Costa Rica, uma ‘democracia verde’ com desafios ambientais urgentes


 

Por Óscar Núñez

San José – A Costa Rica tem fama de "democracia verde", mas as pressões do crescimento multiplicaram sua dívida ecológica na última década, o que traz um desafio urgente para o governo que for eleito no domingo.

Os quase 2,5 milhões de turistas que visitam o país anualmente se encantam com a beleza de parques e reservas naturais, que constituem 25% do pequeno território costa-riquenho (51.100 km2), e nos quais se mantém uma rica biodiversidade.

A Costa Rica é o único país da América e um dos poucos no mundo a proibir a caça esportiva e conseguiu se manter livre da mineração a céu aberto e de explorações petrolíferas.

Mas as praias paradisíacas, as florestas e os imponentes vulcões escondem problemas que os especialistas apontam há tempos: a deficiente administração de áreas protegidas, a crescente contaminação do ar, do solo e das fontes d´água, entre outros.

Apesar dos problemas, considerados graves pelo movimento ecologista, o tema esteve praticamente ausente dos debates entre os candidatos presidenciais, embora seus programas de governo contenham algumas referências.

Ignorância ambiental

Os programas dos candidatos Johnny Araya, do governista Partido Libertação Nacional (PLN, direita), do jovem ecologista José María Villalta, da Frente Ampla (esquerda), e Luis Guillermo Solís, do Partido Ação Cidadã (PAC, centro), concordam em sua visão do problema.

Os três, junto do direitista Otto Guevara – que inclui em seu programa uma referência mínima ao tema ambiental -, são os que têm maiores possibilidades de vitória, segundo as pesquisas, que preveem um segundo turno.

Declarar o acesso à água como um direito humano e incluí-lo na Constituição; trocar a matriz do transporte urbano para diminuir a dependência dos combustíveis fósseis; manter a moratória sobre a mineração a céu aberto ou a proibir "ad perpetuam" por lei são algumas propostas.

Também há coincidência na necessidade de fortalecer as áreas protegidas, estabelecendo a obrigação do Estado de dotá-las de recursos para sua manutenção, assim como impulsionar políticas para prevenir e sancionar o corte ilegal de árvores.

Mas os ambientalistas lamentam a pouca concretização destas propostas e a ausência de um compromisso expresso dos candidatos em alcançar certas metas urgentes.

"Estamos preocupados com esta falta de concretização e a ignorância que demonstram os candidatos no tema ambiental em feral, em particular no que se refere à preservação marinha", resumiu Randall Arauz, ativista do Programa Restauração de Tartarugas Marinhas (Pretoma).

Dívida ecológica

O informe Estado da Nação de 2013, um respeitado estudo anual das universidades públicas, aponta que "na última década o país aumentou sua dívida ecológica de 3% em 2002 a 11% em 2012", o que significa que "cada costa-riquenho consumiu (em média) 11% a mais da capacidade do território".

Indica, ainda, que 96,4% das águas residenciais chegam aos rios sem qualquer tratamento, transformando a rede fluvial em uma espécie de esgoto a céu aberto.

Grupos ambientalistas denunciaram que as grandes plantações de abacaxi – fruta da qual a Costa Rica é o primeiro exportador mundial – estão provocando contaminação com agroquímicos e graves desequilíbrios ambientais em várias regiões do país.

Organizações como Pretoma asseguram que a Costa Rica viveu de costas para o mar, permitindo a exploração irracional dos recursos marinhos e a contaminação de seu litoral.

Mas o problema mais grave e difícil de reverter é a geração de gases de efeito estufa, que na última década aumentou 43,2%, devido principalmente ao rápido crescimento do parque automotivo, segundo o Estado da Nação.

"O ar está contaminado demais e falta autoridade dos governos da vez que permitiram este descontrole", disse à AFP Luis Diego Marín, coordenador da organização Preserve Planet.

Segundo Marín, as áreas de conservação também sofrem uma deterioração crescente porque o Estado não fornece os recursos necessários para sua manutenção.

O conflito social em torno do ambiente alcançou inclusive contornos de violência. O assassinato, no ano passado, do jovem ecologista Jairo Mora, protetor das tartarugas marinhas no Caribe, comoveu o país.

"Jairo vive", gritam os ambientalistas para exigir justiça e proteção, não só de recursos naturais, mas também dos que trabalham na conservação.

Fonte: Dom Total

Foto: Reprodução

Eleições de 2020 são cruciais para que EUA fique em dia com ação climática


Imagens de satélite de incêndios florestais no Alasca e Canadá (NASA/NOAA/AFP/Arquivos)

Se um democrata partidário de um new deal vencer Donald Trump nas eleições de 2020, os Estados Unidos poderiam reduzir pela metade suas emissões de gases de efeito estufa até 2030 em relação a 2005, a fim de cumprir com os objetivos do Acordo de Paris, segundo o grupo America’s Pledge.

Uma expansão significativa das ações climáticas a nível estadual, municipal e empresarial poderá reduzir as emissões de gases de efeito estufa dos Estados Unidos em até 37% para 2030 em relação aos níveis de 2005, inclusive sem apoio federal, segundo a projeção publicada pelo grupo na segunda-feira (9).

A eleição de um presidente que promova uma estratégia climática nacional integrada poderá reduzir as emissões em 49% até 2030, em torno dos níveis que os especialistas da ONU consideram necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris, a fim de evitar o aquecimento global.

O America’s Pledge é um grupo fundado em 2017 e financiado pelo magnata Michael Bloomberg, que neste mês anunciou que se candidatará para ser o candidato democrata para as eleições presidenciais de 2020.

Os especialistas climáticos citados no relatório, da Universidade de Maryland e do Rocky Mountain Institute, estimam que os Estados Unidos devem, seguindo a trajetória atual, reduzir as emissões em 25% até 2030 em relação a 2005.

Essa redução seria impulsionada principalmente pelas forças naturais do mercado, que favorecem cada vez mais as energias renováveis e desfavorecem o carvão, assim como as leis nos estados liderados pelos democratas, especialmente na Califórnia e em Nova York.

O melhor dos casos implicaria a eleição de um presidente democrata e uma maioria do congresso que adote um conjunto de leis sobre o setor energético e sobre os veículos, o que possibilitaria ao país alcançar a neutralidade de carbono para 2050.

Os cientistas consideram que é necessário limitar o aquecimento no longo prazo a 1,5 ou 2 graus em relação aos níveis pré-industriais.

“Temos tempo para ficarmos em dia com o objetivo de Paris, mas temos que avançar muito rapidamente”, disse na segunda-feira Carl Pope, vice-presidente da America’s Pledge, aos jornalistas antes da apresentação do relatório na conferência sobre o clima COP25 da ONU em Madri.

“Requer uma mudança revolucionária, mas essa mudança está ocorrendo”, acrescentou Pope.

“Portanto, precisamos de uma reinserção federal, idealmente precisamos dela em 2021, mas não deveríamos nos deter se não obtivermos”.

No sistema federal americano, os estados têm ferramentas para impor energias renováveis na produção local de eletricidade, por exemplo. Mas áreas muito importantes permanecem nas mãos do poder federal: normas automotivas, aviação, transporte marítimo, oleodutos, perfuração de hidrocarbonetos em terras federais, setor de energia e regulamentos para indústrias.

AFP