercializados, as grandes redes controlam mais de 50% e para entrar no supermercado é preciso ter uma escala que a agricultura familiar não tem”, argumenta.

Segundo ele “a agricultura familiar tem uma característica de diversificação da produção, e o supermercado não aceita a diversificação da produção; ele tem um conjunto de produtos que integra os elementos de interesse dele. (…) Você olha para o setor de frutas, legumes e verduras no supermercado e chega a provocar indignação. Por exemplo, em pleno período de inverno tem manga disponível, mas não é período de manga, aliás, você tem todos os produtos que quiser, no dia que quiser, e isso quebra a possibilidade do agricultor familiar, que trabalha com práticas tradicionais e sustentáveis”.

Na avaliação de Gomes Junior, apesar de a agricultura familiar ser “relevante do ponto de vista do potencial de produção de comida”, ela vem perdendo importância por conta da não revisão do sistema nacional de abastecimento. Entre as implicações, destaca, há um “formidável espetáculo de insegurança alimentar por inadequação da dieta”. Entretanto, ressalta, “a leitura política do governo é de que a questão da agricultura brasileira está resolvida na medida em que ela é decisiva para resolver os nossos problemas de déficits ou de balanço de pagamentos”. Para ele, somente a reforma agrária possibilitará a produção de “comida” para a população. “A minha posição sobre a reforma agrária é a seguinte: é prioridade, neste país, a produção de alimentos para a população, de sorte a garantir a nossa soberania alimentar não só pela autossuficiência, mas pelo direito de produzirmos o que entendemos ser razoável, para quem definimos que é importante e como definimos produzir isso da melhor forma possível. Nesse sentido, não tenho nenhum problema em defender que a reforma agrária deve enfrentar abertamente adesapropriação dos latifúndios, até porque esses latifúndios, que são tão importantes, se mantêm e se sustentam com o índice de produtividade de 1975, o que é uma ficção”, frisa.

Newton Narciso Gomes Junior é graduado em Economia pela Universidade de São Paulo – USP, especialista em Abastecimento Alimentar e Desenvolvimento Rural e doutor em Políticas Sociais pela UnB. Atualmente é professor do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília, do Programa de Pós-Graduação em Política Social da UnB e Coordenador do Diretório de Pesquisa Neads-Núcleo de Estudos Agrários, Desenvolvimento Social e Segurança Alimentar e Nutricional. É coordenador editorial da revista da Associação Brasileira de Reforma Agrária.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual é o potencial agrícola do Cerrado? Qual é o cenário da alimentação e da nutrição na região centro-oeste?

Newton Narciso Gomes Junior – Antes de responder à questão, vamos discutir o que é potencial agrícola, porque se nós formos tomar pela perspectiva do que normalmente se entende por potencial agrícola, que é produção de algo que as pessoas resolveram chamar de alimentos, eu francamente não conheço nenhuma pessoa que tenha, como alimento regular, a soja, o milho seco, o trigo e o arroz na palha. Sob a perspectiva da produção de commodities, oCerrado, Brasília e a região do Distrito Federal (DF) como um todo, se projeta como um produtor razoável, porque está crescendo a produção de soja e de milho.

Mas o DF é uma região importadora líquida de outros produtos, isto é, não tem uma produção daquilo que eu reputo como comida em volumes adequados para o atendimento das necessidades alimentares da população, ou seja, frutas, verduras e legumes.

Em uma cidade ou em uma região como o Distrito Federal, em que mais de 95% da população vive em um espaço urbano, a rapidez no hábito de comer se transformou quase que numa obrigação. Por conta disso, o padrão alimentar no DF, assim como no Brasil como um todo, foi corrompido e está assentado no consumo cada vez maior de produtos preparados, congelados e industrializados. Então, sob essa perspectiva, ao olhar o potencial agrícola do DF, é como se nós estivéssemos olhando para o nada. Se fôssemos olhar pela perspectiva da produção de alimentos, nós teríamos de pensar o potencial agrícola e o sistema de comercialização. Nesse sentido, há um potencial para produzir alimentos, só que não é esta a direção que está sendo dada lá, nem em lugar nenhum. Por isso, embora a região tenha um potencial agrícola para produção de comida, não é esse o objetivo, nem é esse o foco do desenvolvimento e dos interesses do governo; nem deste atual, nem dos anteriores.

Assim, os alimentos consumidos no DF vêm de todos os lugares: de Goiás, do Maranhão, do Pará, de São Paulo, dePernambuco. A lista é bastante grande. Então, o DF, nesse sentido, é um espaço fortemente dependente da produção externa; ele é um exportador de commodities.

 

"Não conheço nenhuma pessoa que tenha, como alimento regular, a soja, o milho seco, trigo e arroz na palha"

IHU On-Line – Como o senhor vê, no Brasil, o avanço do agronegócio e as tentativas de incentivo à agricultura familiar? O que as políticas públicas do Estado brasileiro demonstram em relação a esses campos?

 

Newton Narciso Gomes Junior – Existe um conjunto expressivo de ações de políticas públicas no sentido de desenvolver a agricultura familiar. Vou citar duas que me parecem as mais promissoras: o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e a Lei Federal que determinou que 30% do volume global dos alimentos servidos para a alimentação escolar devem provir da agricultura familiar. Esses são estímulos para a agricultura familiar, mas trata-se de um estímulo de intenções, porque não adianta nada — estou tratando do campo das compras institucionais —, do ponto de vista da produção agrícola, plantar para o mercado institucional.

Não há nenhuma política pública, nem na parte central do Estado, nem nas instâncias subnacionais, ou seja, governos estaduais e municipais, que reveja os marcos do sistema de abastecimento. Então, de que adianta dar um estímulo brutal para a produção de comida da agricultura familiar, se o agricultor não tiver onde colocar esses produtos? Por que ele não tem espaço? Porque o sistema de comercialização é fortemente oligopolizado, dominado pelos supermercados. As cadeias de supermercado dominam hoje 85% do volume global de alimentos comercializados, as grandes redes controlam mais de 50%, e para entrar no supermercado é preciso ter uma escala que a agricultura familiar não tem.

Manifestação de intenção

Além disso, a agricultura familiar tem uma característica de diversificação da produção, e o supermercado não aceita a diversificação da produção; ele tem um conjunto de produtos que integra os elementos de interesse dele. Por isso, não encontramos mais no supermercado a diversidade de produtos que se encontrava na feira. Você olha para o setor de frutas, legumes e verduras no supermercado e chega a provocar indignação. Por exemplo, em pleno período de inverno tem manga disponível, mas não é período de manga, aliás, você tem todos os produtos que quiser, no dia que quiser, e isso quebra a possibilidade do agricultor familiar, que trabalha com práticas tradicionais e sustentáveis. Para manter uma produção dessas, ele tem de lidar com o uso abusivo de veneno. Então, sob essa perspectiva, a política do governo, de um lado, pode estar estimulando e protegendo a oferta da agricultura familiar, contudo, quando nós aproximamos a lente e enxergamos com mais detalhe, observamos que é apenas uma manifestação de intenção.

Então, sob a perspectiva do governo, embora haja políticas de estímulo à produção, não há nenhuma iniciativa no sentido de rever os marcos do sistema de abastecimento alimentar nacional, e com isso praticamente se anulam as vantagens que o PAA e o programa de alimentação escolar possam representar, ou o mercado institucional possa representar para a agricultura familiar produtora de comida.

"Ao olhar o potencial agrícola do DF, é como se nós estivéssemos olhando para o nada"

IHU On-Line – Os ambientalistas dizem que grande parte do território do Cerrado está destinada à produção de grande escala. Qual é atual situação do bioma em relação à produção de alimento?

Newton Narciso Gomes Junior – O Cerrado tem um sistema de produção que emprega, em uma região de baixa quantidade de água, o uso de técnicas que estão superadas, como é o caso do pivô central. Se você passa por regiões de Brasília onde há soja, milho e batata plantados, você se choca com os pivôs centrais, porque eles são desperdiçadores de água. A simetria entre o produto saudável, o preço do produto saudável e a renda disponível para acessá-lo faz com que a população acesse os produtos industrializados, semielaborados e processados, que são muito mais baratos.

Comida x produtos

A última publicação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Alimentar mostra que, tanto para oBrasil quanto para Brasília, o nível de segurança alimentar é acima de 80%. Entretanto, qual é a definição de segurança alimentar da PNAD? É a de que as pessoas têm acesso a alimentos. A parte principal de insegurança alimentar é a insegurança alimentar leve, que é a possibilidade de, em algum momento, por alguma razão, ter de substituir eventualmente algum tipo de produto, ou seja, ao invés de sacrificar a quantidade, sacrificar a qualidade. Mas quando você pega a Pesquisa de Orçamento Familiar – POF, no suplemento antropometria, e descobre que 51% da população brasileira enfrenta problemas ou com sobrepeso ou com obesidade, você descobre que aquela segurança alimentar apontada pela PNAD se refere apenas ao ponto de vista do acesso e, portanto, o discurso político é falso, porque não se melhorou o problema da fome. Pelo contrário, se piorou a segurança alimentar, porque agora existem pessoas que comem “comida” que não é comida, ou seja, substâncias alimentares que são qualquer coisa, menos comida. Essas substâncias só serão comida se você conseguir me mostrar que existe, na natureza, batata sabor picanha, biscoito sabor pizza. Se você me falar que conhece um pé que dá uma fruta com sabor bife, aí retiro tudo o que eu disse.

Qualquer pessoa que cozinhe — e esse é meu caso — é incapaz de produzir coisas tão padronizadas; eu nunca vi ninguém conseguir batatas onduladas “com risquinho”, todas do mesmo tamanho e da mesma cor. Isso não existe na natureza. Como nós podemos pensar em segurança alimentar diante disso? O que temos é o formidável espetáculo de insegurança alimentar por inadequação da dieta. Quando as pessoas falam que o problema é de acesso, eu digo que não é de acesso, porque o acesso regular e permanente está equacionado.

A parte que é miserável na sociedade é representada por um conjunto de pessoas que integram o que eu chamo do proletariado, o desempregado estrutural. Quando o sistema não tem mais o que fazer com essa pessoa, ela passa a ser objeto da assistência. São mais de 800 milhões de pessoas no mundo que vivem em uma situação de fome, de absoluta desproteção social, que é resultante de um sistema que é naturalmente excludente; o modo de produção capitalista exclui as pessoas, é da natureza desse modo de produção capitalista.

 

"Essas substâncias só serão comida se você conseguir me mostrar que existe, na natureza, batata sabor picanha, biscoito sabor pizza"

IHU On-Line – Quando o problema da insegurança alimentar está relacionado à falta de acesso, há um problema econômico?

 

Newton Narciso Gomes Junior – No caso dos miseráveis, sim. Essas são pessoas que foram descartadas pelo sistema porque o conhecimento, a capacidade de trabalho delas já não interessa mais. Em relação a isso, sou radical e digo o seguinte: não há uma solução para a problemática das necessidades humanas básicas, tais como saúde plena, capacidade de agência, ou seja, capacidade de agir na realidade, e autonomia crítica, quer dizer, capacidade de interpretar a realidade, compará-la com seus sonhos, e alterá-la pela agência de modo a aproximá-la do seu sonho. Não há nenhuma perspectiva do ponto de vista da satisfação dessas necessidades por intermédio das necessidades intermediárias, como comida, água, meio ambiente, etc., sob a perspectiva de um modo de produção que é notadamente concentrador de renda, que é excludente de pessoas e que persegue algo como a síndrome das Filhas de Danaides, que têm de encher um tonel que nunca enche. Essa é a sina do capital; ele tem de produzir lucro incessantemente e, para produzi-lo, vai criando cada vez mais fórmulas que expulsem pessoas da sua capacidade de consumo. O resultado disso é milhões de pessoas lançadas na mais absoluta miséria. E aqui não se trata do fato de as pessoas serem só miseráveis, mas do fato de não terem como não ser. A superação dessa condição e a garantia de acesso para essas pessoas só se dá pela transferência direta de renda e por garantia de que elas possam ter alimentos, se não comprado, dado.

Projeto Savana

Na África, por exemplo, o projeto Savana, que vai atacar o Cerrado Africano, é criminoso. Ele vai resolver problemas de renda das pessoas? Sim, vai resolver. As pessoas vão ter emprego? Serão exploradas. E vai resolver o problema alimentar? Não. Vai destruir a história das pessoas que vivem há séculos no mesmo pedacinho de terra. A tendência é que elas desapareçam como já aconteceu no Norte de Moçambique com a mineração.

IHU On-Line – Como garantir a segurança alimentar nesse contexto?

Newton Narciso Gomes Junior – A segurança alimentar deve ser tomada pela perspectiva da mudança radical ou da disputa, pelo menos, do imaginário social. Na Guiné-Bissau, estão recuperando a qualidade e o compromisso que as pessoas têm com sua própria história.

Quando se recupera o compromisso, se ganha um novo sentido na vida. O que estou querendo dizer é que a insegurança alimentar contempla também a destruição de padrões, de história, de cultura dos povos. Tudo isso foi substituído por uma noção pasteurizada de que o que importa é comer, então qualquer coisa que eu coma e que me satisfaça, vale.

Insegurança alimentar

Se você considera que, além disso, os tempos das nossas vidas se encurtaram muito, as pessoas cada vez mais comem sozinhas, cabisbaixas, mexendo no telefone ou no relógio, porque têm de comer depressa para pagar conta no banco, e se você acrescentar isso à vida das mulheres, aí a coisa se complica, porque essas mulheres, além de estarem sujeitas a esse tipo de coisa, quando chegam em casa a jornada de trabalho não está esgotada: elas têm de cuidar da casa, saber da vida dos filhos, preparar as coisas do dia seguinte e além de tudo prover a casa de alimento. Então, note, sob a perspectiva de segurança alimentar, dizer que nós vivemos com segurança alimentar é uma bobagem. Nós vivemos uma insegurança alimentar, e cada vez mais isso tende a se agravar, porque aumenta o número de pessoas que tomam suas refeições fora do domicílio. Tomar refeições fora do domicílio não significa compartilhar, significa comer rapidamente comida por quilo. Eu não como comida por quilo; como prato feito, e se não tiver prato feito, não como. Eu tenho uma resistência não por arrogância, frescura, mas prefiro comer arroz, feijão, carne, salada e ovo frito. Isso para mim é um prato feito que compõe o que é a ideia da comida brasileira. Na comida por quilo você come leitoa, que é comida de dia de Natal, bacalhau, que é comida da Semana Santa, frango com macarrão, que é comida de domingo. Tem comidas que são do dia de domingo e eu não posso comer na segunda-feira.

"Direito, ou você tem ou você não tem. Não existe “meio” direito, não existe fase para você conquistá-lo"

IHU On-Line – Qual é o peso da agricultura familiar no Brasil?

Newton Narciso Gomes Junior – De acordo com uma pesquisa daFAO/Incra, 65% a 75% do volume global de alimentos que nós consumimos têm origem na agricultura familiar. Se nós considerarmos algo em torno de quatro milhões e meio de propriedades que vivem na agricultura familiar, e olharmos o que é o consumo nacional dos produtos que têm como referência a agricultura familiar, isso vai dar em torno de alguns gramas por propriedade/dia.

Então, a primeira questão é: quem está produzindo? Certamente não é o pessoal do semiárido; ou seja, tem uma produção concentrada. Depois, você vai investigar quais são os alimentos produzidos — porque nós não consumimos a quantidade de frutas, legumes e verduras recomendada pela organização mundial de saúde por dia. Nesse sentido, a agricultura familiar no Brasil, quando definida como produtora de comida, é pouco relevante se confrontada com o agronegócio, porque o agronegócio não é só política de exportação. As pessoas às vezes se chocam com essa ideia e dizem que estou desqualificando a agricultura.

Eu não nego a importância dela, ao contrário, eu a considero fundamental, mas gosto de olhar o dia a dia das pessoas, o comportamento e o carrinho de compras delas no supermercado, os quais têm dois pés de alface, tomate, banana, abobrinha, pimentão e o resto é arroz, feijão, sardinha, macarrão, produto congelado, todas as coisas que são semiprontas e que não são produção da agricultura familiar.

Agricultura familiar e a política de abastecimento

Então, a agricultura familiar é relevante do ponto de vista do potencial de produção de comida, mas essa relevância vem perdendo importância na medida em que não há uma política pública de revisão do sistema nacional de abastecimento. Enquanto não tivermos uma séria revisão do sistema nacional de abastecimento, cada vez mais vamos consumir uma pauta mais estreita de produtos, e uma das características importantes da agricultura familiar é o fato de ela produzir produtos diversificados, que fazem parte das culturas alimentares diferentes, respeitando as realidades regionais; portanto, o que se consome no Rio Grande do Sul é diferente do que se consome noAmazonas, etc.

Padronização

A padronização da alimentação só é possível por intermédio da industrialização de alimentos. A agricultura familiar poderia ter um papel decisivo na reversão do curso da transição alimentar que está associado aos agravos de saúde relacionados a sobrepeso, diabetes, problemas coronários, hepáticos, etc. Mas hoje ela não conta com isso porque não tem apoio: as políticas de extensão são frágeis, as políticas de financiamento são curtas e os espaços de comercialização que estimulariam essas ofertas são ruins ou são oligopolizados, portanto, desfavoráveis àagricultura familiar. Ela não é uma parte folclórica; é parte da produção daquilo que chamo de “comida” e isso deve estar acima da produção dessa coisa genérica que tratam como alimento, mas que na verdade são produtos que têm uma base de substâncias alimentares que não significam nada.

Nós vivemos ao contrário. A nossa produção agrícola, que tanto pesa no mercado internacional, contribui para a produção de substâncias alimentares. O Brasil é um país que contribui para o rebaixamento do custo da redução da força de trabalho pela violação do padrão alimentar tradicional. Nós produzimos coisas que vão dar origem a substâncias alimentares que não têm nada a ver com a identidade das pessoas. Daqui a pouco o que você comer noAlasca, você estará comendo no Rio Grande do Sul.

IHU On-Line – Considerando a produção de comida, a reforma agrária ainda é necessária e há possibilidade de fazê-la?

Newton Narciso Gomes Junior – Eu não sou do PT, sou militante do Partido Comunista Brasileiro, o velho PCB, e continuo no mesmo lugar em que sempre estive. Não tenho nenhuma convergência com essa ideia de que a reforma agrária é algo superado; não discuto uma reforma agrária popularReforma agrária é reforma agrária e o inimigo está muito claro: o adversário principal é representado pelo latifúndio, seja ele produtivo ou improdutivo, não interessa. O problema é: produzindo o que para quem?

Não posso aceitar que esteja resolvido e equacionado o problema agrário brasileiro quando a concentração de terra é a mesma de 1872. Não posso aceitar que a questão agrária brasileira esteja resolvida quando a concentração de poder político daqueles que defendem essa estrutura concentrada, aumenta. Não falo somente da bancada ruralista, mas de um conjunto de parlamentares que defendem essa visão de que o Brasil deve ser um grande exportador de alimentos. Eu, francamente, sou um sujeito bípede e racional, e não como milho cru no cocho e tampouco mastigo soja.

Quanto mais mantivermos milhares de pessoas apartadas da condição de produzir comida no campo, quanto mais as mantivermos fora da produção daquilo que é essencial para a construção da soberania alimentar, que é o que produzir, como produzir e para quem produzir, maior será o problema de injustiça social e insegurança alimentar.

"A noção de igualdade não é a supressão da diferença, mas a supressão do uso da diferença para um subordinar o outro"

“Não existe meio direito”

Os números do governo Dilma de reforma agrária são pífios não porque não há mais o que fazer, mas simplesmente porque não há nenhum interesse político em reverter essa história. A leitura política do governo é de que a questão da agricultura brasileira está resolvida na medida em que ela é decisiva para resolver os nossos problemas de déficits ou de balanço de pagamentos.

Então, se ignoro essas questões, não posso falar em fruição do direito humano. Não é à toa que as pessoas, quando falam do direito humano à alimentação, dizem: satisfação gradual. Direito, ou você tem ou você não tem. Não existe “meio” direito, não existe fase para você conquistá-lo, não tem isso de ou você anda ou você não anda, ou você come ou você não come. Não tem essa coisa de “eu como, mas como mal”; se você come mal quer dizer que você não come. Não é o quanto, mas o quê. Então, sem a reforma agrária nós jamais vamos conseguir reverter a concentração do poder político, que está na mão de elites nacionais e transnacionais que controlam o destino de uma nação.

   

IHU On-Line- Qual a sua proposta de reforma agrária e quais são os problemas específicos da reforma popular?

Newton Narciso Gomes Junior – Não vou entrar em um debate sobre as minhas divergências sobre a reforma agrária popular, porque o MST, que de longe é a principal organização social neste país — uma organização que reúne 14 mil pessoas em Brasília tem um lastro e tem um cacife para falar como poucos. O João Pedro Stedile é um formulador respeitável, é um sujeito sério, comprometido com aquilo que faz, e o MST chegou à conclusão de que areforma agrária clássica, dada nos anos 1960-70, está superada e hoje o inimigo seria o capital financeiro. Mas eu acho que o inimigo entendido como o domínio do capital financeiro sobre o campo precisa de uma base física para se realizar, e a base física continua sendo a concentração da terra.

A minha posição sobre a reforma agrária é a seguinte: é prioridade, neste país, a produção de alimentos para a população, de sorte a garantir a nossa soberania alimentar não só pela autossuficiência, mas pelo direito de produzirmos o que entendemos ser razoável, para quem definimos que é importante e como definimos produzir isso da melhor forma possível.

Nesse sentido, não tenho nenhum problema em defender que a reforma agrária deve enfrentar abertamente adesapropriação dos latifúndios, até porque esse latifúndios, que são tão importantes, se mantêm e se sustentam com o índice de produtividade de 1975, o que é uma ficção. Portanto, o uso social dessa terra é mais do que violado porque estão usando a terra e produzindo menos do que poderiam.

Desconcentração do poder econômico

reforma agrária desconcentra o poder econômico e o poder político, que são dois elementos que sustentam a nossa subordinação, não só a subordinação do país, ou seja, a nossa dependência em relação aos países centrais, mas também a nossa subordinação do ponto de vista interno, nossa subordinação política aos desígnios de uma elite que não tem nenhum compromisso com a ideia de desenvolvimento que tem como primeiro elemento a pessoa, o ser humano. Obviamente essa posição de reforma agrária não é uma posição muito simpática, porque não se mostra viável nos marcos do modo de produção capitalista. Defendo essa reforma agrária radical porque defendo, junto com ela, a destruição do modo de produção capitalista. Sou um defensor convicto de que somente o comunismo pode emancipar as pessoas. Fora do comunismo não há possibilidade de emancipação humana.

IHU On-Line – E que futuro o senhor vislumbra com o comunismo?

Newton Narciso Gomes Junior – O futuro é uma abstração. Mas eu posso sintetizar para você o seguinte: a ideia que eu tenho do modo de uma vida sobre o comunismo é onde todas as diferenças são respeitadas, sem que essas diferenças sejam utilizadas para uns subordinarem os outros. Essa é minha leitura do comunismo: a noção de igualdade não é a supressão da diferença, mas a supressão do uso da diferença para um subordinar o outro.

IHU On-Line – Mas dada a condição humana, isso é possível?

Newton Narciso Gomes Junior – Eu acho. O Lenin tem uma frase que diz o seguinte: “Sonhos, acreditem neles; é preciso sonhar, mas com a condição de acreditar nos seus sonhos e comparar escrupulosamente o seu sonho com a realidade, e trabalhar essa realidade de modo aproximá-la do sonho”. Não há um relógio, um cronômetro que me diga que a revolução é amanhã. Estou nessa militância, assim como outros milhares de pessoas, desde os anos 1970 e todos os dias eu me movo de alguma maneira nessa direção. Passo às vezes por ridículo, por jurássico, por delirante e isso não é um problema. Eu não sou um sujeito de fé, eu me movo por convicções. Então, quando estou discutindo questão agrária, segurança alimentar, não o faço pelo caminho mais fácil, prefiro o caminho mais próximo daquilo que entendo como as “minhas verdades”, as verdades que me movem. Um povo que resgata a sua história, que resgata a sua cultura, que tem capacidade de agir a partir da leitura crítica da realidade, que confronta a realidade com seu sonho, ainda que seu sonho seja algo privado, algo personalista, individualista, é melhor do que um povo que vive como uma boiada, se agarrando em símbolos para ressignificar a sua própria vida, que perde a noção de classe, que aceita, por exemplo, essa ideia de nova classe média, que aceita o desaparecimento do debate sobre a pobreza e fica só olhando para a miséria.

Não se identificar mais como classe, como explorado, mas apenas como uma classe média ascendente, faz com que as pessoas queiram ir para frente, mas com isso elas perdem a sua identidade, deixam de ser “a proletária”, “a explorada” e passam a ser igual. Só que isso é uma igualdade de ficção. O capital, por exemplo, disputou e fez com que as pessoas aceitassem, tranquilamente, que é bacana comer lasanha congelada, salgadinho cuja composição não tem nada com gosto de queijo, ou biscoito com gosto de pizza. E as pessoas comem, não comem? O imaginário social foi conquistado. As pessoas hoje se contentam mesmo sem ter, se contentam em serem vistas como iguais a partir dos símbolos que importam. Houve uma ressignificação dos símbolos e os telefones falam mais da pessoa do que a própria pessoa.

Fotos: (1) portalmaquinasagricolas (2) www.capitalfm.com.br

Fonte: IHU – Unisinos

Clima extremo, preços altos – Comer em 2030 pode ficar caro


          

Secas e enchentes devem duplicar os preços de alimentos básicos, como arroz, milho e trigo, prevê um novo estudo da ONG britânica Oxfam; países pobres serão os mais afetados.

Se nada for feito para reduzir as emissões dos gases efeito estufa e mitigar as mudanças climáticas, os preços de alimentos básicos no mercado internacional podem dobrar nos próximos 20 anos, advertiu a ONG britânica Oxfam. Em um novo estudo, intitulado Clima extremo, preços extremos: o custo de alimentar um mundo em aquecimento*, a organização não governamental sustenta que os efeitos de aquecimento global sobre a produção agrícola é "subestimada" pelos governos mundiais, que ignoram as consequências nefastas de fenômenos rigorosos, como estiagens e enchentes, sobre o preço das commodities que estão na base da indústria alimentícia, caso do milho, trigo e arroz.

"Como demonstra a seca que castiga os EUA, eventos climáticos extremos são traduzidos em preços de alimentos extremamente altos", diz o texto. A estiagem severa afetou a produção das lavouras do país, maior produtor de grãos do mundo, que levou ao aumento de 10% no preço global dos alimentos, segundo a FAO. A situação é de alerta. Recentemente, a agência para alimentação da ONU, alertou que os líderes globais precisam realizar uma rápida ação coordenada para garantir que os choques de preços não se transformem em uma catástrofe que afete dezenas de milhares de pessoas nos próximos meses.

No longo prazo, a situação também preocupa. Segundo a Oxfam, a escalada dos preços dos alimentos é uma questão de vida e morte para as populações que vivem em países em desenvolvimento e que gastam até 75% de sua renda para conseguir comer. "Quando tenho fome, faço um caldo para mim e para meus filhos. Se não for possível, bebemos água e vamos dormir", disse à ONG, Adjitti Mahamat, um morador de Chade, país africano onde 3,6 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar devido à pobreza crônica e à seca, que, em cinco anos, fez o preço dos alimentos aumentarem de 30 a 60%. Para os mais vulneráveis, os aumentos extremos e repentinos nos preços podem ser mais devastadores do que a elevação gradual no longo prazo, o que lhes daria mais tempo e opções para se adaptar, salienta o estudo.

"E SE…"
A pesquisa da Oxfam desenvolve várias hipóteses sobre o impacto de eventos climáticos extremos em 2030 em cada uma das principais regiões exportadoras de arroz, milho e trigo no mundo. Confira a seguir algumas hipóteses levantadas

 

1 – Crise na América do Norte
Uma seca na América do Norte, semelhante em magnitude à seca histórica de 1988, a pior já registrada no país até agora, poderia aumentar os preços de exportação de milho no mercado mundial em 140% e do trigo em 33% até 2030. "Estima-se que em 20 anos, 57% das exportações de trigo mundial e 44% do milho virão da América do Norte. Uma crise desta magnitude no ‘celeiro do mundo’ poderia prejudicar países em desenvolvimento", diz o estudo.
Segundo as projeções, os preços do milho e do trigo no mercado interno da China poderiam aumentar, respectivamente, 76% e 55%. Já na América Central e do Sul, os mesmo alimentos poderiam subir 80% e 55%.

 

2 – Crise na África
De acordo com a Oxfam, em 2030, mais de 95% do milho e outros grãos consumidos na África sub-saariana deverão ter como origem a própria região. "É provável que as crises locais causadas por eventos climáticos extremos podem ter efeitos devastadores sobre a produção, os preços e, em última instância, os níveis de consumo", diz o estudo. A ocorrência de uma grave seca na região, com uma magnitude semelhante a que ocorreu em 1992 (que levou a pior safra de milho), aumentaria o preço médio de consumo do milho e outros cereais secundários em 50%.

 

3 – Crise na Índia e Sudeste Asiático
A ocorrência simultânea de colheitas ruins na Índia e no Sudeste Asiático poderia ter um impacto grande no processamento de arroz, aumentando o seu preço médio de exportação no mercado mundial em 25% no ano de 2030. Para estimar essa quedas na produção, a Oxfam considerou como base a seca extrema que atingiu toda a Índia em 1979 e as inundações que castigaram em massa o Sudeste asiático em 1980. De acordo com o modelo, uma crise simultânea na Índia e no Sudeste Asiático em daqui a 20 anos poderia significar um aumento de 43% no preço do arroz no mercado nacional da Nigéria, atualmente o país mais populoso da África.

Fortificando o sistema
 

Ainda de acordo com a ONG, essa pesquisa representa uma tentativa de analisar como eventos climáticos extremos podem afetar os preços dos alimentos, se medidas urgentes não forem tomadas para reduzir as emissões. No entanto, ressalva a Oxfam, nenhum dos cenários apresentados é inevitável. "Está em nossas mãos a possibilidade de mudar e fortalecer o nosso sistema alimentar, especialmente para consumidores e produtores mais pobres".

Reverter décadas de falta de investimento na agricultura sustentável e resiliente nos países em desenvolvimento pode aumentar a produtividade regional e ajudar a garantir alimentos ao aumento da população. Outra frente de ação, segundo o estudo, é preparar as comunidades mais carentes a lidar com desastres extremos, a fim de reduzir a vulnerabilidade das pessoas e desenvolver a sua resistência a esses eventos. E, caso o pior aconteça, "esforços mundiais e regionais coordenados poderiam ajudar os mais vulneráveis a lidar com crises recorrentes".

Fonte: exame.com

Laísa Mangelli 

Cientistas afirmam que oceanos poderiam oferecer mais alimentos do que já oferecem


O cultivo de alimentos oceânicos geralmente tem um impacto menor no clima do que a agricultura terrestre (Pixabay)

Os oceanos poderiam oferecer mais de seis vezes a quantidade de alimentos que disponibilizam hoje com melhor gerenciamento de recursos e mais inovações tecnológicas, disseram cientistas nesta terça-feira, acrescentando que incentivar o cultivo de mariscos e ostras poderia ser especialmente benéfico.

Os pesquisadores estimam que os oceanos poderiam gerar mais de dois terços da proteína animal que os especialistas em alimentação da ONU preveem que será necessária para alimentar o mundo no futuro. Os peixes atualmente representam cerca de um quinto da proteína animal consumida pelos seres humanos.

O cultivo de alimentos oceânicos geralmente tem um impacto menor no clima do que a agricultura terrestre, e não é limitado pelas mesmas restrições de terra e água, disseram os cientistas.

Os alimentos produzidos no mar também são altamente nutritivos, contendo vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais, afirmaram os pesquisadores no estudo que será publicado em um simpósio de pesca sediado pela Organização da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) em Roma, na terça-feira.

“Os oceanos tem um excelente e inexplorado potencial para ajudar a alimentar o mundo nas próximas décadas, e esses recursos podem ser aproveitados com um impacto ambiental menor do que outras fontes de alimentos”, disse o principal autor do relatório, Christopher Costello.

“Se fizermos mudanças amplas e rápidas na maneira em que administramos as indústrias baseadas nos oceanos enquanto nutrimos a saúde de seus ecossistemas, podemos incentivar nossa segurança alimentar a longo prazo, garantindo a subsistência de milhões de pessoas”.

Emma Batha / Reuters

Nove dicas para reduzir o desperdício de alimentos


 

Evite o desperdício de alimentos no seu dia a dia. Confira dicas simples

 

 

Estima-se que um terço de toda a comida produzida no mundo é jogada fora. Isso significa um bilhão de toneladas de alimentos – quantidade quatro vezes maior que a necessária para acabar com a fome no planeta. Sem levar em conta as sobras de comida que poderiam ser reaproveitadas, as más condições de logística, transporte e armazenamento também contribuem para o desperdício. 

 

Qual o preço do desperdício de alimentos?

Alimentos custam caro para serem produzidos e distribuídos. Em geral, é preciso que haja desmatamento para o cultivamento de uma área, uso de fertilizantes à base de nitrogênio (que são bem danosos ao meio ambiente), e utilização de combustíveis fósseis em máquinas agrárias e no transporte, além do alto consumo de água doce para irrigação.

 

Obviamente, temos que nos alimentar para nos mantermos vivos, mas podemos reduzir o desperdício dos alimentos e beneficiar outras pessoas (que passam fome) e o meio ambiente (diminuindo o teor de lixo orgânico em aterros sanitários e lixões).

 

Veja neste guia nove dicas simples para não desperdiçar comida.

 

1. Lista de mercado

Fazer uma lista do que falta para consumo na sua casa contribui de uma forma simples para a redução do resíduo de alimentos. Além de auxiliar na quantidade correta de comprar o alimento, a prática reduz o gasto financeiro desnecessário.

 

2. Faça mercado com freqüência

Faça compras com mais frequência – essa forma pode ajudar você a adquirir apenas o necessário, evitando o estoque de alimentos que acabam se deteriorando.

 

3. Resto de ontem

Embora essa dica seja um tanto rejeitada, ela é ótima para reaproveitar as sobras de comidas deixadas na refeição anterior, evitando o desperdício e podendo se transformar até em um prato diferente (confira aqui).

 

4. Potes transparentes

Sobrou comida? Na hora de guardá-la, escolha potes transparentes. Essa atitude simples permite que você se lembre que determinado alimento está guardado. Caso contrário, você pode acabar se esquecendo e o alimento apodrecer.

 

5. Congelados

Certos alimentos não suportam muito bem a temperatura ambiente ou o calor. Em vez de perdê-los, por que não congelá-los e utilizá-los quando for conveniente para uma receita específica? Cliquei aqui e veja o período que certos alimentos duram enquanto congelados.

 

6. Faça suco ou sopa

Comprou mais frutas ou legumes do que deveria? Renove o cardápio e faça sucos e sopas – são nutritivos e alimentam. Confira aqui algumas dicas.

 

7. Ajude quem passa fome

Antes de jogar a comida fora, pare e pense que tem uma pessoa que está passando fome. Se tem algum alimento sobrando e que esteja apropriado para consumo, passe adiante para alguém que não tem o que comer.

 

8. Reduza a quantidade de lixo orgânico

 

Reduza a quantidade de restos de comida jogada no lixo. Faça sua própria compostagem caseira e utilize o húmus resultante do processo em seu jardim. Assim, você contribui para a diminuição de lixo orgânico que vai para aterros, gerando, posteriormente, gases que contribuem para a poluição da atmosfera.

 

9. Empregue a economia

Quem nunca foi a um restaurante e ficou hipnotizado pela grande quantidade de comidas deliciosas? Na gíria popular, "o olho fica maior que a barriga". Mas isso é um problema, pois acabamos deixando grandes quantidades de comida no prato, que vão parar no lixo. Pense duas vezes na hora de encher o prato de comida. Você economizará financeiramente e evitará desperdícios.

 

Fonte: ECycle

Especialização – Gestão da Qualidade e Controle Higiênico-Sanitário de Alimentos


          

Sobre a Especialização: O Curso de Pós-Graduação: Gestão da Qualidade e Controle Higiênico-Sanitário de Alimentos terá início a partir do mês de março de 2014, na sede do Instituto Racine, em São Paulo – SP

 

Objetivo: Formar profissionais capazes de compreender a relação dos sistemas de gestão da qualidade com a segurança de alimentos, bem como com o controle higiênico-sanitário, sendo capacitados a aplicar todos os elementos relacionados a estes sistemas, inclusive a liderança pessoal e a organizacional

 

Público alvo: Nutricionistas e outros profissionais (engenheiros de alimentos, veterinários, administradores, biólogos, químicos, farmacêuticos, gastrônomos, economistas domésticos) que atuam em Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) ou Unidades Produtoras de Refeições (UPR)

Carga horária: 460 horas

Conteúdo Programático:

  • Tendências e Desafios em UAN e UPR;
  • Liderança, Estratégia e Gestão;
  • Sistemas da Qualidade;
  • Controle e Garantia da Qualidade;
  • Ferramentas e Instrumentos da Qualidade;
  • Gerenciamento de Materiais, Custos e Suprimentos;
  • Gestão de Pessoas;
  • Ética e Responsabilidade Social;
  • Metodologia da Pesquisa Científica;
  • Microbiologia e Parasitologia dos Alimentos;
  • Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA);
  • Matérias-Primas de Origem Vegetal;
  • Matérias-Primas de Origem Animal;
  • Legislação Sanitária de Alimentos;
  • Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Procedimentos Operacionais Padronizados (POP);
  • Sistemas de APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle)

Inscrições: As inscrições devem ser realizadas através do website oficial do curso

Contato: Os interessados em obter mais informações devem entrar em contato com a organização do curso através do e-mail: cursos@racine.com.br Ou telefone: (11) 3670-3499

Fonte: AgroEvento

Os 12 alimentos mais vulneráveis à falta de água no mundo


TENSÃO À MESA
Todo ser vivo precisa de duas coisas para sobreviver: água e alimento. Mas nem sempre esses dois recursos vivem em harmonia no mundo. E é aí que mora o perigo. Um estudo feito pelo instituto americano World Ressource Initiative (WRI) indica que um quarto da agricultura mundial está em áreas que sofrem um forte estresse hídrico, ou seja, onde a demanda de água supera, em muito, a oferta.

A análise destaca a tensão entre a disponibilidade de água e a produção de culturas agrícolas que estão entre as principais commodities e servem de base da segurança alimentar. Segundo o WRI, encontrar um equilíbrio entre esses dois recursos críticos será essencial, especialmente porque a população mundial não para de crescer – em 2050, seremos 9 bilhões de pessoas.

Confira a seguir os alimentos que estão mais expostos ao estresse hídrico

      <b>TRIGO</b><br>  Quase metade (43%) da produção mundial de trigo ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de trigo consome, em média, 1.827.000 litros de água por tonelada produzida Fernando Frazão / Veja Rio

TRIGO
Quase metade (43%) da produção mundial de trigo ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de trigo consome, em média, 1.827.000 litros de água por tonelada produzida

      <b>MILHO</b><br>  35% da produção mundial de milho ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de milho consome, em média, 1.222.000 litros de água por tonelada produzida stock.xchng

MILHO
35% da produção mundial de milho ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de milho consome, em média, 1.222.000 litros de água por tonelada produzida

<b>LARANJA</<b><br>  33% da produção mundial de laranjas ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de laranja consome, em média, 560.000 litros de água por tonelada produzida. stock.xchng

LARANJA
33% da produção mundial de laranjas ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de laranja consome, em média, 560.000 litros de água por tonelada produzida.

<b>CANA-DE-AÇÚCAR</b><br>  31% da produção mundial de cana-de-açúcar ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de cana-de-açúcar consome, em média, 210.000 litros de água por tonelada produzida. Divulgação

CANA-DE-AÇÚCAR
31% da produção mundial de cana-de-açúcar ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de cana-de-açúcar consome, em média, 210.000 litros de água por tonelada produzida.

<b>ARROZ</b>  29% da produção mundial de ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de arroz consome, em média, 1.673.000 litros de água por tonelada produzida. Divulgação

ARROZ

29% da produção mundial de ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de arroz consome, em média, 1.673.000 litros de água por tonelada produzida.

 
<b>CANOLA</b><br>  26% da produção mundial de canola ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de canola consome, em média, 2.271.000 litros de água por tonelada produzida Dercilio/ Revista Saude

CANOLA
26% da produção mundial de canola ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de canola consome, em média, 2.271.000 litros de água por tonelada produzida

 
<b>SOJA</b><br>  19% da produção mundial de soja ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de soja consome, em média, 2.145.000 litros de água por tonelada produzida tuli nishimura/Creative Commons

SOJA
19% da produção mundial de soja ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de soja consome, em média, 2.145.000 litros de água por tonelada produzida

<b>AVEIA</b><br>  13% da produção mundial de aveia ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de aveia consome, em média, 1.788.000 litros de água por tonelada produzida. Spencer Ritenour / Stock Xchng

AVEIA
13% da produção mundial de aveia ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de aveia consome, em média, 1.788.000 litros de água por tonelada produzida.

 
<b>CAFÉ</b><br>  10% da produção mundial de café ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de café consome, em média, 15.897.000 litros de água por tonelada produzida Alex Silva

CAFÉ
10% da produção mundial de café ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de café consome, em média, 15.897.000 litros de água por tonelada produzida

 
<b>CACAU</b><br>  5% da produção mundial de cacau ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de cacau consome, em média, 19.928.000 litros de água por tonelada produzida Stock Exchange

CACAU
5% da produção mundial de cacau ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de cacau consome, em média, 19.928.000 litros de água por tonelada produzida

 
<b>ÓLEO DE PALMA</b><br>  5% da produção mundial de óleo de palma ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de palma consome, em média, 1.098.000 litros de água por tonelada produzida oneVillage Initiative/Creative Commons

ÓLEO DE PALMA
5% da produção mundial de óleo de palma ocorre em áreas de alto a extremo estresse hídrico. Segundo o WRI, o cultivo de palma consome, em média, 1.098.000 litros de água por tonelada produzida

Fonte: Planeta Sustentável